A declaração “amai os vossos inimigos” significa que os seguidores de Cristo devem demonstrar amor mesmo para com aqueles de quem não recebem nenhum afeto; ou melhor, aqueles que são declaradamente seus opositores.
A Bíblia diz que o cristão deve amar o próximo como a si mesmo (Mateus 22:39). Aqui alguém pode perguntar: “Quem é o meu próximo?”. Mas ao dizer: “amai os vossos inimigos”, o Senhor Jesus deixa claro que essa pergunta é inútil, pois não deve haver qualquer distinção nesse sentido. Isso significa que o crente deve amar o próximo como si mesmo, ainda que esse próximo seja o seu inimigo.
Quando Jesus disse: “amai os vossos inimigos”?
Jesus disse essas palavras durante o seu Sermão do Monte (Mateus 5:1-7:29). Ao dizer: “amai os vossos inimigos”, Jesus corrigiu um falso ensino dos escribas e fariseus que afirmava: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo” (Mateus 5:43).
É importante dizer que em nenhuma parte o Antigo Testamento ensina algo desse tipo. Na verdade aqueles que ensinavam tal coisa estavam deturpando a real mensagem expressa na Lei do Senhor que ensinava o amor, a misericórdia e a compaixão até mesmo para com os inimigos (cf. Êxodo 23:4,5).
Muito provavelmente eles utilizaram uma passagem do livro de Levítico de forma completamente distorcida. A passagem diz: “Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor” (Levítico 19:18).
Conforme o ensino dos escribas, o próximo citado nesse versículo significava exclusivamente “alguém do seu povo”, isto é, outro judeu. Então eles inferiam que tinham permissão para odiar àqueles que não faziam parte desse grupo.
Assim, eles odiavam os gentios a quem consideravam imundos; odiavam os samaritanos a quem consideravam um povo misturado e corrompido; e odiavam até mesmo outros judeus que não alcançavam o seu padrão de justiça, como por exemplo, os publicanos.
Nesse tipo de contexto não era incomum esperar que alguém pregasse abertamente o ódio aos inimigos. Por isso a declaração de Jesus: “amai os vossos inimigos” deve ter sido realmente chocante para seus ouvintes.
Como amar os inimigos?
Jesus não disse: “amai os vossos inimigos”, para que esse ensino ficasse apenas no campo teórico. Ao contrário, amar os inimigos deve ser uma prática distintiva na vida do verdadeiro cristão.
No próprio ensino do Senhor Jesus encontramos todas as instruções que precisamos para saber como podemos amar os nossos inimigos; não apenas da boca para fora, mas com ações concretas e efetivas.
Ele ensina que devemos fazer o bem aos que nos odeiam; abençoar os que nos amaldiçoam; orar pelos que nos maltratam; não alimentar a discórdia, mas oferecer a “outra face”; tratar os outros como queremos ser tratados; emprestar e doar sem esperar nada em troca; ser misericordiosos; e estar prontos a perdoar ao invés de condenar. A lista é realmente extensa (Mateus 5:38-48; 7:1,2,12; Lucas 6:27:38).
Na Parábola do Bom Samaritano o Senhor Jesus também traz um ensinamento muito claro e direto sobre qual deve ser o nosso comportamento diante de alguém necessitado. Nós devemos ser um bom próximo para aquele que Deus coloca em nosso caminho precisando de ajuda; seja ele quem for.
Inclusive, o próprio Senhor Jesus Cristo é o nosso maior exemplo de amor aos inimigos. Ele nos amou primeiro, antes que nós pudéssemos amá-lo de volta (1 João 4:19). Ele morreu por nós quando ainda éramos pecadores, quando ainda éramos inimigos de Deus (Romanos 5:8-10; Efésios 2:1-8).
Amar os inimigos é uma prova de que somos filhos de Deus
Devemos saber que quando Jesus ensinou que devemos amar os nossos inimigos e orar pelos nossos perseguidores, ele não estava nos pedindo algo impossível de ser feito. Ele não estava exigindo que fossemos apaixonados por aqueles que nos maltratam, mas que nos compadecêssemos de tais pessoas a ponto de orar pela salvação delas em vez de desejar-lhes o mal.
Além disso, que direito temos de odiar deliberadamente aqueles a quem julgamos serem maus, se o nosso Pai celeste “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos”? Mesmo Deus sendo absolutamente santo, Ele derrama as bênçãos de sua graça comum a todos. Então não é estranho querermos negar amor e compaixão àqueles que também são alvos das bênçãos de Deus? Não é estranho odiarmos àqueles a quem nosso Pai celestial revela sua bondade (Lucas 6:35-36)?
Como diz William Hendriksen, por meio da atitude de amar seus inimigos e orar por eles, os crentes podem comprovar a si mesmos e aos demais que são genuinamente filhos do Pai celestial. Somos feitos filhos de Deus pela graça por meio da fé; mas nosso comportamento e conduta obediente comprovam que, de fato, somos verdadeiramente filhos de Deus; visto que os filhos imitam seus pais (cf. Efésios 5:1,2).