Êxodo 3 é o capítulo da Bíblia que registra a convocação de Moisés para libertar o povo de Israel do Egito. O estudo bíblico de Êxodo 3 mostra como Deus se revelou a Moisés no Horebe, no meio de uma sarça ardente.
Por isso Êxodo 3 é um capítulo essencial para a compreensão do restante da Escritura, pois não apenas introduz o início dos acontecimentos que culminaram na saída dos israelitas do Egito, mas também explica que todas as coisas estavam sendo governadas por Deus. Nesse sentido Êxodo 3 prova que Moisés de fato foi a pessoa que o próprio Deus escolheu para liderar o êxodo e ser o grande legislador de Israel.
O esboço de Êxodo 3 pode ser organizado da seguinte forma:
- Deus fala com Moisés do meio da sarça ardente (Êxodo 3:1-6).
- Deus conhece a aflição do seu povo (Êxodo 3:7-10).
- A auto revelação de Deus (Êxodo 3:11-15).
- A missão a ser executada (Êxodo 3:16-22).
Deus fala com Moisés do meio da sarça ardente (Êxodo 3:1-6)
Êxodo 3 começa com Moisés apascentando o rebanho de seu sogro no deserto na região do Sinai. Apesar de árida, parece que aquela região mantinha algum tipo de pastagem que servia para o sustento dos rebanhos dos povos nômades.
O texto bíblico diz que em certo momento Moisés chegou ao “monte de Deus, a Horebe” (Êxodo 3:1). Essa designação obviamente antecipava o fato de que aquele monte seria o local onde Deus haveria de se manifestar de forma especial, como num santuário, na história que estava por vir. Aquele era o Monte Sinai, também chamado de Monte Horebe na Bíblia.
A Bíblia diz que naquele monte o Anjo do Senhor apareceu numa chama de fogo, no meio de uma sarça. Então Moisés percebeu que a sarça ardia em chamas, mas não se consumia (Êxodo 3:2).
O aconteceu naquele monte foi uma teofania, ou seja, uma manifestação visível de Deus. Em algumas passagens bíblicas do Antigo Testamento o Anjo do Senhor é o próprio Senhor se manifestando a alguém de modo visível e especial. Inclusive, a sarça que ardia, mas não se consumia, era um testemunho da autossuficiência infinita de Deus. Naquela sarça, o Deus que é transcendente se revelou de forma pessoal no meio do fogo para falar com Moisés. Inclusive, o fogo muitas vezes é usado no texto bíblico como símbolo da presença santa de Deus.
A sarça ardente chamou a atenção de Moisés, e ele resolveu se aproximar (Êxodo 3:3). Então do meio da sarça Deus chamou Moisés pelo nome, e lhe avisou que ele deveria tirar as sandálias dos pés, porque aquele lugar era “terra santa” (Êxodo 3:5). Isso não quer dizer que aquela terra do Monte Sinai tinha algo de especial em si mesma ou que era um terreno místico. A terra havia sido feita santa porque a própria manifestação da presença de Deus ali santificou aquele local.
Em seguida, Deus se apresentou a apresentou a Moisés dizendo: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” (Êxodo 3:6). Com isso Deus estava mostrando que não havia se esquecido de sua aliança com Abraão e sua descendência.
Moisés, então, escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus. Nesse ponto Êxodo 3 já antecipa a questão amplamente desenvolvida no livro de Êxodo de que ninguém pode se aproximar de Deus de qualquer maneira.
Deus conhece a aflição do seu povo (Êxodo 3:7-10)
Depois disso o Senhor falou a Moisés que havia visto a aflição de seu povo no Egito; Ele havia ouvido o clamor dos israelitas e estava atento ao sofrimento deles (Êxodo 3:7). Então havia chegado o momento de Deus livrar o seu povo escolhido da mão dos egípcios e fazê-lo subir à Terra Prometida, uma terra produtiva e farta, uma “terra que mana leite e mel” (Êxodo 3:8).
Porém, Deus deixou claro que aquela não era uma terra deserta; ao contrário, era uma terra ocupada por vários povos: os cananeus, heteus, amorreus, ferezeus, heveus e jebuseus (Êxodo 3:8).
Aqui não podemos nos esquecer de que Israel era apenas um povo escravizado numa terra estranha. Então como os israelitas seriam capazes de invadir e conquistar a terra de povos fortemente estabelecidos? Esta questão desaparece diante do fato de que o próprio Deus havia “descido” para livrar o seu povo e conduzi-lo à terra de sua promessa (Êxodo 3:8).
Então Deus disse a Moisés que haveria de enviá-lo a Faraó para que ele pudesse tirar os filhos de Israel do Egito. É interessante notar a particularidade com que Deus disse a Moisés: “Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito” (Êxodo 3:10). Perceba que Deus não diz a Moisés: “para que tires o seu povo”, mas diz: “para que tires o meu povo”. Aquele empreendimento não era de Moisés, era do próprio Deus. Moisés seria apenas um instrumento guiado pelo verdadeiro Libertador.
A auto revelação de Deus (Êxodo 3:11-15)
A princípio Moisés se sentiu incapaz de participar da tarefa para a qual estava sendo comissionado. Por isso ele disse: “Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?” (Êxodo 3:11). Mas tudo isso não era sobre Moisés, mas sobre Deus; a importância não estava sobre a pessoa de Moisés, mas sobre a pessoa d’Aquele que estava chamando Moisés.
De fato Moisés, em si mesmo, não era capaz de fazer nada daquilo. Ele era simplesmente um homem idoso, com cerca de oitenta anos de idade, que havia passado os últimos quarenta anos em Midiã após ter fugido do Egito. Porém, o que realmente contava era que Deus estaria com ele. Inclusive, Deus lhe garantiu que após os israelitas saírem do Egito, Moisés voltaria novamente àquela mesma montanha com eles para servir a Deus em adoração (Êxodo 3:12).
Na sequência, Moisés antecipou uma pergunta que certamente seria feita pelos israelitas. Ele sabia que quando chegasse ao Egito dizendo aos israelitas ter sido enviado pelo Deus de seus pais, os filhos de Israel então desejariam saber qual era o nome de Deus (Êxodo 3:13). Na antiguidade o nome de alguém tinha um significado muito mais profundo do que em nossa cultura atual. Naquele tempo um nome não apenas era um designativo de uma pessoa, mas era uma expressão do seu caráter e personalidade. Então saber o nome pessoal de Deus significava conhecer o próprio Deus.
Por isso a resposta que Moisés escutou do Senhor revelou de forma extraordinária o caráter inalcançável, a majestade inatingível e a eternidade inesgotável d’Aquele que falava com ele: “EU SOU O QUE SOU […] EU SOU me enviou a vós outros […] O SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, enviou a vós outros; este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração” (Êxodo 3:14,15).
No original hebraico o nome pessoal de Deus aparece como Javé. É provável que esse nome venha do verbo hebraico para “ser”, no sentido de “Ele é”, ou então “Ele será”. Sem dúvida esse nome expressa a eternidade e a soberania do Deus auto existente que só pode ser definido por Ele mesmo. Ao homem é impossível determiná-lo, mas graciosamente Deus haveria de se auto revelar através de seus atos redentores, de modo a ser lembrado de geração em geração.
A missão a ser executada (Êxodo 3:16-22)
Por fim, Moisés recebeu do Senhor a ordem para juntar os anciãos de Israel e explicar a eles que o Senhor haveria de tirar os filhos de Israel do Egito para levá-los à Terra Prometida (Êxodo 3:16,17). Esses anciãos, que eram os líderes das famílias que representavam Israel, haveriam de ouvir Moisés.
Depois eles deveriam se apresentar diante do rei do Egito e lhe informar que Javé, o Deus dos hebreus, havia lhes encontrado. Então eles tinham de pedir que Faraó os deixa-se partir para o deserto durante um período de tempo para que ali eles pudessem cultuar ao Senhor.
Mas Deus avisou de antemão a Moisés que Faraó não haveria de liberar os filhos de Israel, por isso Ele os tiraria dali com “mão forte” (Êxodo 3:19). Isso significava que Deus haveria de estender sua poderosa mão para ferir o Egito através de grandes prodígios. Somente depois disso é que Faraó deixaria o povo de Israel partir (Êxodo 3:20). Deus ainda garantiu a Moisés que os filhos de Israel não sairiam do Egito de mãos vazias depois de tantos anos de servidão (Êxodo 3:21,22).