A Bíblia diz muito sobre a política, de modo que este é um assunto que deve ser tratado com grande atenção dentro das comunidades cristãs. Infelizmente existe muita negligência nessa área entre os cristãos por causa de um despreparo fundamentado em certos estereótipos.
Há certos conceitos entre os cristãos que prejudicam muito a compreensão do parecer bíblico acerca da política. Alguns pensam que o verdadeiro cristão jamais deve participar da política. Outros vão mais além, e veem a política como algo demoníaco a que todo cristão deve se opor. Há também os que dizem que o cristão não deve se envolver com política porque ela é terrena e Jesus está voltando.
Também há aqueles que querem tratar de política, mas acabam tomando um posicionamento igualmente errado e prejudicial. Entre estes estão aqueles que afirmam que cristão só vota em cristão. Dentro de muitas comunidades cristãs é afirmado que somente o crente pode ser um bom político.
Mas como o cristão deve enxergar a política? Como a ética cristã fundamentada da Palavra de Deus deve pautar o posicionamento político do cristão? Vejamos neste estudo alguns breves princípios básicos sobre o assunto.
A soberania de Deus e a política
Ao falar sobre ética cristã e política, em primeiro lugar o cristão deve entender que somente Deus é totalmente soberano. Ele é o supremo Criador e Rei! Ele é Aquele que governa e controla todas as coisas segundo seus propósitos. Como Senhor do universo, Deus controla e dirige a História. Ele tem misericórdia de quem Ele quer, e endurece a quem Ele quer (Romanos 9:18). Seu governo é justo e santo, de acordo com a perfeição de sua natureza e caráter.
Mas o Deus soberano também instituiu algumas esferas dentro da sociedade civil, cada qual com sua autoridade; como por exemplo: o Estado, a família, a Igreja, a cultura, a escola etc. Não há hierarquia entre essas esferas, ou seja, uma não depende da outra para existir; mas elas ocupam tal posição que uma delimita a outra.
Então essas esferas são soberanas, mas sua soberania está debaixo da autoridade Divina. Isso significa que em última análise a autoridade de cada uma dessas esferas sociais é subsidiada da própria autoridade Divina. Sim, a autoridade de Deus se estende em todas as esferas da vida em sociedade.
Isto pode chocar algumas pessoas que pensam que Deus só se ocupa da Igreja, enquanto Satanás é quem possui o poder sobre as demais áreas. Como inimigo de Deus, de seus propósitos e de seu povo, Satanás age nas diferenças esferas. Mas jamais sua ação destrona a autoridade Divina.
Se uma única molécula do cosmos não fosse submetida à autoridade Divina, então Deus não seria soberano. Entender que somente Deus tem poder absoluto é o primeiro passo para uma visão bíblica adequada acerca da política. Entenda melhor a doutrina da providência Divina.
O propósito da política e da autoridade social
Em segundo lugar, com base na verdade do poder absoluto de Deus, é fácil perceber o propósito para o qual Deus institui o Estado e suas autoridades. A Escritura não deixa qualquer dúvida acerca disto. Um dos textos mais claros nesse sentido foi escrito pelo apóstolo Paulo. Em sua Carta aos Romanos, o apóstolo expõe a doutrina bíblica acerca da instituição, da legitimidade e da atuação das autoridades políticas.
O apóstolo diz que os governantes são servidores da vontade Divina com o objetivo de promover o bem e suprimir o mal. Os governantes possuem autoridade para aplicar a justiça, retribuindo os bons e punindo infratores (Romanos 13:1-3; 1 Pedro 2:14).
O próprio Senhor Jesus indicou a legitimidade da autoridade política. Diante de Pôncio Pilatos, o governador da Judeia, Jesus disse: “Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado” (João 19:11). O Antigo Testamento também aponta nessa mesma direção. Na Babilônia o profeta Daniel declarou que Deus é quem remove reis e estabelece reis (Daniel 2:21).
A Igreja e a política
Em terceiro lugar, a ética cristã defende a completa separação entre Igreja e Estado. Como já foi dito, Igreja e Estado constituem esferas diferentes e separadas.
O Estado possui sua função e seu serviço diante de Deus e de toda a sociedade; bem como a Igreja também exerce a sua função e ocupa o seu lugar designado por Deus. Os papeis do Estado e da Igreja jamais devem se misturar. O Estado nunca deve fazer aquilo que compete a Igreja, bem como a Igreja não deve fazer aquilo que compete ao Estado.
Contudo, é sempre bom lembrar que apesar da completa distinção entre Igreja e Estado, o cristão deve manter em mente que Deus é a fonte de toda a autoridade; tanto da Igreja, quando do Estado.
Por isto, a ética cristã entende que a Igreja relaciona-se com o Estado apenas na área da preservação da moralidade. Nesse sentido, num tipo de função profética, a Igreja serve de arauto que proclama o padrão moral exigido por Deus com base em sua Palavra. A Igreja deve lembrar todas as autoridades políticas que um dia elas terão de prestar contas diante de Deus sobre a forma como agiram na dispensação da autoridade que receberam.
Como o cristão deve tratar a política?
Todo esse conceito já exposto resulta em alguns pontos importantes para o correto entendimento acerca da ética cristã e política. Vejamos alguns a seguir:
- O cristão deve orar pelas autoridades constituídas, para que elas cumpram o papel para qual foram chamadas. Quando as autoridades fazem corretamente o que delas se espera, o povo pode desfrutar de uma vida social mais equilibrada (cf. 1 Timóteo 2:1,2).
- O cristão deve ser um bom cidadão e se submeter às autoridades. Ele deve apoiar e se enquadrar àquelas leis que são justas, boas e coerentes. Além disso, ele também deve cumprir suas obrigações tributárias (Mateus 22:15-21; Romanos 13:6,7).
- O cristão deve se opor às autoridades quando estas promovam leis contrárias à Palavra de Deus. Quando o Estado proíbe aquilo que Deus exige, ou exige aquilo que Deus proíbe, inevitavelmente o cristão irá incorrer em desobediência civil. A base que legitima essa desobediência é o entendimento de que a soberania do Estado não é absoluta, mas está abaixo da soberania de Deus (cf. Atos 4:18-31; 5:17-29).
- Quando for o caso, desde que de forma ordeira e pacifica, não há problema do cristão protestar contra uma ilegalidade política. Jamais o cristão é aconselhado a se omitir, se calar ou não dar importância à vida em sociedade. Ao contrário, Jesus advertiu que seus seguidores devem ser sal da terra e luz do mundo, isto em todos os sentidos. Eles devem tomar parte na vida social como agentes preservadores que refletem o padrão moral requerido por Deus através de sua Palavra.
De fato é importantíssimo que os cristãos tenham uma visão correta sobre a política. Ajude nesse propósito compartilhando este texto. Se aprofunde mais no assunto e entenda também se um cristão pode se candidatar e ser político.