O Que é Ideologia de Gênero?

Basicamente a ideologia de gênero é a designação dada a uma corrente de ideias que defende a dissociação e distinção entre gênero e sexo, e afirma que o ser humano nasce com o gênero neutro. Este tema tem ganhado destaque nos últimos anos e vem obtendo apoio de parte da sociedade, da mídia e de vários governantes.

Mas muitos cristãos ainda não sabem exatamente o que é a ideologia de gênero. Infelizmente alguns parecem não estar nem mesmo convencidos de que ética cristã e ideologia de gênero são coisas completamente opostas. Consequentemente, eles também não sabem se posicionar diante da ideologia de gênero de acordo com a Bíblia.

A origem e significado da ideologia de gênero

Atualmente a palavra “ideologia” possui amplo significado e aplicação. O termo foi cunhado pelo filósofo francês Destutt de Tracy a partir dos vocábulos gregos eidos, “ideia”, e logos, “estudo”. Assim, o significado básico de ideologia seria o “estudo ou ciência das ideias”. Então esse termo passou a ser utilizado para indicar o conjunto de ideias e opiniões orientadoras de uma sociedade ou mesmo de um indivíduo.

A palavra “gênero” também tem origem grega e significa basicamente “raça”, “espécie”, “classe” ou “tipo”. A aplicação usual de gênero indica o “masculino” e o “feminino”, como por exemplo, na Gramática. Com o tempo, o termo “gênero” passou a ser aplicado de forma a substituir o termo “sexo”, mas não como um sinônimo. Isso significa que as pessoas começaram a distinguir entre diferenças de sexo e diferenças de gênero.

A ideologia de gênero fixa suas raízes em vários sistemas ideológicos, pois se aproveita de resquícios de movimentos e revoluções que se deram ao longo dos séculos. Um dos principais, sem dúvida, é o Marxismo, com seu conceito de impossibilidade de conciliação entre as classes. Consequentemente, o Feminismo, amplamente influenciado pelo Marxismo, também aparece como fonte da ideologia de gênero.

Tudo isto culmina na reivindicação feita pela ideologia de gênero de que qualquer diferença entre homem e mulher, deve ser abolida. A ideia é tratar o gênero de forma independente do sexo biológico. Já este último, torna-se irrelevante na determinação do papel do individuo na sociedade.

O que a ideologia de gênero defende?

Para os defensores da ideologia de gênero, o sexo refere-se às características e diferenças biológicas naturais entre macho e fêmea. Já o gênero refere-se ao papel que macho e fêmea assumem e exercem na sociedade.

Isto significa que de acordo com a ideologia de gênero, o sexo não define o gênero de uma pessoa. Em outras palavras, apenas o sexo é determinado biologicamente, o gênero não. Assim, um indivíduo que nasce biologicamente macho, não seria necessariamente homem. O “ser homem” ou o “ser mulher” supostamente não seria algo biológico, mas social. A sociedade e todo seu conjunto ambiental e cultural é quem determina o gênero de uma pessoa.

Esse conceito de ideologia de gênero fica bem claro nas palavras da feminista Simone Beauvoir, quando diz que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Sobre este “tornar-se mulher”, ela mesma explica que isto ocorre pela construção social do conjunto da civilização. Antes dela, o psicanalista americano Robert Stoler já havia dito que enquanto o sexto é biológico, o gênero é definido por aquilo que cada sociedade lhe atribui. Portanto, as designações “homem” e “mulher” são plenamente flexíveis socialmente.

O que fica evidente é que a ideologia de gênero prega um tipo de construção do gênero desassociado do sexo biológico, e pendente ao campo da subjetividade. Nesse ponto fica fácil entender porque movimentos homossexuais pegaram carona nesse tipo de ideologia e passaram a defendê-la. Um indivíduo pode nascer macho, mas ao invés de ser homem, pode sentir-se, considerar-se ou escolher ser mulher. Da mesma forma, uma fêmea pode sentir-se, considerar-se ou escolher ser um homem, ao invés de mulher.

Além disso, os apologistas da ideologia de gênero apresentam um grande leque de variáveis quando apelam ao que chamam de “orientação sexual”. Por exemplo: biologicamente um indivíduo pode ser do sexo masculino, mas genericamente identificar-se como uma mulher e sexualmente se atrair por homens, mulheres ou ambos.

Mas isto também revela uma grande incoerência dentro do ativismo homossexual. Nas décadas passadas, esse movimento buscou no estudo genético uma forma de aprovação. Eles queriam provar a existência do gene homossexual. A ideia básica era a de que o indivíduo nasce homossexual. Já com a ideologia de gênero, o ponto de partida é o de que ninguém nasce homem, mulher ou homossexual, mas torna-se um(a).

Ética cristã e ideologia de gênero

Ética cristã e ideologia de gênero definitivamente não combinam. A ética cristã é fundamentada unicamente na Palavra de Deus. Já a ideologia de gênero se faz valer de alternativas éticas que são frutos da corrupção da natureza humana.

Por exemplo: é possível perceber na ideologia de gênero um forte apelo do existencialismo e sua ênfase no relativismo. Valores morais e até espirituais não são vistos com absolutos. O certo e o errado são relativos ao entendimento e interpretação de cada indivíduo. Se a experiência individual for boa, então é válida. É exatamente isto que a ideologia de gênero defende: cada indivíduo deve assumir o gênero que lhe dá prazer e satisfação.

Além disso, a ideologia de gênero traz a base egoísta de outros modelos éticos humanísticos, como o hedonismo. O construto social tradicional não serve para os defensores da ideologia de gênero. Tudo o que se choca com sua ideologia deve ser desconstruído. Para os ativistas da ideologia de gênero, entender que o “ser homem” e o “ser mulher” está de acordo com o sexo biológico, configura um abuso de poder.

Mas por outro lado, eles buscam impor sua nova estrutura social como regra que deve ser respeitada pela sociedade. É como se dissessem: “O que não me agrada deve ser abolido, mas o que me agrada deve ser respeitado e seguido”. O propósito egoísta da ideologia de gênero é evidente.

As consequências da ideologia de gênero

A ideologia de gênero traz consequências terríveis e completamente incompatíveis com a ética cristã. O principal pressuposto da ética cristã é a existência de Deus como o criador dos céus e da terra, cuja vontade é revelada nas Escrituras e deve ser obedecida por suas criaturas. Mas a ideologia de gênero, no fundo, levanta a bandeira do ateísmo, ainda que seus defensores até possam crer em alguma forma de divindade.

Os pregadores da ideologia de gênero não olham para Deus como o supremo e infalível Criador. Eles não acham que a Lei de Deus é adequada e deve ser respeitada e seguida. Para eles, se existir um criador, então esse criador errou, pois à vezes o corpo não representa quem o indivíduo é. Há uma negação do corpo, uma rebelião contra a ordem criada, e uma tentativa de usurpar o poder divino.

Enquanto a ética cristã diz que Deus é quem determina quem é homem e quem é mulher na concepção e nascimento, a ideologia de gênero diz que esse poder não compete a Deus, mas ao próprio ser humano. Segundo essa ideologia, cabe ao homem definir o seu gênero. Então todas as diferenças criadas por Deus entre homens e mulheres, são rejeitadas. Este entendimento chega ao extremo de defender que como o sexo biológico não é fundamental na questão do gênero, então ele também pode ser facilmente modificado. Daí a transexualidade é encorajada.

Além disso, os ativistas da ideologia de gênero alegam que a Bíblia é sexista. Para eles as Escrituras pregam a opressão do domínio masculino sobre o feminino. Eles dizem que o modelo patriarcal defendido pela Igreja Cristã com base na Bíblia, influenciou a sociedade e deve ser abolido.

Consequentemente, a ideologia de gênero também ataca ferozmente a instituição familiar. Ela desvaloriza o casamento segundo as diretrizes instituídas por Deus. A ideologia de gênero busca reinventar o casamento de acordo com suas próprias ambições pecaminosas. Segundo essa ideologia, o gênero é flexível. Então o modelo de casamento heterossexual, conforme estabelecido nas Escrituras, torna-se sem sentido.

A ideologia de gênero à luz da Bíblia

Definitivamente a Palavra de Deus reprova as ideias defendidas e propagadas pela ideologia de gênero. Ao estudar a Bíblia, facilmente é possível identificar qual é o seu posicionamento com relação a esta questão. Hernandes Dias Lopes diz algo interessante sobre isto. Ele afirma que contra a ideologia de gênero, devemos apresentar a teologia de Gênesis.

A Bíblia não deixa dúvida alguma! Deus criou homem e mulher (Gênesis 1:27). Biblicamente é impossível separar o gênero do sexo como a ideologia de gênero faz. Se o sexo é determinado biologicamente, o gênero é sua decorrência natural.

Não há como falar em determinação de gênero se sua base não for o sexo biológico. Por isto a Bíblia Sagrada afirma de forma muito clara a distinção natural entre homem e mulher (Gênesis 2:15-25; Deuteronômio 22:5; Provérbios 31:10-31). Todo tipo de comportamento que busca abolir a ordem da criação original de Deus e inverter os papeis naturais estabelecidos por Ele, é visto como um grave pecado (Romanos 1:24-32). Abraçar a ideologia de gênero é trocar a verdade de Deus pela mentira fabricada pela própria concupiscência humana.

Sem dúvida Deus revelou muito claramente através das Escrituras qual deve ser o papel do homem e da mulher. Diferentemente do que muitos pensam, essa determinação não é machista ao indicar a liderança masculina. Na verdade, no plano original de Deus, existe completa harmonia entre homens e mulheres. Qualquer tipo de opressão de uma parte sobre outra, tem como fonte a natureza pecaminosa e caída do homem, e não a vontade do Senhor.

Embora Deus tenha colocado o homem como líder natural, Ele não aprova sua liderança machista e opressora. A prova de que aos olhos do Senhor não há qualquer depreciação de sexo e gênero, ou qualquer tipo de classe, pode ser vista nas palavras do apóstolo Paulo. Ele escreve que “não há judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).

O cristão e a ideologia de gênero

Sem dúvida todo cristão verdadeiro deve se opor à ideologia de gênero, e saber refutá-la com base bíblica sólida. Os cristãos devem falar da ideologia de gênero mostrando como ela é contrária às Escrituras.

A Igreja não deve tratar a ideologia de gênero como um assunto secundário, mas como algo que ataca diretamente as doutrinas fundamentais do Cristianismo. Lamentavelmente, muitos cristãos ignoram este assunto. Como resultado disto, pode-se ver uma tolerância cada vez maior com relação à ideologia de gênero. É possível identificar até mesmo dentro de algumas comunidades cristãs, reflexos da ideologia de gênero. Nesses casos geralmente é proposta uma nova forma de interpretação bíblica sob as lentes da desconstrução dos papeis de homens e mulheres, abolindo qualquer diferença entre ambos.

É por isto que cresce, cada vez mais, a oposição à liderança eclesiástica masculina. Em casos mais graves, até mesmo a homossexualidade é aceita e reconhecida como legitima em algumas comunidades. Parece que muitos ditos cristãos estão mais preocupados em parecer politicamente corretos.

Concordo com John Piper quando ele diz que é impossível ser um cristão verdadeiro, comprometido com a Palavra de Deus, e ao mesmo tempo ser politicamente correto. O Evangelho jamais será uma espécie de produto agradável que se adéqua à natureza pecaminosa do homem. Na verdade o Evangelho ofende o pecador, a menos que Ele seja regenerado pelo Espírito Santo.

Augustus Nicodemus Lopes diz algo muito interessante sobre como a Igreja deve encarar as questões da ideologia de gênero. Ele defende que as comunidades cristãs deveriam preparar uma liderança masculina consistente e bíblica. Ao mesmo tempo, elas deveriam buscar fortalecer o ministério feminino e providenciar as condições necessárias para que homens e mulheres aprendam sobre a masculinidade e a feminilidade à luz da Bíblia. Ele também acerta em advertir que se os cristãos não aprenderem sobre o tema de seus pastores e líderes, fatalmente eles aprenderão dos ativistas e defensores da ideologia de gênero.