O Sermão Escatológico de Jesus

O Sermão Escatológico de Jesus também é conhecido como O Sermão do Monte das Oliveiras, devido ao local em que foi proferido. Esse sermão pode ser encontrado nos Evangelhos de Mateus (cap. 24), Marcos (cap. 13) e Lucas (cap. 21 e algumas referências no capítulo 17).

Para muitos estudiosos o Sermão Escatológico de Jesus, principalmente o relato do Evangelho de Marcos, é como um “Pequeno Apocalipse”. A verdade é que qualquer estudo escatológico que seja coerente com as Escrituras, obrigatoriamente, precisa considerar o Sermão Escatológico de Jesus. De forma resumida vamos analisar esse importante sermão de Cristo.

O Sermão Escatológico de Jesus – Diferentes Interpretações:

Reconheço que para muitos a interpretação desse sermão não é nada fácil, isso devido à variedade de eventos descritos e o período que as profecias de Jesus abrangem, algumas com dupla ou até tripla implicação dependendo do tipo de interpretação.

Basicamente existem cinco interpretações predominantes:

  1. Todo o sermão trata da destruição de Jerusalém em 70 d.C., portanto já se cumpriu totalmente;
  2. Todo o sermão trata da destruição de Jerusalém e do início da Igreja no dia de Pentecoste, portando praticamente tudo já foi cumprido restando apenas a consumação da pregação do Evangelho no mundo;
  3. A maior parte do sermão se refere à destruição de Jerusalém que já se cumpriu, porém a última parte se refere à Segunda Vinda Cristo que ainda se cumprirá;
  4. Todo o sermão trata da Segunda Vinda de Cristo e Julgamento Final, portanto nada se cumpriu;
  5. O sermão compreende o período desde a primeira vinda de Cristo, referindo-se à destruição de Jerusalém, até a segunda vinda de Cristo no fim dos tempos com o julgamento do mundo.

Particularmente creio que a interpretação mais coerente biblicamente seja a última interpretação apresentada acima.

O Sermão Escatológico de Jesus – Organização e Explicação:

Para analisarmos o conteúdo desse sermão, vamos utilizar o texto presente no Evangelho de Marcos no capítulo 13, pois ele apresenta uma organização mais clara para o nosso entendimento. Porém, a leitura dos textos de Mateus 24 e Lucas 21 é importantíssima para um estudo mais profundo, pois, juntamente com Marcos 13, eles se complementam.

Primeiramente vamos considerar que esse sermão abrange desde a Primeira Vinda de Cristo, com Sua morte e ressurreição, até a Sua Segunda Vinda. Logo, vamos dividi-lo em três períodos que são abordados nos relatos de Jesus:

  1. Período inicial que vai desde Sua Primeira Vinda até a destruição de Jerusalém e do Templo na década de 70 d.C.;
  2. Segundo período chamado de Princípio das Dores que abrange desde a destruição de Jerusalém até o início da Grande Tribulação;
  3. Terceiro período conhecido como a Grande Tribulação que terminará na Segunda Vinda de Cristo e o julgamento do mundo.

Esboço do Sermão Escatológico:

Embora em alguns versículos existam profecias que se referem a dois períodos, podemos fazer um esboço do Sermão Escatológico de Jesus em Marcos 13 da seguinte forma:

  1. Marcos 13:1-4: A destruição de Jerusalém e do Templo em 70 d.C.;
  2. Marcos 13:5-13: O Princípio das Dores;
  3. Marcos 13:14-23: A Grande Tribulação e a destruição de Jerusalém como tipificação dela;
  4. Marcos 13:24-27: A Segunda Vinda de Cristo e o Julgamento Final;
  5. Marcos 13:28-37: Exortação à vigilância.

A Destruição de Jerusalém e do Templo:

Mesmo dividindo o sermão da forma apresentada acima, existem referências à destruição de Jerusalém e do Templo em outras seções, principalmente em profecias de duplo cumprimento, ou seja, Jesus também usa a destruição de Jerusalém para tipificar os momentos associados a Sua Segunda Vinda. De forma resumida podemos pontuar esse evento da seguinte forma:

  • Jerusalém seria sitiada: esse cenário era bastante improvável para qualquer habitante da época por que se tratava de um momento de grande paz com o Império Romana garantindo a tranquilidade.
  • Jerusalém seria destruída: a cidade seria queimada e sua população dizimada. Esse evento seria o juízo de Deus sobre aquela geração. Após pouco mais de três anos de cerco, o exército romano invadiu Jerusalém e à destruíram. Estima-se que mais de 600 mil judeus foram massacrados.
  • O Templo seria destruído: Herodes havia começado a reconstruir o templo por volta de 19 a.C., e nessa época ele estava em fase de acabamento, com abundancia de ouro, mármore e madeiras finas entalhadas. Era uma construção realmente imponente (vers. 1), mas Jesus afirma: “Não ficará pedra sobre pedra”. Tal como já havia acontecido em 153 a.C. com Antíoco IV Epifânio, mais uma vez o templo seria profanado e destruído. Até hoje existe em Roma o Arco de Tito, erguido pelos romanos para comemorar esse evento, onde é retratado em ilustrações o templo sendo saqueado.
  • Dispersão: os sobreviventes desse momento terrível seriam espalhados pelo mundo todo e ficariam dispersos.

O Princípio das Dores:

Jesus relatou os acontecimentos que caracterizariam o Princípio das Dores:

  • Falsos profetas e falsos cristos: apareceriam muitos que iriam falar em nome de Cristo, quando não, afirmariam serem eles o Messias conseguindo enganar a muitos. A mensagem principal desses impostores será que o fim do mundo chegou. Essas pessoas começaram aparecer desde a época dos Apóstolos e perduram por toda a história do Cristianismo.
  • Guerras e desastres naturais: depois que Jesus disse que haveria guerras entre as nações, sempre, em algum lugar do mundo, houve uma guerra. Nunca mais existiu na terra um período de paz. Jesus também alertou sobre desastres naturais como terremotos, além de fome e pestes que assolariam a humanidade.
  • Pregação do Evangelho no mundo: nesse período chamado de Princípio das Dores também haveria a pregação do Evangelho por todo o mundo. Isso não significa que o Evangelho seria pregado a todas as pessoas, mas que seria anunciado a todos as nações. O termo grego usado é ethne, e pode ser traduzido como “etnias”, “nações” ou “tribos”. Essa propagação do Evangelho começou ainda com os Apóstolos e, hoje, praticamente em todas as nações, até mesmo nas mais fechadas ao cristianismo, existem missionários anunciando o Evangelho.
  • Perseguições: Jesus também disse que os cristãos seriam perseguidos, e que haveria grande ódio para com eles, sendo que muitos seriam levados à morte por causa do nome de Jesus. Tais perseguições poderiam ser tão intensas que os próprios familiares ficariam uns contra os outros e entregariam quem professa o nome de Cristo.

O interessante é que mesmo com todas essas coisas Jesus alertou que ainda não seria o fim. Esses acontecimentos seriam como contrações de parto e, conforme o fim fosse se aproximando, essas contrações ficariam mais intensas. Por isso a expressão “Princípio de Dores” descreve perfeitamente esse período.

A Grande Tribulação:

Apesar de Jesus também se referir ao cerco e destruição de Jerusalém, cujo qual essa parte da profecia já se cumpriu de forma primária incluindo o abominável da desolação, período de grande aflição na Judeia e o surgimento de falsos profetas e messias já naquela época, Jesus também se refere aos eventos do fim dos tempos que antecedem sua Segunda Vinda, ou seja, é a tipificação de um período futuro e, essas mesmas profecias, apontam para eventos que ainda ocorrerão como: a Grande Tribulação e o surgimento do Anticristo Escatológico com seu domínio mundial. Vejamos alguns pontos importantes:

  • Abominável da Desolação: citando o livro de Daniel, Jesus faz referência a três eventos distintos: 1) Antíoco IV Epifânio em 150 a.C.; 2) Destruição de Jerusalém e do Templo pelos romanos comandados pelo General Tito em 70 d.C.; 3) Surgimento do Anticristo Escatológico no período de Grande Tribulação. Nesse caso, essa profecia apresenta tripla aplicação. Todos os judeus conheciam a profecia do Profeta Daniel sobre a abominação que causa desolação, e também acreditavam que tudo já havia sido cumprido em 150 a.C. com Antíoco IV Epifânio que invadiu Jerusalém e profanou o templo sacrificando porcos no altar e colocando estátuas pagãs. Porém, falando aos seus discípulos, Jesus explica que novamente aquilo aconteceria (Jerusalém e o Templo seriam destruídos – quando isso aconteceu o paganismo romano e o culto ao imperador foi imposto aos judeus) e ainda faz uma terceira referência da mesma profecia que será cumprida no período que antecede a sua Segunda Vinda, isto é, o Abominável da Desolação do fim dos tempos é o que conhecemos como o Anticristo. Segundo o Apostolo Paulo, essa figura escatológica irá se manifestar em um período de grande Apostasia (2Ts 2:3-10).
  • Sofrimento nunca visto: não podemos desconsiderar o tamanho sofrimento enfrentado pelos judeus em 70 d.C., que, de acordo com os detalhes desse evento, seguramente podemos dizer que foi o mais intenso que eles já haviam experimentado até aquele momento, superando inclusive os períodos de exílio. É verdade também que os judeus já experimentaram um período ainda mais terrível que a década de 70 d.C. com o Nazismo liderado por Adolf Hitler, onde um número muito maior de judeus morreram. Isso serve para nos mostrar que, embora a destruição de Jerusalém tenha sido um período muito difícil, apenas tipifica um período futuro imaginavelmente pior, no caso o período final da presente era: a Grade Tribulação. Esse período será curto, porém não sabemos ao certo quanto durará. Se for considerado o capítulo 13 de Apocalipse pode-se inferir que esse período durará 42 meses (três anos e meio de um total de sete anos), porém geralmente os números presentes no livro de Apocalipse são simbólicos, o que acaba tornando impossível afirmar com certeza quanto tempo durará tal período. O que sabemos é que o Senhor irá abreviar aqueles dias por causa de Seus eleitos (Mc 13:20).
  • A Igreja: embora exista um entendimento entre muitos cristãos de que a Igreja não passará por esse período, tal entendimento não é encontrado no Sermão Escatológico de Jesus, bem como não possuí fundamentação sólida no ensino bíblico, ou seja, em Seu sermão Jesus afirma claramente que a Igreja passará por esse período, e que será um momento muito difícil para os cristãos, onde só iram perseverar aqueles que são verdadeiramente salvos em Cristo Jesus. Para saber mais sobre a Igreja e a Grande Tribulação leia nosso texto “A Igreja Passará Pela Grande Tribulação?“.
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A Segunda Vinda de Cristo:

Após o período de Grande Tribulação, Jesus afirma que ocorrerá a Sua Segunda Vinda (Mc 13:24). Esse momento será de grande alegria para a Igreja e de grande terror para os ímpios. Nesse período o Anticristo e seu sistema, estará exercendo um domínio mundial e perseguindo violentamente a Igreja, porém Jesus afirma que por causa dos eleitos aqueles dias foram abreviados (Mc 13:20). O Apostolo Paulo descreve o fim do período de Grande Tribulação com Cristo matando o Anticristo com o sopro de Sua boca (2Ts 2:8).

Jesus também esclarece que esse momento será visível a todos, pois Ele virá com grande poder e glória, cujo mundo não resistirá sendo que o sol escurecerá, a lua não brilhará mais, as estrelas cairão e as forças dos céus serão abaladas (Mc 13:25). Então Ele enviará os Seus anjos e reunirá todos os escolhidos. Sobre esse momento Paulo afirma que o Senhor descerá do céu com grande brado e os mortos em cristo ressuscitarão e os que estiverem vivos terão seus corpos transformados (1Ts 4:16,17). Cristo então reunirá os Seus, julgará o mundo e destruirá Satanás e seus anjos em condenação eterna.

Embora muitos falsos profetas já tenham tentando marcar a data da volta de Cristo, o próprio Jesus afirma que a hora somente o Pai conhece (Mc 13:32). Quanto a nós, precisamos estar vigilantes, aguardando ansiosamente esse momento tão glorioso (Mc 13:35).

Para concluir, quero deixar as palavras do apóstolo Pedro que esteve presente no momento do Sermão Escatológico, e escutou com seus próprios ouvidos as palavras que Jesus pronunciou. Em sua segunda Epístola, no capítulo 3, ele nos dá o seu entendimento sobre o sermão de Jesus, interpretando exatamente o que Jesus falou e testificando que Cristo voltará.

O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada.
Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é necessário que vocês sejam? Vivam de maneira santa e piedosa,
esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda. Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor.
Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça.
(2 Pedro 3:10-13)

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