O Que Significam Expiação Limitada e Expiação Ilimitada?

Expiação limitada e expiação ilimitada são duas interpretações que tentam responder a pergunta sobre por quem Cristo morreu. A Expiação ilimitada diz que Cristo morreu por todos os homens. Já a expiação limitada afirma que Cristo morreu apenas por seu povo.

A expiação ilimitada é a interpretação comum dentro da soteriologia arminiana. Mas também é verdade que muitos calvinistas adotam essa interpretação, especialmente os chamados “calvinistas de quatro prontos”. Já a expiação limitada, de forma geral, é a posição característica dentro da soteriologia calvinista.

Neste texto, iremos conhecer de forma bastante resumida o que cada uma dessas interpretações defende. O objetivo do texto não será refutar ou criticar determinada interpretação. Iremos apenas expor o conceito básico de cada interpretação.

Também mencionaremos os argumentos mais comuns de quem é a favor ou contra cada uma delas. Estas informações ajudarão o leitor analisar, à luz das Escrituras, qual a melhor posição: expiação limitada ou expiação ilimitada.

Expiação ilimitada: Cristo morreu por todos

A expiação ilimitada, ou expiação universal, defende que Cristo morreu por todas as pessoas do mundo. Porém, esse sacrifício só se torna eficaz para aqueles que respondem com fé e arrependimento.

A interpretação correta acerca da natureza do sacrifício de Cristo entende que sua obra foi substitutiva e expiatória. Isso significa que Cristo substituiu o pecador e expiou o seu pecado. Portanto, para os que defendem a expiação ilimitada, Cristo substituiu todos os pecadores na cruz, e expiou o pecado de cada um deles.

Um dos textos mais utilizados para defender esse ponto é 1 João 2:2. Nesse texto o apóstolo escreve que Cristo “é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente os nossos, mas também pelos de todo o mundo”.

Aqui vale observar que nem todos os que adotam a expiação ilimitada defendem a ideia de que Cristo morreu por cada indivíduo em particular. Segundo eles, isso resultaria numa ideia universalista. Então eles defendem que Cristo morreu por todos os homens em geral. Nesse caso, seu sacrifício foi potencialmente em favor de toda a humanidade, mas apenas torna-se particular para aqueles que escolherem aceitar seu sacrifício. Muitas vezes esse entendimento leva ao erro da teoria governamental acerca da expiação, ao invés da teoria da substituição.

Várias outras passagens bíblicas também são utilizadas por quem defende a expiação ilimitada. Alguns exemplos são: quando João Batista declara que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29,36); quando Jesus ensina a Nicodemos que Deus amou ao mundo e por isso enviou o seu Filho para que o mundo fosse salvo por Ele (João 3:16,17); e quando Paulo escreve que Cristo se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, e que a graça se há manifestado trazendo salvação a todos os homens (1 Timóteo 2:5,6; Tito 2:11). Além desses textos, outras passagens também são utilizadas (João 6:51; Romanos 5:18; 2 Coríntios 5:14-19; 1 Timóteo 4:10; Hebreus 2:9; etc.).

Os argumentos da expiação ilimitada

O principal argumento de quem defende a expiação ilimitada diz que essa posição é a mais coerente com o caráter amoroso de Deus. Quem pensa assim também critica a ideia de expiação limitada. O argumento é o de que a expiação limitada impõem limites a obra de Cristo. Com isso, há desqualificação do amor de Deus pelo mundo e uma estrição do alcance de sua graça.

Aqui vale observar que infelizmente alguns defensores da expiação ilimitada chegam a um ponto tão extremo que acabam defendendo a heresia do Universalismo. Essa doutrina ensina que no final cada indivíduo será salvo. A base para tal alegação é a de que Deus é amor, e que Cristo morreu por todos os homens.

Alguns grupos universalistas ensinam até mesmo a salvação final de Satanás e os demônios. Obviamente essa interpretação universalista afronta as Escrituras. Felizmente ela também não reflete o pensamento da maioria dos cristãos genuínos que defende a posição da expiação ilimitada.

Expiação limitada: Cristo morreu apenas pelo seu povo

A expiação limitada defende que a obra de Cristo não foi em favor de todos os homens em particular, mas apenas de seu povo. Vale ressaltar que por “expiação limitada” não se deve entender “graça limitada”. A expressão “expiação limitada” significa simplesmente que Jesus morreu por um número limitado de pessoas.

Embora exista muita discussão nesse ponto, normalmente quem adota a posição da expiação limitada crê que Cristo morreu pelo mundo inteiro apenas no sentido de que haveria poder em seu sacrifício para salvar o mundo todo, se esse fosse o caso. Porém, ele morreu efetivamente, de forma salvífica (substituindo e expiando o pecado), apenas em favor de cada um dos redimidos.

Quem defende a expiação limitada recorre a muitas passagens bíblicas que afirmam que Cristo morreu por muitos, e não por todos. Mesmo quando a palavra “todos” ou a palavra “mundo” são aplicadas em textos bíblicos que tratam do assunto, tais palavras devem ser vistas à luz de seu contexto. Geralmente elas apontam para o ensino de que Cristo morreu por “todo o seu povo”, isto é, por todas as suas ovelhas. Algumas passagens bíblicas utilizadas nesse ponto são: Isaías 53:8-11; Mateus 1:21; 20:28; 26:28; João 10:14, 15,26-28; Atos 20:28; Hebreus 9:28; etc.

Assim, quando os textos bíblicos afirmam que Cristo morreu pelo “mundo” ou por “todos”, o que está sendo dito é que Cristo morreu por todos os homens sem distinção, ao invés de ter morrido por todos os homens sem exceção.

Um exemplo geralmente utilizado por quem defende essa posição é o texto de Tito 2:11. Nele o apóstolo Paulo escreve que a graça se há manifestado trazendo salvação a todos os homens. Mas os versículos anteriores (Tito 2:1-10) esclarecem que esse “todos” significa “todos os tipos de homens” e não “todas as pessoas em particular” (cf. Timóteo 2:1-6).

Outro exemplo muito utilizado é uma comparação entre dois textos do apóstolo João. Em 1 João 2:2, o apóstolo escreve: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 João 2:2).

Já em João 11:51 e 52, o mesmo apóstolo indica o significado de “todo o mundo”. Ele escreve: “Ele profetizou que Jesus devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos”. Assim, a expressão “todo o mundo” refere-se ao gentios que seriam salvos. Saiba também quem foi o apóstolo João.

Os argumentos da expiação limitada

Os defensores da expiação limitada criticam a posição da expiação ilimitada. Eles alegam que a expiação ilimitada tira o valor e a segurança da obra redentora de Cristo, pois transmite a ideia de que o fato de Jesus ter morrido na cruz, simplesmente não é suficiente para salvar alguém. Nesse caso, a eficácia desse sacrifício dependerá de outro fator, como por exemplo, a livre escolha humana. Em outras palavras, Cristo não teria expiado o pecado do homem, mas possibilitado uma provável expiação.

Além disso, eles também entendem que o conceito de expiação ilimitada implica no ensino de que Cristo morreu em vão por muitas pessoas. Dessa forma, seu sangue foi derramado por indivíduos que passarão toda a eternidade no inferno.

Isso então significa que o pecado de tais pessoas será cobrado duas vezes. Essas pessoas serão punidas no inferno por um pecado que Cristo já pagou na cruz. O problema é que isso não apenas desqualifica a obra de Cristo, como também torna incoerente a justiça divina ao exigir o pagamento de uma dívida que já foi paga. Os defensores do lado aposto geralmente recorrem à ideia (já explicada aqui) de que Cristo morreu potencialmente por todos, e não em particular por cada indivíduo.

É possível conciliar a expiação limitada e a expiação ilimitada?

Definitivamente não é possível. Mas alguns comentaristas tentam propor uma visão que combine a interpretação da expiação ilimitada e a interpretação da expiação limitada. Eles procuram reconhecer a dificuldade que há nessa equação. Então eles defendem que o sacrifício de Cristo providenciou o pagamento pelo pecado de todos, mas que Deus aplica tal pagamento apenas em favor de seu povo escolhido. Obviamente essa tentativa de conciliação também possui sérios problemas.

Finalmente, o mais importante é entender que na Bíblia Sagrada não há qualquer contradição. Tais debates resultam simplesmente de nossa dificuldade em compreender as profundezas dos desígnios de Deus.