Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens de Gênesis 6

Muito se discute sobre quem eram os filhos de Deus e as filhas dos homens de Gênesis 6. Os estudiosos da Bíblia realmente não conseguem entrar num acordo sobre este tema.

Existem várias opiniões sobre o assunto, porém três interpretações aparecem como principais. São elas:

  • Os filhos de Deus eram anjos caídos.
  • Os filhos de Deus eram descendentes de Sete que se casaram com descendentes de Caim.
  • Os filhos de Deus eram homens poderosos (governantes e nobres).

Abaixo veremos os detalhes de cada uma das três interpretações disponíveis.

Os filhos de Deus de Gênesis 6 eram anjos caídos?

A ideia de que os filhos de Deus de Gênesis 6 eram anjos caídos que tiveram relações com mulheres é a interpretação mais antiga e conhecida sobre o assunto. A principal defesa para essa interpretação é o fato de que no Antigo Testamento a expressão “filhos de Deus” pode se referir a anjos (Jó 1:6; 2:1; 38:7).

Outro ponto que reforça essa ideia é que antigos estudiosos hebreus, como Flávio Josefo, também apresentam essa mesma teoria. O livro pseudoepígrafo de Enoque igualmente defende tal interpretação.

No Novo Testamento, os textos mais utilizados para defender essa opinião estão em 2 Pedro 2:4 e Judas 1:6.

Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo;
(2 Pedro 2:4)

E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia;
(Judas 1:6)

De acordo com esta perspectiva, o resultado da união entre as mulheres (filhas dos homens) e os seres angelicais (filhos de Deus) resultou no nascimento de gigantes (no sentido literal). Esses gigantes teriam sido homens notórios e valentes da antiguidade.

Outro texto muito utilizado nessa defesa é Gênesis 19:5. Nele lemos sobre como os homens homossexuais de Sodoma queriam ter relações com os anjos que vieram destruir a cidade.

Com base nesta interpretação, estudiosos apresentam o tamanho da desobediência em relação aos mandamentos de Deus. Eles apontam para a possibilidade de ter existido uma raça mista cosmológicamente, ou seja, que não era 100% humana. Isto teria levado ao Dilúvio universal como forma de dizimar toda a humanidade, com exceção de Noé e sua família.

Para refutar esta interpretação, o texto mais utilizado é Mateus 22:30, onde Jesus diz que os anjos de Deus não se casam e nem são dados em casamento. Essa crítica é rebatida pelos simpatizantes desta teoria de que os filhos de Deus de Gênesis 6 são anjos com o seguinte argumento. Eles dizem que Jesus se referiu aos anjos do céu e não aos anjos rebeldes. Eles também alegam que o texto diz que os anjos não se casam, mas não diz nada sobre a impossibilidade de, em forma corpórea de homem, eles anjos poderem manter relações com mulheres.

Outra critica contra esta interpretação é a questão de que os textos do Novo Testamento de Pedro e Judas utilizados como defesa desta teoria, em momento algum tratam de casamentos angelicais. Além disso, esses textos em nenhum momento se propõem a explicar o evento antediluviano.

Também vale ressaltar que Gênesis 6 diz claramente que a atitude partiu dos “filhos de Deus” e não das “filhas dos homens”. Se essa mistura resultou no Dilúvio, deveria existir então alguma referência mais explicita no próprio livro de Gênesis sobre a punição a esses anjos que iniciaram tal perversidade.

Os filhos de Deus eram os descendentes de Sete?

Segundo esta interpretação, a descendência justa de Sete se misturou com a descendência ímpia de Caim. Em outras palavras, os homens da linhagem de Sete se casaram com as mulheres pagãs da linhagem de Caim. Nesta interpretação os nephilins (gigantes) resultaram dessa mistura religiosa. Esses homens não eram literalmente gigantes, mas homens ímpios e tiranos que alcançaram fama na antiguidade.

Um dos argumentos para sustentar esta interpretação é o contexto dos capítulos anteriores de Gênesis. Em Gênesis 4 é apresentada a geração perversa de Caim. Já em Gênesis 5 é descrita a descendência justa de Sete. Como sequencia, o capítulo 6 parece mostrar a mistura dessas duas linhagens, culminando numa civilização corrompida.

O problema com esta interpretação é que em nenhum outro lugar no Antigo Testamento os descendentes de Sete são chamados de “filhos de Deus”. Além do mais, a Bíblia não diz que todos os descendentes de Sete eram justos. Na verdade ela indica apenas alguns deles que de fato foram, como Enoque e Noé.

Outro ponto ainda mais discutível é a exigência de uma quebra de padrão de escrita no próprio capítulo 6. No versículo 1 a palavra “homens” parece se referir a humanidade de modo geral. Já no versículo 2, essa mesma palavra teria que se referir à descendência de Caim especificamente.

Por último, também é difícil de explicar por que apenas as mulheres descendentes de Caim é que se casaram com os descendentes de Sete. Provavelmente homens descendentes de Caim também se casaram com as mulheres descendentes de Sete.

Uma variação desta interpretação defende que os filhos de Deus e as filhas dos homens de Gênesis 6 são necessariamente sejam os descendentes de Sete ou Caim, mas que pessoas piedosas que uniram-se com pessoas pagãs. Então rapidamente todas essas pessoas estavam unidas praticando a maldade de uma forma abominável.

Os filhos de Deus eram homens poderosos?

Esta interpretação defende que a expressão “filhos de Deus” era usada como um título atribuído aos reis, governantes, nobres e homens poderosos da antiguidade no Antigo Oriente Próximo. Esses homens não seguiam os mandamentos de Deus. Ao invés disto, eles praticavam um governo injusto. Eles faziam o que bem entendiam na busca por poder e riquezas.

A união entre esses homens e as “filhas dos homens” não seria no sentido de realeza e plebe, ou num tipo de união mista religiosamente (homens justos e mulheres pagãs). Essa união seria no sentido de todo tipo de imoralidade. Eles começaram a praticar a poligamia e promoviam grandes orgias que banalizavam o sentido original e singular da relação homem e mulher inicialmente criado por Deus. Tudo isso serviu para disseminar uma depravação sem precedentes por toda a humanidade. Nesta interpretação, as “filhas dos homens” não seriam apenas as descendentes de Caim, mas as mulheres em geral.

De acordo com esta posição, nephilins está associado ao termo gibborim da raiz gibbor. Esse termo significa “homem de força”, “homem de poder” ou “homem de valor e riqueza”. Isto significa que não se tratavam de gigantes em estatura, mas homens poderosos que exerciam governo na antiguidade.

Outro argumento utilizado por quem defende esta posição é o de que a palavra hebraica Elohim não é empregada apenas para se referir a Deus no Antigo Testamento. Essa mesma palavra também é usada para se referir a juízes, magistrados ou homens em posição de destaque (Êxodo 21:6; Salmos 82:1, 82:6).

O crítica em relação a essa interpretação é que os nobres, reis e algumas autoridades, às vezes são chamados de “deuses”, e nunca de “filhos de Deus”. No entanto, crítica é rebatida com base em alguns antigos targumim aramaicos, que traduzem “filhos de Deus” como “filhos de nobres”. Outra critica é o fato de nephilins nessa interpretação não se referir a homens de grande estatura, já que em Números 13:33 o mesmo termo é utilizado para se referir às pessoas de grande estatura literalmente.

Existe também uma variação desta interpretação com relação aos gigantes, onde argumenta-se que o texto bíblico não diz que os nephilins nasceram da união entre os “filhos de Deus” e “filhas dos homens”. O escritor de Gênesis simplesmente informa que naquela época existiam gigantes na terra, apenas isso.

Gênesis 6 não diz quem são os filhos de Deus e as filhas dos homens

De fato o livro de Gênesis não se preocupa em esclarecer totalmente o assunto e revelar com exatidão quem eram os filhos de Deus e as filhas dos homens. Na verdade este nem mesmo é o foco principal do capítulo 6 de Gênesis. A mensagem principal do capítulo trata do estado deplorável que a humanidade se encontrava. O texto descreve como o homem estava explorando toda a potencialidade do pecado. A lei moral de Deus estava sendo completamente transgredida. Tudo isto resultou no juízo divino através do Dilúvio.

Mas em Gênesis 6 também podemos notar que o plano de Deus é eterno. Seus propósitos não mudam jamais! Aconteça o que for, sua promessa sempre será mantida. Isto fica claro quando lemos Gênesis 6 à luz de seu contexto mais amplo.

Gênesis 3:15 registra pela primeira vez na Bíblia uma menção ao plano de salvação. Logo após a Queda do Homem, Deus revelou sua graça ao informar que da semente da mulher Satanás seria esmagado. Em Gênesis 6 vemos a descendência da mulher totalmente corrompida e deprava. Aos olhos humanos parecia que a professa falharia, pois a humanidade deveria ser destruída. Contudo, ainda havia um justo. Noé achou graça aos olhos de Deus! Isto não aconteceu com base nos méritos pessoais de Noé, mas pela graça soberana de Deus. Em Noé Deus estava preservando o seu plano imutável.

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Então quem seriam os filhos de Deus e as filhas dos homens em Gênesis 6?

É bem difícil afirmar qual a linha de interpretação é mais correta. Na verdade pode-se dizer que é impossível eleger qualquer uma das interpretações como a posição oficial das Escrituras. Ao longo do tempo, importantes estudiosos têm se pronunciado de forma diferente sobre este tema. As opiniões ficam divididas porque existem fraquezas em todas as interpretações.

Particularmente acredito que a pior de todas as interpretações é aquela que diz que os filhos de Deus e as filhas dos homens são anjos se relacionando com mulheres. De fato não há qualquer embasamento bíblico para tal interpretação.

É verdade que Pedro e Judas falam sobre anjos rebeldes em suas epístolas. Mas em nenhum momento eles afirmam que tal rebeldia se refira ao relacionamento entre anjos e humanos. Também é verdade que os anjos, segundo a permissão de Deus, podem assumir forma humana de acordo com o evento em Sodoma. No entanto, isto nunca como precedente para relações sexuais entre anjos e mulheres. Também prefiro não acrescentar dupla interpretação às declarações de Jesus em Mateus 22:30 e Marcos 12:25.

Agora nos restam duas possibilidades. Os filhos de Deus e as filhas dos homens fazem referência aos descendentes de Sete e Caim? Ou será que fazem referência ao relacionamento entre homens poderosos e mulheres em geral?

O Novo Testamento até identifica os seguidores de Cristo como sendo “filhos de Deus” (Mateus 5:9; Romanos 8:14; Gálatas 3:26). Mas isto serviria para estabelecermos que a expressão “filhos de Deus” em Gênesis 6 também se refere aos representantes do verdadeiro culto ao Senhor? É difícil saber, pois o Novo Testamento usa essa expressão para indicar a adoção filial dos escolhidos de Deus em Cristo Jesus (Efésios 1:5); enquanto que em Gênesis 6 essa mesma expressão deveria misturar o conceito pessoas tementes a Deus a uma genealogia específica, a genealogia de Sete.

Talvez a melhor possibilidade seria tentar combinar as duas interpretações restantes. Existe a possibilidade de que os “filhos de Deus” de Gênesis tenham sido homens poderosos que acabaram promovendo um ambiente de terrível imoralidade por causa do poder e influência que desfrutavam. Essa depravação teria culminado, inclusive, numa mistura entre justos e pagãos que corrompeu a todos. Mas tudo não passa de uma especulação.

Os filhos de Deus de Gênesis 6 e os gigantes

Quanto à questão dos gigantes, o texto de Números 13:33 é bastante curioso nesse sentido. O texto mostra que ser fruto de um relacionamento entre anjos e mulher não é um pré-requisito para ser considerado alguém de grande estatura no sentido literal nas referências bíblicas. Se fosse esse o caso, teríamos que admitir que o mesmo problema de Gênesis 6 havia se repetido na época registrada no livro de Números.

Além disso, há também o conhecido personagem de grande estatura chamado Golias. Obviamente o gigante Golias não era filho de um anjo com uma mulher. Também não é possível dizer que os gigantes de Números ou mesmo Golias fossem descendentes desses homens pré-diluvianos. A Bíblia é clara ao afirmar que apenas Noé e sua família sobreviveram ao Dilúvio.

Também é importante dizer que mesmo os homens de grande estatura que a Bíblia se refere, não possuíam um gigantismo fantasioso. Golias, por exemplo, teria tido uma altura aproximada de 3 metros. Isto não é nada tão absurdo quanto o imaginário popular fantasia. Inclusive, já foi documentado a existência de um homem que alcançou cerca de 2,70 metros de altura em tempos modernos, algo bem próximo a estatura de Golias.

Então os gigantes que aparecem em Gênesis 6 provavelmente eram homens poderosos e de grande fama da antiguidade. Eram valentes que conseguiram tal reputação principalmente por serem impiedosos e maus.

Gênesis 6 não diz quem são os filhos de Deus e as filhas dos homens

De fato o livro de Gênesis não se preocupa em esclarecer totalmente o assunto e revelar com exatidão quem eram os filhos de Deus e as filhas dos homens. Na verdade este nem mesmo é o foco principal do capítulo 6 de Gênesis. A mensagem principal do capítulo trata do estado deplorável que a humanidade se encontrava. O texto descreve como o homem estava explorando toda a potencialidade do pecado. A lei moral de Deus estava sendo completamente transgredida. Tudo isto resultou no juízo divino através do Dilúvio.

Mas em Gênesis 6 também podemos notar que o plano de Deus é eterno. Seus propósitos não mudam jamais! Aconteça o que for, sua promessa sempre será mantida. Isto fica claro quando lemos Gênesis 6 à luz de seu contexto mais amplo.

Gênesis 3:15 registra pela primeira vez na Bíblia uma menção ao plano de salvação. Logo após a Queda do Homem, Deus revelou sua graça ao informar que da semente da mulher Satanás seria esmagado. Em Gênesis 6 vemos a descendência da mulher totalmente corrompida e depravada.

Aos olhos humanos parecia que a professa falharia, pois a humanidade deveria ser destruída. Contudo, ainda havia um justo. Noé achou graça aos olhos de Deus! Isto não aconteceu com base nos méritos pessoais de Noé, mas pela graça soberana de Deus. Em Noé Deus estava preservando o seu plano imutável. Realmente saber a identidade dos filhos de Deus e as filhas dos homens de Gênesis 6 em nada interfere em nossa compreensão dessa importante mensagem transmitida no capítulo.

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