Marta e Maria foram as irmãs de Lázaro que aparecem na narrativa bíblica do Novo Testamento. Além do episódio que envolve a ressurreição de Lázaro, elas são mencionadas em outras passagens, como quando Jesus disse que Maria escolheu a boa parte conforme registrado por Lucas (Lc 10:39-42).
Marta e Maria, bem como seu irmão Lázaro, moravam em Betânia, uma vila que ficava a cerca de três quilômetros de Jerusalém, no declive oriental do Monte das Oliveiras, na estrada para Jericó.
Quem foi Marta de Betânia?
O nome de Marta é mencionado na Bíblia apenas nos Evangelhos de Lucas e João (Lc 10:38-41; Jo 11:1,5,19-39; 12:2), e se origina de uma raiz aramaica que significando algo como “dona” ou “senhora”. Ela é a única pessoa com esse nome em toda a Bíblia.
Muito provavelmente Marta era a mais velha entre os três irmãos, ou pelo menos mais velha do que sua irmã Maria. A narrativa bíblica que menciona que Jesus foi recebido na casa de Marta parece concordar com isso (Lucas 10:38).
Alguns estudiosos, ao comparar os registros de Mateus 26:6, Marcos 14:3 e João 12:2 acerca da ceia que ocorreu na casa de um homem chamado Simão, o leproso, tentam responder por que Marta estaria servindo naquela ocasião.
Alguns argumentam que a ceia era em comemoração a ressurreição de Lázaro, e por isso, mesmo sendo na casa de Simeão, Marta se ocupou de servir a mesa. Outros sugerem que talvez Simão fosse solteiro, e ao oferecer tal ceia, necessitou da ajuda de seus amigos. Outros ainda levantam a possibilidade de que talvez Marta tivesse sido a esposa desse homem. Seja como, não há como responder essa pergunta com exatidão.
Quem foi Maria de Betânia?
Não se sabe muito sobre quem foi Maria de Betânia, apenas que era irmã de Marta e de Lázaro (Jo 11:1-46), e que como foi dito, provavelmente era a irmã mais nova entre os irmãos, visto que Marta parece assumir uma posição de liderança.
Maria aparece com destaque em duas ocasiões que ocorreram no ministério terreno de Jesus: quando ungiu o Senhor e quando preferiu ficar escutando as palavras de Jesus a ajudar sua irmã com os afazeres domésticos, além, é claro, de quando é mencionada na narrativa bíblica acerca da ressurreição de seu irmão, Lázaro.
Jesus visita Marta e Maria em Betânia
Lucas registrou uma visita do Senhor Jesus a Betânia, a qual foi recebido na casa de Marta (Lc 10:39-42). Naquela ocasião, Maria estava assentada aos pés de Jesus ouvindo atentamente o que ele dizia, enquanto que Marta se ocupava das tarefas da casa.
Num determinado momento, Marta acabou se distraindo devido a tudo o que tinha por fazer. Obviamente Marta estava ocupada com os afazeres domésticos, e muito provavelmente preparando uma refeição para seus hospedes. É possível que se tratasse de uma refeição para pelo menos 15 pessoas, isto é, Jesus, seus doze apóstolos e ambas as irmãs, visto que o contexto imediato da passagem favorece a interpretação que na ocasião Jesus estava acompanhado de seus discípulos (Lc 12:38; cf. 10:38-42; 11:1)
Além disso, existe a possibilidade de Lázaro ter estado presente, o que elevaria esse número para 16 pessoas. De qualquer forma, é certo que Marta estava muito atarefa enquanto Maria escutava o ensino do Senhor Jesus.
Logo Marta parece ter ficado um tanto quanto irritada com a falta de auxílio de Maria, e acabou questionando Jesus acerca de tal comportamento: “Senhor, não te importa que minha irmã me deixe fazer todo o trabalho sozinha? Diz-lhe que tenha coragem e venha me ajudar” (Lc 10:40). Perceba que a critica não foi apenas direciona a Maria, mas também a Jesus, que permitia que Maria ficasse ali.
Jesus respondeu a Marta dizendo que ela estava preocupada e irritada com muitas coisas, mas que havia algo muito mais importante e excelente do que aquilo que era alvo de sua atenção. No início de sua resposta Jesus usou a expressão “Marta, Marta”, o que significava não apenas uma reprovação, mas também um conselho de terna afeição.
Jesus disse a ela que “uma só coisa é realmente necessária”. Alguns estudiosos sugerem que Jesus estava se referindo a própria refeição, como se estivesse dizendo que apenas uma simples refeição teria sido suficiente. Todavia, a sequencia de sua resposta revela algo muito mais além: “Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lc 10:41,42).
A expressão “boa parte” também pode ser traduzida como “boa escolha”, no sentido de ter escolhido a melhor parte, e que no texto aplica-se diretamente a frase antecedente: “uma só coisa é realmente necessária”.
A boa parte que Maria escolheu, obviamente foi ouvir as palavras de Jesus. Com isso, entende-se que ela demonstrava uma devoção e adoração sincera ao Senhor, e essa é a porção que jamais lhe seria tirada. Claramente essa conduta está em harmonia com seu exemplo ao ungir Jesus.
Marta e Maria e um drama familiar
Em João 11 lemos o relato sobre a morte e a ressurreição de Lázaro, irmão de Marta e Maria. Jesus era amigo próximo daquela família, e logo que Lázaro adoeceu, as duas irmãs rapidamente trataram de fazer com que alguém avisasse o Senhor.
Provavelmente Marta e Maria esperavam que Jesus prontamente fosse visitar o amigo doente e lhe curasse, mas o que elas não sabiam é que nos planos de Deus o milagre a ser realizado era muito maior do que a cura de uma doença (Jo 11:4).
Quando Jesus se aproximou da aldeia em que Marta e Maria moravam, Marta foi logo ao encontro dele, enquanto Maria ficou em casa, mas depois Marta a chamou e ela também foi ter com Ele. Tanto Marta quando Maria disseram a conhecida frase: “Senhor, se tu estivesse aqui, meu irmão não teria morrido” (Jo 11:21,32). Marta foi a primeira a dizer, e como resposta escutou a extraordinária declaração de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11:25).
Maria, quando disse essa mesma frase, estava prostrada chorando aos pés Jesus. João registra que nesse momento “Jesus agitou-se no espírito e perturbou-se”, e consequentemente chorou (Jo 11:32-35). Finalmente, quando a pedra da sepultura foi removida, Jesus chamou a Lázaro e ele ressuscitou (Jo 11:41-44).
Maria de Betânia ungiu Jesus
Os Evangelhos relatam uma ocasião em que Maria de Betânia ungiu o Senhor Jesus (Mt 26:6; Mc 14:3; Jo 12:3). Alguns estudiosos até sugerem que talvez também tenha sido ela a mulher que, em outra ocasião, ungiu os pés de Jesus na casa de um fariseu em Cafarnaum, porém isso é bem pouco provável, e a melhor interpretação é a de que Maria de Betânia não deve ser confundida com essa outra mulher (Lc 7:36-50).
Os textos de Mateus e Marcos não revelam o nome de Maria, porém à luz do texto de João descobrimos de que se tratava mesmo de Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro. Portanto, Maria ungiu Jesus durante uma ceia na casa de Simão, o leproso. Na ocasião, ela utilizou nardo puro que trazia consigo em um vaso de alabastro.
A atitude de Maria gerou indignação nos discípulos de Jesus, que a acusaram de desperdiçar recursos que poderiam ser revertidos aos pobres. No entanto, o Senhor repreendeu seus discípulos e aprovou o ato de Maria, inclusive ressaltando o profundo significado daquela ação que estava lhe preparando para o sepultamento, e também garantindo que o feito de Maria de Betânia seria lembrado em todo o mundo (Mt 26:13).
De fato a única maneira de compreender o significado do que foi feito por Maria quando ungiu o Senhor Jesus é entendendo que não apenas o vaso de alabastro é que havia sido quebrado, tal como não apenas o nardo puro é que havia sido derramado, mas seu próprio coração estava ali humildemente quebrado, derramando a mais genuína e profunda adoração, expressando toda a gratidão de sua alma perante o Filho de Deus.
Marta e Maria como exemplos
Certamente podemos aprender muito com essas duas irmãs, Marta e Maria. Com Maria aprendemos que o amor pela Palavra de Deus é o que realmente importa em nossas vidas, e que quando temos essa “única coisa que é necessária”, o resultado não pode ser outro se não uma adoração verdadeira que derrama nossa alma perante o Senhor.
Também quando lemos que “Maria escolheu a boa parte”, percebemos que a eleição divina não exclui a responsabilidade humana, antes, a inclui. É por isso que o apóstolo João mais tarde escreveu que “nós o amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4:19).
A sequência da resposta do Senhor é um conforto para todos aqueles que repousam sobre sua graça, assim como Maria, isto é, a garantia de que a boa parte “não lhe será tirada”. Em outras palavras, o próprio Jesus explicou: “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10:28). Diante dessa verdade só nos resta concordar com o apóstolo Paulo e exclamar que nada poderá nos separar do amor de Deus (Rm 8:38,39).
Com Marta aprendemos que até mesmo os bons seguidores de Cristo algumas vezes precisam ser corrigidos. Algumas pessoas enfatizam por demais a repreensão de Jesus sobre Marta, como se ela fosse uma incrédula contrastando com sua irmã fiel.
Entretanto, não podemos jamais nos esquecer de que foi Marta quem declarou uma das mais belas profissões de fé encontradas no Novo Testamento. Diante da dor pela morte de seu irmão, Marta não duvidou da soberania do Deus Todo-Poderoso (Jo 11:21), e com seus lábios ela declarou que Jesus é o Cristo, “o filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (Jo 11:27).
Que possamos ser mais como Marta e Maria, receptivos a correção divina e completamente devotos e admirados pela majestade do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A Escritura registra que “Jesus amava Marta, sua irmã e Lázaro” (Jo 11:5), e certamente podemos entender que essa doce menção estende-se a todos os seus verdadeiros discípulos.