A Degeneração da Liderança Sacerdotal em Israel

A degeneração da liderança sacerdotal em Israel foi evidente nos dias de exercício do sacerdócio de Eli. O velho sumo sacerdote de Israel não foi capaz de controlar e corrigir seus próprios filhos, e isso resultou em graves consequências não apenas à sua casa, mas a toda nação israelita.

Aqueles foram dias difíceis em Israel. No geral o período dos juízes foi marcado por altos e baixos. Apesar da manifestação freqüente do poder libertador de Deus em misericórdia do seu povo, os israelitas de forma recorrente se envolviam em práticas idólatras e transgrediam a Lei do Senhor. Mas a degeneração da liderança sacerdotal alcançou seu auge com os filhos de Eli; a ponto de até mesmo a Arca da Aliança ser capturada pelos inimigos de Israel.

A degeneração da casa de Eli

Eli já era um homem idoso quando seus filhos violaram deliberadamente os mandamentos morais e cerimoniais do Senhor. Por conta da limitação de sua idade avançada, provavelmente ele deixou cada vez mais o trabalho do Tabernáculo ao encargo de seus dois filhos: Hofni e Finéias.

Apesar de serem sacerdotes, esses dois homens não conheciam o Senhor; ao contrário, eram “filhos de Belial”. Essa expressão hebraica indica pessoas desprezíveis, inúteis, sem valor e que praticavam deliberadamente a iniquidade. Infelizmente os filhos de Eli se encaixavam nessa designação.

Eles ignoravam a prescrição da Lei quanto às porções dos sacrifícios que pertenciam aos sacerdotes, e tomavam toda carne que queriam. Inclusive, eles se apropriavam até mesmo das partes do sacrifício que pertenciam exclusivamente ao Senhor. Aqueles que deviam demonstrar zelo pelas coisas de Deus, desprezavam as ofertas do Senhor e escarneciam dos sacrifícios oferecidos no altar (1 Samuel 2:17,29).

Mas a degeneração da liderança sacerdotal da casa de Eli não parava por aí. Hofni e Finéias ainda se aproveitavam das mulheres que serviam voluntariamente à porta do Tabernáculo. Eles não tinham respeito por elas, mas dedicavam-se a seduzi-las (1 Samuel 2:22). Essa prostituição cultual era explicitamente condenada pela Lei (Deuteronômio 23:17,18). Entretanto, era uma prática comum entre os povos cananeus vizinhos de Israel. Isso mostra que os filhos de Eli estavam muito mais associados aos povos pagãos do que ao povo da aliança.

O comportamento inconsequente e depravado dos filhos de Eli era um mau exemplo para todo o povo. A fama de seu mau procedimento logo se espalhou entre os israelitas e eles faziam transgredir o povo do Senhor (1 Samuel 2:24).

O julgamento divino sobre a degeneração da liderança sacerdotal em Israel

Os filhos de Eli não sairiam impunes de seus pecados. A casa de Eli seria julgada pelo Senhor. A Bíblia não diz que o sumo sacerdote Eli esteve envolvido em práticas reprováveis no exercício de seu ofício. Mas ele tornou-se participante dos erros de seus filhos aos amá-los mais do que ter zelo pelo culto a Deus.

Quando ele tentou repreender Hofni e Finéias já era muito tarde (1 Samuel 2:22-26). Nisso ele se mostrou não ser um grande líder espiritual. Sua repreensão não surtiu qualquer efeito e ele não conseguiu corrigir a conduta de seus filhos impenitentes. Os dois homens chegaram num ponto de endurecimento irreversível ao arrependimento (1 Samuel 2:25).

Eles não respeitavam o Senhor e nem tinham qualquer consideração pela posição de seu pai como sumo sacerdote em Israel. Portanto, só restava o próprio Deus julgá-los e removê-los daquele lugar que deveria ser uma posição de honra no povo escolhido.

Deus enviou um profeta anônimo e anunciou o juízo sobre à casa de Eli (1 Samuel 2:27-36). Depois, mais uma vez Deus proclamou sua sentença através de Samuel, na primeira vez que o jovem profeta ouviu a voz do Senhor (1 Samuel 3:1-21).

Eli foi lembrado pelo Senhor que a posição que ele ocupava era uma dádiva divina. Era um privilégio para os sacerdotes se ocupar com todas as tarefas relacionadas ao culto a Deus. Mas Eli tinha negligenciado isso. Ele havia colocado seus filhos como prioridade acima do Senhor. Essa foi sua culpa, e por isso ele tomou parte nos pecados daqueles homens ímpios.

Consequentemente, Eli teve de ouvir que Deus removeria sua casa das posições principais do sacerdócio em Israel, e que seus descendentes morreriam na flor da idade. Além disso, o Senhor anunciou a morte de Hofni e Finéias, dizendo que suas vidas teriam fim no mesmo dia.

Uma esperança em meio à degeneração sacerdotal

Há um contraste muito claro no texto bíblico entre os filhos de Eli e o profeta Samuel. Enquanto os jovens sacerdotes eram ímpios, pervertidos e inescrupulosos, o menino Samuel crescia diante do Senhor (1 Samuel 2:21). Os filhos de Eli desprezavam o serviço a Deus, mas Samuel ministrava diligentemente perante o Senhor desde pequeno (1 Samuel 2:18). A ira de Deus era inevitável contra os filhos de Eli e resultaria em suas mortes, porém Samuel crescia em estatura e no favor do Senhor e dos homens (1 Samuel 2:25,26).

Isso mostra que a degeneração da liderança sacerdotal da casa de Eli não pôde frustrar os planos do Senhor. A casa de Eli estava em declínio, mas Deus já estava preparando e preservando Samuel para ser não somente seu profeta diante do povo, mas também ser sacerdote e juiz de Israel.

Além disso, ao falar da ruína da casa de Eli no sacerdócio hebreu, Deus anunciou que levantaria um “sacerdote fiel” (1 Samuel 2:35). Essa promessa foi cumprida primariamente na ascensão de Zadoque e sua família no ofício sacerdotal durante o reinado de Salomão; e plenamente na pessoa de Cristo, o verdadeiro Sumo Sacerdote fiel e eterno.