O livro de Salmos é uma coletânea de cânticos presente na Bíblia hebraica e no Antigo Testamento da Bíblia cristã. O estudo bíblico de Salmos revela a variedade de características, temas, gêneros e autores que há no livro. Dessa forma, seus cânticos fornecem um modelo de adoração adequado à diversas situações.
O título Salmos significa “cânticos”. Esse título vem da Septuaginta, a antiga tradução grega da Bíblia hebraica (Antigo Testamento). O Novo Testamento também usa esse mesmo nome para se referir aos cânticos hebraicos (cf. Lucas 20:42; 24:44; Aos 1:20). A palavra Salmos corresponde ao termo hebraico mizmor que ocorre com frequência no livro e expressa a ideia de um cântico vocal ou instrumental. O título do livro no original hebraico é “Livro de Louvores”.
Autoria e data do livro de Salmos
O livro de Salmos foi escrito por diversos autores durante um longo período de tempo. O próprio livro de Salmos indica alguns de seus autores através dos títulos de autoria que aparecem em certos salmos.
Com base nesses títulos, o rei Davi é o maior autor dos Salmos. Apesar de alguns críticos já terem tentado discutir a autoria de Davi, a tradição a seu favor é indiscutível (cf. 1 Samuel 16:14-23; 2 Samuel 1:17-27; 23:1; 2 Crônicas 6:31; 15:16; 16:7; Amós 6:5; etc.).
Além de Davi, os títulos de alguns salmos também indicam outros autores. São eles: Moisés (Salmo 90); Salomão (Salmo 72); os filhos de Corá (Salmos 42-49; 84; 85; 87; 88); os filhos de Asafe (Salmos 50; 73-83); e Etã (Salmo 89). Mas muitos salmos não informam o nome de seus autores. Saiba mais sobre quem escreveu Salmos.
A variedade de autores que viveram em diferentes épocas implica no fato de o livro ter sido composto durante um espaço de tempo considerável. Os estudiosos afirmam que os primeiros salmos foram escritos por volta de 1440 a.C., no tempo de Moisés. Já os salmos mais recentes foram escritos aproximadamente em 400 a.C., depois do cativeiro judeu na Babilônia.
Esboço, estrutura e características do livro de Salmos
O livro de Salmos é dividido tradicionalmente em cinco livros, e cada qual termina com uma doxologia. Essa divisão estrutural forma o esboço do livro de Salmos que geralmente é adotado pelos eruditos:
- Livro 1: Salmos 1-41.
- Livro 2: Salmos 42-72.
- Livro 3: Salmos 73-89.
- Livro 4: Salmos 90-106.
- Livro 5: Salmos 107-150.
Segundo a tradição judaica, essa divisão do livro de Salmos em cinco livros teria sido adotada de modo a corresponder ao Pentateuco – os cinco livros de Moisés. Além dessa divisão principal, o livro de Salmos também pode ser organizado em subdivisões com base na autoria comum, no uso comum ou no tema e gênero comuns.
Os títulos dos salmos são parte muito importante na organização das características do livro de Salmos. Esses títulos são tão essenciais que geralmente aparecem como sendo o primeiro verso dos salmos no texto original hebraico e também em sua tradução grega na Septuaginta. Isso significa que ou os títulos fazem parte do texto original inspirado ou tiveram origem numa tradição realmente muito antiga.
Os títulos podem ser divididos em cinco categorias básicas. São elas:
- Títulos de autoria: indicam quem foi o autor do salmo, ou sobre quem o salmo fala (assunto), ou mesmo a quem o salmo é dedicado.
- Títulos históricos: lançam alguma luz acerca do contexto histórico em que determinado salmo foi escrito.
- Títulos de gênero: indicam os diferentes tipos literários da poesia hebraica.
- Títulos de notações musicais: aparentemente dão alguma instrução quanto à execução musical de determinado salmo.
- Títulos de instruções para o culto: são títulos que indicam a aplicação de um salmo na liturgia do culto formal de Israel.
O agrupamento dos salmos em diferentes gêneros também é algo que merece atenção. Embora cada salmo tenha sua particularidade e beleza únicas, eles também compartilham algumas características em comum. Daí surge a classificação dos salmos em gêneros, como: cânticos de louvor; salmos de lamentos; salmos de ação de graças; cânticos de confiança; salmos reais; salmos de sabedoria; salmos imprecatórios. Saiba mais sobre os diferentes tipos de Salmos.
Os paralelismos da poesia hebraica nos Salmos
Quando se estuda o livro de Salmos, também é interessante saber que a poesia hebraica é muito diferente da poesia mais comum que estamos acostumados na atualidade. Nossas poesias são marcadas por rimas e métricas; enquanto que a poesia hebraica é caracterizada pelos paralelismos. Dentre todos os tipos de paralelismo da poesia hebraica, os mais comuns nos salmos são:
- Sinonímico: a ideia da primeira linha é repetida de forma similar na segunda linha.
- Antitético: a ideia da primeira linha é reafirmada na segunda linha, mas por oposição; ou seja, a ideia da primeira linha é contrastada com a ideia da segunda linha para reforçar um conceito central.
- Sintético: a segunda linha aprofunda ou desenvolve o conceito apresentado na primeira linha.
- Climático: possui semelhanças com o paralelismo sintético. No paralelismo climático a ideia principal é introduzida na primeira linha e cada linha subsequente aprimora o desenvolvimento dessa ideia adicionando elementos novos ao conceito apresentado.
- Quiástico: as ideias são apresentadas em unidades lógicas que são desenvolvidas de acordo com um padrão cruzado.
- Emblemático: a primeira linha expressa a ideia através de uma figura de linguagem. Então a segunda linha trata da mesma ideia, mas de forma literal de modo a explicar a figura da linha anterior.
O contexto histórico do livro de Salmos
Como foi dito, o livro de Salmos foi escrito durante um período de aproximadamente mil anos. Isso significa que são 150 cânticos escritos por diferentes autores que viveram em diferentes épocas. O resultado disso é que há uma enorme dificuldade em determinar o contexto histórico dos salmos, ou seja, quando um salmo em particular teve origem. Na verdade para a grande maioria dos salmos isso é realmente impossível.
As melhores indicações que temos nesse sentido são provenientes dos títulos históricos. De acordo com o título histórico do Salmo 3, por exemplo, Davi escreveu esse salmo quando fugia de Absalão. Outro exemplo é o Salmo 51, escrito por Davi ao ser repreendido por Deus através do profeta Natã após ter pecado com Bate-Seba.
Contudo, nem todos os salmos possuem títulos históricos. Além disso, mesmo nos salmos que possuem um título histórico, seu autor jamais é específico no corpo do cântico quanto ao que motivou sua composição.
Isso provavelmente acontece porque os salmos eram usados no culto formal em Israel. Então era importante que os salmos apenas expressassem um sentimento geral que poderia ser compartilhado com toda congregação de Israel. Isso continua sendo verdade para a Igreja Cristã. Não precisamos saber o que deu origem a um determinado salmo para podermos usá-lo e aplicá-lo de forma prática em nossas vidas.
A mensagem do livro de Salmos
A mensagem do livro de Salmos é muito abrangente. Martinho Lutero diz que o livro de Salmos é como uma pequena Bíblia e o sumário do Antigo Testamento. Isso faz muito sentido, visto que o livro de Salmos foi escrito ao longo de todo o período de composição do Antigo Testamento. O livro mostra quadros que vão desde a reflexão acerca dos atos de Deus na criação e seu governo da História, até eventos específicos da vida da nação de Israel.
Por causa de suas características – uma coletânea de cânticos – o livro de Salmos não apresenta um desenvolvimento teológico de modo sistemático, mas faz uma aplicação teológica extremamente prática para a vida diária do crente.
Nesse sentido, numa vista geral, os salmos falam sobre como Deus deve ser adorado e louvado sobre tudo e todos; sobre como Deus cuida providencialmente dos justos dando-lhes proteção e livramento e se atentando às suas necessidades; e sobre como Deus abençoa aquele que é fiel e obediente à sua vontade, mas julga o desobediente. O livro de Salmos também expressa como a verdadeira adoração a Deus deve caracterizar as experiências de vida do seu povo fiel.
A pecaminosidade humana é registrada no livro de Salmos, seja no comportamento dos ímpios, seja nos erros dos justos. O livro também destaca a soberania de Deus sobre todas as coisas, mas não isenta o homem de sua responsabilidade moral. Além disso, vários salmos trazem uma visão escatológica ao enfatizar a consumação da História no Dia do Senhor.
Cristo no livro de Salmos
Sem dúvida parte importante da mensagem do livro de Salmos aponta para Cristo. Assim como no restante do Antigo Testamento, a obra e o reino do Messias são revelados ao longo de todo o Saltério.
A prova disso é que o livro de Salmos é o livro do Antigo Testamento mais citado no Novo Testamento. Nesse sentido, à luz do Novo Testamento, os salmos falam sobre a primeira vinda de Cristo – enfatizando seu sofrimento ao receber sobre si o juízo de Deus; bem como a segunda vinda de Cristo – enfatizando sua glorificação, o derramamento da ira de Deus sobre os ímpios e a bem-aventurança dos crentes no reino eterno do Senhor.
Curiosidades sobre o livro de Salmos
O livro de Salmos possui algumas curiosidades, por exemplo:
- O livro de Salmos é o livro bíblico que possui mais autores.
- O livro de Salmos é o maior livro da Bíblia.
- O livro de Salmos é o livro bíblico que demorou mais tempo para ser completado.
- Considerando cada salmo um capítulo, o Salmo 117 é o capítulo que está exatamente no meio da Bíblia. Saiba quantos capítulos tem a Bíblia.
- No livro de Salmos também está o menor e o maior capítulo bíblico: o Salmo 117 e o Salmo 119, respectivamente.