Gênesis 24 é o capítulo que fala sobre o encontro entre Isaque e Receba. O estudo bíblico de Gênesis 24 revela como Deus providenciou uma esposa para o herdeiro de Abraão.
Esse capítulo registra a longa viagem do servo de Abraão à Mesopotâmia. Também cita detalhes de certos costumes comuns no Antigo Oriente Próximo. Um esboço de Gênesis 24 pode ser organizado da seguinte forma:
- Abraão manda seu servo buscar uma mulher para Isaque (Gênesis 24:1-9).
- O servo de Abraão parte rumo à Mesopotâmia (Gênesis 24:10-14).
- O servo de Abraão encontra Rebeca (Gênesis 24:15-32).
- O servo de Abraão expõe o propósito de sua viagem (Gênesis 24:22-51).
- O casamento de Isaque e Rebeca (Gênesis 24:52-67).
Abraão manda seu servo buscar uma mulher para Isaque (Gênesis 24:1-9)
Gênesis 24 começa mostrando Abraão como um homem já muito idoso e também muito abençoado por Deus (Gênesis 24:1). Nesse tempo Sara já havia morrido e Abraão tratou de se preocupar com o casamento de seu filho Isaque.
Então Abraão convocou o seu servo mais antigo que governava todos os seus bens e lhe deu uma missão sob a base de um importante juramento. Gênesis 24 não indica nominalmente quem era esse servo. Contudo, muito provavelmente tratava-se de Eliézer.
Se isto estiver correto, vale lembrar que Eliézer era o servo que herdaria os bens de Abraão caso o patriarca não tivesse tido filhos (cf. Gênesis 15:12). Alguns comentaristas calculam que Eliézer já tinha cerca de 85 anos de idade quando se deram os eventos de Gênesis 24.
Entre os versículos 2 e 4 há a descrição dos detalhes de um típico juramento de grande importância praticado no Antigo Oriente Próximo. Abraão pediu que seu servo colocasse a mão por baixo de sua coxa e lhe fizesse um juramento pelo Senhor (Gênesis 24:2,3). Os estudiosos dizem que naquele tempo as coxas eram vistas como a fonte da vitalidade (cf. Deuteronômio 33:11; Jó 40:16). Esse tipo de juramento solene era inviolável e devia ser honrado até mesmo depois da morte (cf. Gênesis 47:29-31).
Abraão fez com que seu servo jurasse pelo Senhor que encontraria uma esposa para Isaque dentre as mulheres de sua parentela, e não dentre as mulheres cananeias (Gênesis 24:4). O servo de Abraão, porém, cogitou a possibilidade de a mulher não querer segui-lo até a casa de Abraão. Mas nesse caso, Abraão deixou claro que em hipótese alguma Isaque deveria retornar à terra da parentela de Abraão (Gênesis 24:6).
A explicação para isso é que Abraão confiava no Deus que havia lhe tirado do meio de sua parentela e havia prometido entregar à sua descendência a terra de Canaã. Para Abraão, um possível retorno de Isaque à Mesopotâmia significava a anulação da promessa de Deus (Gênesis 24:7). Então quando tudo foi esclarecido, o servo de Abraão fez o juramento (Gênesis 24:9).
O servo de Abraão parte rumo à Mesopotâmia (Gênesis 24:10-14)
Gênesis 24 diz que tão logo o servo de Abraão partiu rumo à Mesopotâmia, para a cidade de Naor (Gênesis 24:10). Aquele era um percurso de aproximadamente 720 quilômetros.
Quando chegou às proximidades da cidade, o servo de Abraão fez ajoelhar junto a um poço os dez camelos que levara consigo. Isso aconteceu na parte da tarde, durante o horário que as moças costumavam sair para tirar água (Gênesis 24:11).
Naquele momento o servo de Abraão orou a Deus e clamou por sua provisão e bondade. O texto bíblico diz que ele orou a Deus dizendo: “rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão” (Gênesis 24:12). A palavra “bondade” traduz um termo hebraico usado para indicar a lealdade a um relacionamento pactual. Isso significa que o servo de Abraão estava recorrendo ao compromisso de Deus com sua aliança.
Ele também pediu que Deus lhe desse um sinal. Ele solicitou ao Senhor que a moça que lhe desse água para beber e também se propusesse a saciar a sede de seus camelos, fosse a mulher indicada como esposa de Isaque (Gênesis 24:14).
De acordo com as regras da hospitalidade daquela época, a sede de um estrangeiro devia ser saciada; mas não havia qualquer obrigação com relação aos animais. Uma mulher que desse água aos camelos não era apenas bondosa, mas também servia além de sua obrigação.
Também vale lembrar que um camelo é capaz de tomar até 100 litros de água de uma só vez. O servo de Abraão estava levando dez camelos. Então obviamente saciar a sede de todos aqueles animais era uma tarefa muito pesada.
O servo de Abraão encontra Rebeca (Gênesis 24:15-21)
A Bíblia diz que naquele mesmo instante, Rebeca apareceu trazendo um cântaro ao ombro. Rebeca era filha Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, o irmão de Abraão (Gênesis 24:15). O texto bíblico informa que Rebeca era uma virgem muito bonita (Gênesis 24:16).
Após Rebeca ter abastecido o seu cântaro no poço, o servo de Abraão lhe pediu um pouco de água. Daí ocorreu conforme o servo havia orado ao Senhor. Rebeca não apenas lhe deu água, mas também se comprometeu a dar água aos seus camelos. Ali estava o sinal que o servo de Abraão havia pedido a Deus (Gênesis 24:19-21).
O servo de Abraão expõe o propósito de sua viagem (Gênesis 24:22-51)
Assim que Rebeca acabou de dar água aos camelos, o servo de Abraão tomou um pendente de ouro de meio siclo de peso e duas pulseiras para as mãos de Rebeca, do peso de dez siclos de ouro (Gênesis 24:22). Parece que naquela época o siclo, que pesava menos de 12 gramas, era o peso padrão de valor para a maioria das transações comerciais.
O servo perguntou a Rebeca sobre sua família e também pediu informação se havia lugar na casa de seu pai para receber sua comitiva. Rebeca respondeu favoravelmente a pergunta do servo de Abraão. Ela também forneceu sua breve genealogia; o que foi suficiente para que o servo de Abraão identificasse que a moça era prima de Isaque. Diante da resposta de Rebeca, o servo reconheceu a providência divina durante toda aquela missão (Gênesis 24:26,27).
Então Rebeca conduziu o homem à sua casa e o apresentou à sua família. Curiosamente, naquela ocasião o irmão da moça, Labão, aparece no texto de forma destacada, antes mesmo de Betuel, o pai de Rebeca (cf. Gênesis 24:50,55). Isso provavelmente significa que apesar de Betuel ainda estar vivo naquela ocasião, Labão é quem assumia a posição de liderança civil e religiosa da família. Talvez por algum motivo Betuel já não fosse mais uma pessoa capaz.
O servo explicou à família de Rebeca o propósito de sua visita. Ele também contou a todos sobre como Deus agiu ativamente de forma espetacular durante aquela missão, conduzindo-o até ali (Gênesis 24:35-48). Diante de tudo o que foi exposto pelo servo de Abraão, o irmão e o pai de Rebeca consentiram que a moça fosse levada como esposa de Isaque (Gênesis 24:51).
O casamento de Isaque e Rebeca (Gênesis 24:52-67)
Assim que ouviu as palavras de aprovação dos familiares de Rebeca, o servo de Abraão se prostrou em terra diante do Senhor. Na sequência ele também entregou vários presentes a Receba, a seu irmão e a sua mãe (Gênesis 24:52). Aqueles presentes valiosos selaram oficialmente o noivado de Receba e Isaque.
Além disso, naquela ocasião o servo de Abraão serviu como seu procurador legal. Então ele tinha total autoridade para proceder com o casamento arranjado segundo os costumes daquela época.
No outro dia, ainda de madrugada, o servo de Abraão se aprontou para fazer a viagem de volta. Mas o irmão e a mãe de Rebeca queriam que a jovem ficasse pelo menos mais dez dias com eles. No entanto, o servo de Abraão não aceitou aquela situação (Gênesis 24:55). Aqui vale lembrar que naquele momento Receba já estava oficialmente comprometida com Isaque.
Diante daquele impasse, Rebeca foi consultada. Mas ela respondeu que estava pronta para partir. Então eles abençoaram Rebeca com uma benção que se harmonizava com a promessa de Deus feita a Abraão. Depois disso, Rebeca partiu rumo à casa de Abraão para se encontrar com Isaque (Gênesis 24:61).
A parte final de Gênesis 24 registra o encontro entre Isaque e Rebeca. Isaque tinha ido meditar no campo. Ao cair da tarde, ele ergueu os olhos e avistou a comitiva do servo de seu pai. Quando Rebeca viu Isaque, desmontou de seu camelo e perguntou ao servo quem era aquele homem. Ele lhe explicou que era Isaque. Então ela tomou seu véu e se cobriu (Gênesis 24:64,65). Conforme o costume da época, a noiva cobria seu rosto do marido até o momento da consumação do casamento.
O servo também contou a Isaque tudo o que havia ocorrido durante sua missão. Então Isaque tomou Rebeca e a levou até à tenda que havia sido de Sara, sua mãe. Ali ele a amou e consumou seu casamento (Gênesis 24:67). Com isso, Rebeca se tornou a nova matriarca da família conforme o propósito do Senhor.