O cantor-mor era o líder da música na adoração de Israel nos tempos bíblicos do Antigo Testamento. Isso significa que o cantor-mor era um mestre de canto, ou seja, o músico chefe ou diretor do coral que se ocupava de entoar louvores a Deus durante a liturgia judaica.
Mesmo antes de a figura do cantor-mor aparecer na narrativa bíblica, não há dúvidas a respeito da forte ligação da música com a cultura hebraica. Os israelitas tinham o costume de expressar suas emoções através de canções e melodias. Essas canções podiam se referir a conquistas militares, realizações notáveis na execução de certos trabalhos, acontecimentos históricos, experiências pessoais e propósitos religiosos. É nessa última categoria que o cantor-mor estava envolvido.
Os israelitas cantavam tanto coletivamente quanto individualmente. Assim, por exemplo, eles cantaram sobre o grande livramento que Deus lhes deu quando tirou todo o povo do Egito (Êxodo 15:1-21); cantaram quando encontraram água em Beer (Números 21:16-20); cantaram quando os cananeus foram derrotados no tempo de Débora (Juízes 5:1-31); e cantaram quando Davi derrotou Golias (1 Samuel 18:6,7).
Inclusive, muitos estudiosos dizem que antes do tempo do reinado de Davi, eram principalmente as mulheres que estavam envolvidas com a música em Israel. Os exemplos de Miriã, Débora e das mulheres que celebraram com música os feitos do jovem Davi, parecem apontar para isso.
Mas foi justamente a partir do reinado de Davi que a música passou a estar mais formalmente relacionada ao culto a Deus em Israel. Músicos e cantores foram treinados para assumirem profissionalmente as ocupações musicais na adoração. Então o cantor-mor parece ter sido um tipo de ministro que liderava esses músicos.
Referências ao cantor-mor na Bíblia
A Bíblia registra que o rei Davi, durante o seu reinado, fez mudanças substanciais na adoração religiosa em Israel. Seu principal objetivo era centralizar a adoração em Jerusalém, o local que abrigaria o futuro templo. Davi então nomeou representantes da tribo de Levi para servirem como cantores e músicos na adoração israelita (1 Crônicas 15:16).
Dessa forma, compor e executar cânticos tornou-se parte importante do culto. O próprio Davi compôs vários cânticos que foram endereçados ao cantor-mor para que ele cuidasse da parte da execução musical. Muitos desses cânticos estão registrados no livro de Salmos no Antigo Testamento.
É por isso que as principais referências ao cantor-mor na Bíblia ocorrem exatamente nos títulos de vários salmos bíblicos – em mais de cinqüenta salmos. Inclusive, em muitos desses títulos há ainda algumas observações sobre como o salmo deveria ser entoado (no aspecto rítmico e de arranjos) e quais instrumentos deveriam ser utilizados.
Então os levitas eram treinados e organizados adequadamente para exercer tal função (1 Crônicas 25). A Bíblia cita alguns nomes de pessoas que lideraram a musica na adoração em Israel, como: Etã, Hemã, Asafe e outros (1 Crônicas 15:19; 16:41; 2 Crônicas 35:15).
O trabalho do cantor-mor no templo
Com a construção e a dedicação do templo durante o reinado do rei Salomão, os músicos e cantores profissionais continuaram envolvidos com o culto ao Senhor. Parece que enquanto tocavam ou cantavam no templo, esses músicos se vestiam de linho fino e ficavam posicionados “para o oriente do altar” (2 Crônicas 5:12).
A participação desses levitas como músicos e cantores no templo continuou durante o restante da monarquia em Israel, e em algumas famílias parece ter sido um ofício hereditário – como na família de Asafe (Esdras 2:41). Isso explica por que muito tempo depois de Davi o profeta Habacuque registrou uma oração que deveria chegar ao cantor-mor com instruções para ser executada com instrumentos de cordas (Habacuque 3:19).
Quando o rei Nabucodonosor invadiu Jerusalém, ele destruiu o templo e levou o povo judeu ao exílio. Mas ao fim do cativeiro babilônico, entre os exilados que retornaram à cidade de Jerusalém estavam muitos cantores (Esdras 2:41; 10:24; Neemias 7:44). Obviamente isso indica que a posição de cantor-mor continuou existindo na adoração do segundo templo.