A caverna de Adulão foi o local em que Davi se refugiou quando precisou fugir da perseguição de Saul. Adulão era uma cidade cananita que ficava no território de Judá, na região normalmente designada como Sefelá. O significado de Adulão talvez esteja relacionado à ideia de “refúgio”.
Provavelmente Adulão ficava localizada entre Gate e Hebrom, cerca de vinte e cinco quilômetros ao sudoeste da cidade de Jerusalém. Nas proximidades de Adulão havia várias cavernas ou grutas. Foi numa dessas cavernas de Adulão que Davi e seus homens ficaram durante algum tempo.
Adulão na Bíblia
Adulão aparece na Bíblia relacionada a outras cidades de Canaã (cf. Josué 12:15; 15:35). Nos tempos do reino dividido, a cidade de Adulão foi fortificada por Reoboão (2 Crônicas 11:7).
O livro de Neemias também informa que Adulão foi habitada após o exílio judeu na Babilônia (Neemias 11:30). O profeta Miqueias cita Adulão em sua profecia ao dizer: “Enviar-te-ei ainda quem tomará posse de ti, ó moradora de Maressa; chegará até Adulão a glória de Israel” (Miqueias 1:15).
Essa profecia está inserida num contexto de lamentação. Nela, o profeta relembra o episódio de Davi em Adulão. Então basicamente ele diz que da mesma forma como Davi fugiu para a caverna de Adulão, igualmente os líderes de Israel também fugirão. Assim, a expressão “glória de Israel” é uma referência aos líderes de Israel.
Há dois salmos que parecem estar particularmente conectados à história de Davi na caverna de Adulão. O primeiro deles é o Salmo 57. Esse salmo consiste num hino de Davi quando fugia de Saul numa caverna. O salmo não diz que a caverna era em Adulão, mas grande parte dos intérpretes acredita que sim.
O segundo deles é o Salmo 142. O título do salmo diz que ele se trata de uma oração que Davi fez ao Senhor enquanto estava numa caverna. Mais uma vez o texto poético não esclarece se o local era a caverna de Adulão.
Davi na caverna de Adulão
Antes de tornar-se oficialmente rei de Israel, Davi acabou despertando o interesse e também o ódio de Saul. Enquanto ainda era um pastor, Davi derrotou o gigante Golias (1 Samuel 17). A fama de Davi cresceu entre os israelitas e Saul ficou enciumado.
Consequentemente, Davi precisou fugir da presença do rei Saul. Primeiramente ele foi para Nobe. Ali ele convenceu o sacerdote Aimeleque a lhe dar suprimento e também a espada de Golias. Em seguida, Davi foi buscar refúgio em Gate, recorrendo ao rei filisteu Aquis. Mas as circunstâncias forçaram Davi a continuar com sua fuga. Foi nesse contexto que Davi chegou à caverna de Adulão.
Na caverna de Adulão Davi se encontrou com sua família. Os estudiosos indicam que o encontro de Davi com seus familiares se deu, principalmente, por causa da cólera de Saul. O rei de Israel que havia sido reprovado pelo Senhor estava muito enfurecido. O episódio em que Saul assassinou todos os sacerdotes de Nobe revela com precisão seu espírito violento (1 Samuel 22:6-19). Isso significa muito claramente que Saul não estava disposto a poupar ninguém que estivesse ao lado de Davi.
Mas não foi apenas a família de Davi que o encontrou na caverna de Adulão. Curiosamente outros três grupos de pessoas se reuniram ali.
O primeiro grupo, segundo o texto, era formado por homens que “se achavam em aperto”. Essa expressão se refere a pessoas perseguidas, assim como Davi. O segundo grupo era formado por homens endividados. Talvez aqui a referência seja a homens que tinham se tornado escravos por causa de enormes dívidas, mas que abandonaram a condição serviu para se juntarem a Davi na caverna de Adulão. O terceiro grupo era formado por homens “amargurados de espírito” (1 Samuel 22:2).
Ao todo se juntaram a Davi cerca de quatrocentos homens que ficaram sob sua liderança. O famoso grupo conhecido como “valentes de Davi” estava diretamente relacionado a esse episódio na caverna de Adulão (cf. 1 Crônicas 11:15). Depois, Davi tratou de levar seus familiares para Moabe e acampou na fortaleza conhecida como Massada (1 Samuel 22:4).
O significado da caverna de Adulão
A história de Davi na caverna de Adulão frequentemente é usada de forma forçada em pregações e estudos bíblicos. Muitas pessoas tentam atribuir significados específicos aos acontecimentos que se deram na caverna de Adulão e acabam caindo no erro da alegoria.
É preciso lembrar que o texto de Adulão, antes de tudo, é um registro de um acontecimento histórico. Então seu significado principal é simplesmente aquele facilmente percebido em sua leitura natural. Isso quer dizer que a caverna de Adulão não possui um significado profético específico. Se esse fosse o caso, certamente o Novo Testamento teria feito essa conexão.
Mas claro que podemos usar o episódio de Davi na caverna de Adulão como um recurso de comparação a algum aspecto do contexto da Igreja do Novo Testamento. J. C. Ryle, por exemplo, faz isto ao usar o que aconteceu na caverna de Adulão como uma ilustração das circunstâncias experimentadas pela Igreja de Cristo na era presente.
Ele basicamente diz que assim como Davi, quando esteve na caverna de Adulão, na Era presente Cristo e seu povo também se encontram desprezados, perseguidos e considerados insignificantes pelo mundo. Mas Davi não sucumbiu na caverna de Adulão. Ao contrário! Tão logo a promessa de Deus se cumpriu e ele foi recebido como rei de todo Israel.
Da mesma forma, a promessa de Deus acerca da consumação de todas as coisas se cumprirá, e seu reino de glória será manifestado em toda sua plenitude. Então aqueles que hoje tomam cada um a sua cruz e compartilham do sofrimento de Cristo, em breve estarão glorificados com Ele na bem-aventurança eterna (Romanos 8:17).
Outros comentaristas também enxergam semelhanças entre a caverna de Adulão e a Igreja no sentido de que, tal como ocorreu naquela caverna onde Davi esteve, na Igreja também se reúnem pessoas oprimidas, aflitas, devedoras e desprezadas que se juntam em genuína fé não a Davi, mas ao grande Filho de Davi.
A lição de Davi na caverna de Adulão
Por último, não podemos nos esquecer dos Salmos 57 e 142. Se esses salmos foram compostos por Davi enquanto ele esteve escondido na caverna de Adulão, então eles dizem muito claramente que o verdadeiro refúgio do salmista não era aquela mera caverna.
No Salmo 57 ele diz: “Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia, pois em ti a minha alma se refugia; à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades” (Salmo 57:1).
Já no Salmo 142 a mesma devoção é mantida: “Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse. A ti clamo, SENHOR, e digo: tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes” (Salmo 142:5). Embora fosse fugitivo na caverna de Adulão, Davi estava refugiado em Deus.