As obras da carne são pecados graves que resultam da natureza pecaminosa do homem. Foi o apóstolo Paulo quem apresentou uma lista uma lista de praticas denominadas por ele como “obras da carne” ao escrever para os cristãos da Galácia (Gálatas 5:20,21). Neste estudo bíblico conheceremos quais são as obras da carne e qual o significado de cada uma delas.
O que significa “obras da carne”?
Para entendermos o significado da expressão “obras da carne”, precisamos primeiramente entender a forma com que o apóstolo Paulo utiliza a palavra “carne” em suas epístolas. No Novo Testamento, “carne” o grego sarx, O apóstolo usa esse termo em pelo menos três sentidos:
- Num sentido geral, se referindo simplesmente à humanidade.
- Num sentido mais específico, se referindo ao aspecto físico e material da vida humana.
- Num sentido ainda mais específico, se referindo à natureza humana depravada e corrompida pelo pecado. Neste caso inclui a mente e a alma do homem.
Falando sobre as obras da carne no capítulo 5 da Carta aos Gálatas, é evidente que Paulo está aplicando a palavra “carne” para se referir à natureza humana pecaminosa. Inclusive, ele estabelece um contraste especial entre “carne” e “Espírito”, do grego pneuma.
O que são as obras da carne?
Neste ponto já ficou claro que as obras da carne são vícios originados da própria natureza humana caída. Antes de falarmos sobre quais são as obras da carne, precisamos entender que a lista apresentada na Carta aos Gálatas possui semelhanças com outras listas também elaboradas por Paulo em outras ocasiões (Romanos 1:18-32; 13:13; 1 Coríntios 5:9-11; 6:9; 2 Corintios 12:20,21; Efésios 4:19; 5:3-5; Colossenses 3:5-9; 1 Tessalonicenses 2:3; 4:2-7; 1 Timóteo 1:9,10; 6:4,5; 2 Timóteo 3:2-5; Tito 3:3,9,10).
A referência de 2 Coríntios 12:20,21, por exemplo, possui notável semelhança com a lista apresentada em Gálatas 5:19-21, apesar de também haver algumas diferenças naturais.
Na lista registrada em Gálatas, a qual estamos estudando aqui, o apóstolo mencionou quinze elementos reputados como “obras da carne”. Devemos também notar que esta relação é representativa, ou seja, não pretende ser exaustiva. Isto significa que o apóstolo selecionou algumas práticas pecaminosas para representar as obras da carne. Isto fica claro ao final da lista das obras da carne, quando o próprio apóstolo conclui dizendo: “e coisas semelhantes a estas” (Gálatas 5:21).
A seleção de itens apresentada por Paulo apresenta algumas sobreposições. Isto significa que há elementos que, de alguma forma, por sua similaridade, se repetem. No entanto, depois te termos que a lista das obras da carne é representativa, podemos perceber que de modo mui sábio o apóstolo organizou os quinze itens citados nesta lista em quatro grupos principais. Estes grupos praticamente representam a base da qual todos os outros pecados derivam. São eles:
- Pecados relacionados à imoralidade: prostituição, impureza e lascívia.
- Pecados relacionados aos falsos deuses: idolatria e feitiçaria.
- Pecados relacionados à rivalidade: inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções e invejas.
- Pecados relacionados aos excessos: embriaguez e glutonaria.
Análise das obras da carne
Podemos fazer as seguintes considerações sobre as obras da carne citadas por Paulo:
- Prostituição: também podendo ser traduzido como imoralidade, é um termo utilizado pelo apóstolo em outras passagens (1 Coríntios 5:1; 6:13,18; 7:2; 2 Coríntios 12:21; Efésios 5:3; Colossenses 3:5; 1 Tesalonicensses 4:3) e que se refere a toda espécie de relações sexuais ilícitas.
- Impureza: um conceito bastante abrangente que está diretamente ligado à imoralidade. Este conceito inclui não só as ações, mas também as palavras, pensamentos e intenções impuras.
- Lascívia: uma palavra que também pode ser traduzida como indecência ou libertinagem, e que também foi utilizada por Paulo em outras epístolas (Romanos 13:13; 2 Coríntios 12:21; Efésios 4:19). Este termo enfatiza, principalmente, a falta de domínio próprio, onde a pessoa se entrega totalmente aos seus próprios desejos pecaminosos sem qualquer decência. Saiba mais sobre o que significa lascívia.
- Idolatria: um termo que não se refere apenas à adoração de imagens. A idolatria inclui toda prática de adoração e culto à falsos deuses, pessoas, objetos ou a qualquer coisa que desvie a adoração ao verdadeiro Deus. Aqui também há uma ligação com os pecados relacionados à imoralidade, visto que no paganismo da época havia muitos cultos e rituais completamente fundamentados na imoralidade sexual.
- Feitiçaria: esta palavra traduz o termo grego pharmakeia, que basicamente não possui conotações morais. Palavra “farmácia” em português, por exemplo, deriva deste mesmo termo através do latim. Este termo grego pode ser traduzido como “droga” (remédio), “veneno” ou “poção”, enfatizando a manipulação destes elementos. Assim, na antiguidade e também na época de Paulo, uma pessoa que manipulava drogas era muitas vezes identificada como um “mago”. Portanto, o termo é aplicado pelo apóstolo no sentido de bruxaria, onde pessoas buscam em fórmulas, poções e encantamentos, um poder sobre-humano, refletindo a fé num tipo de magia ao invés da confiança em Deus. O apóstolo aplicou este termo em estreita conexão com a idolatria.
- Inimizades: se refere à hostilidade e antipatia (cf. Efésios 2:16).
- Porfias: se refere a disputas, discórdias, rixas, busca pela superioridade sobre os outros e contendas (cf. Romanos 1:29; 13:13; 2 Coríntios 12:20; Filipenses 1:15; 1 Timóteo 6:4; Tito 3:4).
- Ciúmes: Paulo menciona este termo em conexão com as “disputas” (cf. Romanos 13:13; 1 Coríntios 3:3; 2 Coríntios 12:20). Isto significa que o ciúme do qual o apóstolo fala, está relacionado ao egocentrismo que reflete o ressentimento e a inveja pela realização de outras pessoas.
- Iras: o apóstolo segue o mesmo raciocínio do vício anterior quando aplica este termo. Ele está diretamente relacionado às inimizades, porfias e ciúmes que resultam certamente em explosões de ira (cólera).
- Discórdias: aplicado no sentido de “ambições egoístas”, isto é, disputas pelo poder. Esse tipo de comportamento resulta sempre em reações contrárias às opiniões de outras pessoas (cf. Romanos 2:8; 2 Coríntios 12:20; Filipenses 1:17; 2:3).
- Dissensões: resulta das discórdias mencionadas acima, ou seja, os homens levados por motivos egoístas buscam honras para si mesmos a qualquer custo (cf. Romanos 16:17).
- Facções: também aparecem como resultado natural da sequência de vícios descrita pelo apóstolo, onde grupos se formam e tramam uns contra os outros ameaçando a unidade da Igreja. Esse comportamento implica em intrigas partidárias (cf. 1 Coríntios 11:19). O termo utilizado por Paulo aqui é o grego hairesis, “heresia”. Saiba mais sobre o que é heresia.
- Inveja: se refere ao sentimento de descontentamento pelo o que o outro é ou possui. Esse é um tipo de sentimento que leva a pessoa a consumir-se (cf. Romanos 1:29; Filipenses 1:15; 1 Timóteo 6:4; Tito 3:3). Na Bíblia encontramos vários textos que apontam para o perigo da inveja, como no caso da morte de Abel por Caim, ou na forma com que José foi tratado pelo seus irmãos.
- Embriaguez: se refere às manifestações de descontrole e intemperança ocasionados por bebidas embriagantes (cf. Romanos 13:13; Lucas 21:34).
- Glutonaria: o termo aplicado por Paulo se refere ao estilo de vida desenfreado e extravagante, que pode ser traduzido nas típicas orgias do paganismo da época.
Qual o perigo das obras da carne?
O apóstolo Paulo faz uma grave exortação quanto ao perigo das obras da carne. Sobre isso, ele escreve que “não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gálatas 5:21).
Com isto o apóstolo está dizendo que quem não vive segundo o Espírito, ou seja, quem se entrega às práticas da natureza pecaminosa, não participará da consumação do reino de Deus quando Cristo voltar. Essas pessoas não serão excluídas do reino porque suas obras foram más, visto que a salvação não é por obras, mas serão excluídas porque suas obras demonstraram que na verdade elas nunca foram regeneradas verdadeiramente.
Por que Paulo citou exatamente esses vícios como obras da carne?
Como já dissemos, a lista das obras da carne é representativa. Portanto, ela representa todos os vícios e práticas comuns da natureza humana pecaminosa. Apesar disto, bons expositores do Novo Testamento concordam que o apóstolo mencionou esses itens específicos porque naquele contexto era necessário que fossem mencionados. Isto significa que alguns destinatários da Epístola aos Gálatas ainda lutavam contra a prática destes males.
Além disso, tal lista também pertence à exposição feita por ele sobre a superioridade do verdadeiro Evangelho da graça frente ao falso evangelho. Esse falso evangelho era pregado pelos legalistas que insistiam que apenas a fé em Cristo Jesus não era suficiente para prover a salvação.
Em outras palavras, Paulo estava enfatizando que o julgo e as restrições do legalismo não eram capazes de nos fazer obedecer à vontade de Deus e renunciar as obras da carne. Então ele ensina que somente Espírito Santo é quem pode nos capacitar a viver para Cristo da maneira correta. Saiba mais sobre o que é o fruto do Espírito.
Ao falar sobre as obras da carne, Paulo também está nos advertindo sobre o equilíbrio entre a liberdade e a responsabilidade. Nós nunca devemos confundir a liberdade que desfrutamos em Cristo frente às restrições da Lei, com a libertinagem. Nós somos livres, mas jamais devemos ser libertinos. A verdadeira liberdade em Cristo pode ser vista no fruto do Espírito, enquanto a libertinagem pode ser vista nas obras da carne.