Antropomorfismo e antropopatismo são recursos de linguagem que atribuem características humanas a Deus com o objetivo de descrevê-lo. O antropomorfismo significa “em forma humana” – do grego antropos, “humano”, e morfe, “forma”. Já o antropopatismo significa “em sentimento humano” – do grego antropos, “humano”, e pathos, “sentimentos”.
Isso quer dizer que a linguagem antropomórfica atribui a Deus certas formas e características físicas humanas – olhos, boca, ouvidos, mãos, etc.; enquanto que a linguagem antropopática atribui sentimentos humanos a Deus – alegria, ira, arrependimento, etc.
A importância do antropomorfismo e do antropopatismo na Bíblia
Deus é infinito e nós somos seres finitos. Isso significa que, embora Deus seja cognoscível, nós não podemos compreendê-lo totalmente. Além disso, de fato há um distanciamento muito grande entre nós e Deus – tanto natural quanto espiritual e moral. Portanto, para que pudéssemos obter algum conhecimento de Deus, Ele falou a nós de uma forma inteligível.
Em seu amor, graça, misericórdia e bondade, Deus se comunica com o homem usando a linguagem do homem. Em outras palavras, podemos dizer que Deus desce ao nosso nível de comunicação para falar conosco em nossa própria linguagem. Como diz R. Sproul, Deus se comunica conosco como um pai fala com o seu filho pequeno.
Então o uso desse tipo de linguagem na Bíblia é muito comum e possui um objetivo pedagógico. Na verdade, o fato de Deus não falar conosco em Sua própria linguagem, mas ajustar a Sua comunicação à linguagem humana para ela seja inteligível para nós, significa que em certo sentido toda a linguagem bíblica é antropomórfica e antropopática, pois somos seres humanos e esta é a única linguagem que temos à nossa disposição.
Exemplos de antropomorfismo na Bíblia
O escritor de Provérbios aplica o antropomorfismo quanto escreve: “Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Provérbios 15:3). Perceba que ele fala do Senhor como que possuindo olhos.
O próprio Deus, através do profeta Isaías, usa a linguagem antropomórfica ao declarar: “Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés. Que espécie de casa vocês me edificarão? É este o meu lugar de descanso?” (Isaías 66:1).
O apóstolo Pedro também faz uso do antropomorfismo ao escrever a conhecida passagem bíblica: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte” (1 Pedro 5:6).
Nós sabemos que Deus é espírito (João 4:24). Mas nesses versículos os autores bíblicos atribuem características físicas a Deus como um recurso para que possamos compreendê-lo de alguma forma.
Exemplos de antropopatismo na Bíblia
No livro de Gênesis lemos uma das mais conhecidas passagens bíblicas que fazem uso do antropopatismo. O texto bíblico diz: “Arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração” (Gênesis 6:6). Veja que o escritor bíblico fala de Deus como tendo se arrependido.
O sábio escritor de Provérbios também adverte: “Estas seis coisas aborrece o SENHOR, e a sétima a sua alma abomina” (Provérbios 6:16).
Através do profeta Ezequiel, o próprio Deus também faz uso do antropopatismo em sua declaração: “Portanto, assim diz o Senhor JEOVÁ: Um vento tempestuoso a fenderá no meu furor, e uma grande pancada de chuva haverá na minha ira, e grandes pedras de saraiva, na minha indignação, para a consumir” (Ezequiel 13:13).
O cuidado ao interpretar a linguagem antropomórfica e antropopática na Bíblia
Nesses versículos vemos a aplicação de características físicas e sentimentos humanos a Deus como um recurso didático para que possamos compreender a revelação divina. Contudo, é preciso ter cuidado ao interpretarmos as linguagens antropomórficas e antropopáticas da Bíblia.
Jamais devemos nos esquecer de que essa é também uma linguagem analógica. Por exemplo: os sentimentos de Deus não são idênticos aos nossos, apenas semelhantes em algum aspecto. Em outras palavras, quando a Bíblia diz que Deus é bom, isso quer dizer que a bondade dele é semelhante à nossa bondade, mas não idêntica. Porém, ela é parecida de tal maneira que a Bíblia fala conosco sobre ela, e nós também podemos falar significativamente uns com os outros sobre ela.
Em alguns textos, esse princípio é fundamental para que possamos interpretá-los de forma correta. Por exemplo: como vimos, alguns textos bíblicos falam de Deus como que demonstrando arrependimento (1 Samuel 15:10,11,35). Mas a Bíblia também diz que Deus não se arrepende (1 Samuel 15:29).
Então devemos entender que quando os escritores bíblicos falaram de Deus se arrependendo, eles tinham em mente um sentimento essencialmente diferente do sentimento humano de arrependimento, mas que por causa das limitações de nosso conhecimento e linguagem, não havia uma forma mais inteligível de falar.
Então o correto é sempre estar atento que o antropomorfismo e o antropopatismo na Bíblia são, antes de tudo, linguagens analógicas. São descrições que trazem imagens de coisas que conhecemos e entendemos para que possamos compreender, ainda que por semelhança, alguns aspectos do ser de Deus.
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