A Bíblia não diz que ter vontade de morrer é errado, mas ela certamente diz que levar a cabo esse desejo configura um terrível pecado. Muitas vezes, por problemas e circunstâncias da vida, nossa fraca natureza pode sugerir esse tipo de pensamento e desejo de morrer.
Personagens bíblicos que tiveram vontade morrer
Há muitos exemplos bíblicos de homens de Deus que em certo momento de suas vidas tiveram vontade de morrer. Talvez o caso mais conhecido deles seja do profeta Elias. Na época em que ele viveu, o povo de Israel estava mergulhado na apostasia e idolatria.
Certa vez Elias confrontou e matou os profetas de Baal e Aserá. Eles eram sacerdotes protegidos pela princesa Jezabel, esposa do rei Acabe. Quando Jezabel soube do que Elias tinha feito, jurou matar o profeta rapidamente (1 Reis 19:2). Nesse contexto Elias temeu e fugiu para o deserto. Então debaixo de um pé de arbusto, o profeta desejou morrer. Ele até orou a Deus pedindo por isso!
O profeta Jonas foi outro que também desejou a morte. Depois de ter sido engolido por um grande peixe e, contra sua vontade, pregado à Nínive o que Deus havia lhe ordenado, ele ficou profundamente irritado.
Ele teve dificuldade em aceitar que aquela nação, inimiga de seu povo, tinha se arrependido e sido poupada por Deus. Foi nessa ocasião que ele pediu que Deus tirasse sua própria vida (Jonas 4:3). Mesmo enquanto Deus lhe ensinava sobre a importância da piedade misericordiosa, o profeta insistia em sua irritação e descontentamento com a vida (Jonas 4:6-11).
No Novo Testamento, encontramos o apóstolo Paulo falando sobre um possível desejo pela morte, pelo menos em certo aspecto. É conhecido de todos que Paulo sofreu muito em sua vida por amor ao Evangelho de Cristo. Em certa ocasião ele escreveu: “Sinto-me conclamado pelos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é infinitamente melhor; mas, entendo que, por vossa causa, é mais necessário que eu permaneça no corpo” (Filipenses 1:23,24).
A motivação do desejo de morrer
Esses casos mencionados acima sobre homens de Deus que tiveram vontade de morrer, indicam algo interessante. O desejo que eles demonstraram não representava um desprezo pela vida. Na verdade esse desejo era motivado pela constatação do estado miserável deste mundo diante do zelo pela obra do Senhor, e pelo prazer de poder estar com Deus no lar celestial.
Por exemplo: Elias não estava depressivo com sua própria vida, magoado por seus problemas pessoais. Ele estava ofendido pela forma com que o Nome do Senhor estava sendo desonrado entre seu povo. Ele não conseguia suportar mais ver o povo de Israel vivendo como uma nação pagã liderada por pessoas ímpias.
O apóstolo Paulo, da mesma forma, faz um breve contraste em suas palavras entre viver neste mundo e partir dele para estar com Cristo. Seu desejo por deixar o corpo carnal não era motivado por seus problemas pessoais, mas pelo prazer de contemplar o Senhor. Ele sabia que os sofrimentos que ele experimentava não estavam fora do controle de Deus, mas que contribuíam de alguma forma para o proveito do Evangelho (Filipenses 1:12).
Mas nem sempre é esse tipo de desejo de morrer que os servos de Deus experimentam. Muitas vezes o intenso sofrimento faz com que um cristão deseje a morte para poder descansar de suas aflições.
Outras vezes, por causa de sua natureza humana corrompida pelo pecado, um cristão pode até desejar morrer por motivos egoístas. Aqui podemos citar o caso do profeta Jonas. Enquanto ele se mostrava preocupado com o juízo de Deus sobre o pecado, ele se irritava diante da misericórdia e compaixão de Deus em perdoar os pecadores. Isso indica que ao desejar morrer, Jonas revelou traços de uma atitude egoísta e mesquinha.
Como lidar com a vontade de morrer?
Somos pessoas falhas e imperfeitas, sujeitas a momentos de fraqueza, sofrimento e desespero. Embora ter vontade de morrer não seja exatamente um pecado, a Palavra de Deus nos auxilia a lidar com esse tipo de sentimento e superá-lo.
Quando porventura vier sobre nós a vontade de morrer, devemos olhar para a soberania de Deus. Ele controla e governa todas as coisas, e sabe muito bem quando uma vida deve começar e quando deve terminar. Nossas dores e impaciências não estão à parte do domínio do Senhor. O salmista escreve: “Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer um deles existir” (Salmo 139:16).
Isso significa que Deus é dono de nossas vidas. Ele é quem decide o momento de nossa vida terrena chegar ao fim. Ele tem um propósito para tudo, mesmo em relação aos detalhes que não entendemos. Quando Paulo declarou que partir dessa vida para estar com Cristo é muito melhor, ele também admitiu que era necessário que sua vida terrena continuasse por causa do propósito e da obra do Senhor.
A história de Jó também nos ensina muito sobre essa questão. Ele foi afligido por calamidades que lhe causaram um sofrimento devastador. Ele perdeu seus filhos, seus bens e sua saúde. Essa terrível situação o fez sentir desprezo pela vida e vontade de morrer (Jó 7:13-16). No entanto, apesar de todo sofrimento, Jó demonstrou convicção de que Deus é merecedor de toda honra, independentemente dos resultados aos olhos humanos (Jó 2:7-10).
O desejo do cristão pelo fim da vida terrena
É claro que todos os cristãos verdadeiros desejam o fim dessa vida terrena. Por isso Paulo escreve: “Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2 Coríntios 5:8). Sabemos que esse fim se dará ou por ocasião da morte ou por ocasião do glorioso retorno de Jesus.
Por enquanto, devemos lidar com a eventual vontade de morrer, seja qual for a sua motivação, amparados e confortados na Palavra de Deus. Nela somos informados de que por mais que passemos por aflições, Cristo venceu o mundo, e nele podemos ter paz (João 16:33). Por fim, o cristão tem a certeza plena de que quando Deus achar por bem levá-lo para o lar celestial, ele então poderá descansar de suas fadigas (Apocalipse 14:13).