Amar a Deus sobre todas as coisas significa que Deus deve ser prioridade em nossas vidas. Para nós, Deus deve ocupar o lugar mais alto entre tudo e todos, de modo que todo nosso ser esteja envolvido em reconhecê-lo, obedecê-lo e amá-lo da forma que lhe é apropriada.
Conforme o ensino do Senhor Jesus, amar a Deus sobre todas as coisas é o principal de todos os mandamentos. Citando a passagem de Deuteronômio conhecida na tradição hebraica como Shema, Ele diz: “Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Marcos 12:29,30; cf. Mateus 22:37).
A tradição judaica identifica 613 mandamentos contidos no Pentateuco. No tempo de Jesus, os rabinos estavam constantemente envolvidos em discussões legalistas quanto à interpretação e observância desses mandamentos. Eles também consideravam que dentre os 613 mandamentos, 248 eram afirmativos e 365 eram negativos. Mas Jesus sintetizou toda a Lei apontando para o amor; que primeiro deve ser dirigido a Deus e depois ao ser humano.
Por isso que, antes de tudo, devemos amar a Deus sobre todas as coisas; e então, ainda refletindo esse amor para com Deus, também devemos amar nossos semelhantes.
Amar a Deus de todo coração, alma, entendimento e força
De fato a frase “amar a Deus obre todas as coisas” não aparece exatamente dessa forma nas Escrituras. Mas obviamente ela é uma designação apropriada da doutrina bíblica sobre a forma com que devemos a amar o Senhor.
Isso fica evidente no mandamento de que temos que amar o nosso Deus de todo coração, de toda nossa alma, de todo nosso entendimento e de toda nossa força.
O teólogo do Novo Testamento W. Hendriksen explica que o coração é a sede do que move a existência humana; é a fonte de todos os pensamentos, palavras e ações. A alma se refere aquilo que envolve as atividades emocionais do ser humano. A mente, por sua vez, não é somente o centro da vida intelectual do homem, mas também de suas disposições e atitudes. Quanto à força, podemos dizer que ela é o vigor que leva todas essas coisas ao nível experiencial.
Mas não é necessário distinguirmos esses quatro elementos como funções humanas distintas e delimitadas. Na verdade não é o objetivo do ensino bíblico dividir o homem em quatro partes específicas (coração, alma, entendimento e força); mas simplesmente indicar que todo o ser do homem deve estar envolvido no amor para com Deus.
Como completa W. Hendriksen, o sentido de todas essas referências é que o ser humano deve amar a Deus com todas as faculdades que o Senhor lhe deu; e deve fazer isso por completo. Por isso o salmista escreve: “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR; e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome” (Salmo 103:1).
Em outras palavras, quando amamos a Deus sobre todas as coisas, não há um único aspecto da nossa pessoa que não esteja completamente comprometido com esse amor. Perceba que ao falar do exercício desse amor, Jesus repete quatro vezes a palavra “todo” – todo coração, toda alma, todo entendimento e toda força.
Portanto, amar a Deus sobre todas as coisas exige uma entrega total; exige uma rendição completa de tudo o que somos e possuímos. Em nosso amor para com Deus não deve haver espaço para qualquer dubiedade.
Como amar a Deus sobre todas as coisas?
Vimos que amar a Deus sobre todas as coisas significa consagrar-se totalmente a Ele. Mas como podemos amar a Deus dessa forma?
Em primeiro lugar, a Bíblia é muito clara ao dizer que por causa do pecado, a inclinação natural do coração do homem para com Deus não é o amor, mas o ódio. O apóstolo Paulo escreve que, por natureza, os homens são filhos da ira, filhos da desobediência, são inimigos de Deus (Efésios 2:2,3).
Mas a boa notícia é que Deus, “que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo” (Efésios 2:4,5). Então somos salvos pela graça, mediante a fé; e o resultado disso é que embora outrora fossemos inimigos de Deus, agora somos “feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras; as quais Deus preparou que andássemos nelas” (Efésios 2:8-10).
Isso significa que o homem só pode amar a Deus sobre todas as coisas por causa da obra vivificadora operada nele através de Cristo pelo poder do Espírito Santo. Então amar a Deus é também uma bênção decorrente da salvação; é um privilégio que flui da própria graça de Deus. O apóstolo João não deixa qualquer dúvida sobre isso. Ele escreve: “Nós o amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 João 4:19). Portanto, nosso amor para com Deus brota do próprio amor de Deus para conosco.
Em segundo lugar, provamos esse amor para com Deus quando vivemos em conformidade com a sua vontade revelada nas Escrituras. Lembre-se das palavras de Jesus: “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos” (João 14:15).
Em terceiro lugar, amar a Deus sobre todas as coisas jamais deve ser motivo de vanglória para o homem. Já vimos que a fonte do nosso amor para com Deus está no próprio Deus com a manifestação de sua graça; não em nós mesmos. Não podemos cair no erro dos fariseus, que faziam de sua devoção um espetáculo para a justiça própria.
O grande objetivo de amarmos a Deus sobre todas as coisas sempre deve ser a glória de Deus. Deus deve ser glorificado na forma como o amamos; e sua graça deve ser louvada e seu nome exaltado no modo como estamos comprometidos com Ele.