Muitos são chamados, mas poucos escolhidos significa que o convite do Evangelho é anunciado a todo o mundo e alcança a muitos, porém são poucos aqueles que efetivamente respondem com fé verdadeira a esse chamado.
Essa frase foi utilizada por Jesus em uma de suas parábolas, em Mateus 22:14, na conclusão da Parábola das Bodas do Filho do Rei. Algumas traduções bíblicas também trazem a frase “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”, no final da Parábola dos Trabalhadores da Vinha, em Mateus 20:16, porém essa expressão não consta nos manuscritos gregos mais antigos, e por isso é omitida em outras traduções.
O que Jesus quis dizer com “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”?
Essa frase precisa ser interpretada dentro do contexto em que ela aparece. Jesus falou em sua parábola sobre um rei que ao celebrar as bodas de seu filho, mandou chamar os convidados para a festa, porém estes não quiseram ir, inclusive, alguns, além de recusar o convite, maltrataram e mataram os servos do rei.
Irado, o rei então mandou que seus servos convidassem todos que encontrassem pelo caminho, quer fossem bons ou maus, e os trouxessem as bodas. Um destes, porém, foi as bodas com uma roupa inapropriada, e por isso foi banido pelo rei.
Uma primeira interpretação desse texto aponta especialmente para a situação dos judeus que primeiramente foram chamados como povo da aliança, mas falharam em receber esse chamado, e o convite se estendeu aos gentios.
No entanto, seu significado não se esgota apenas nesse aspecto, mas também se refere a verdade de que muitos são chamados por todas as partes do mundo, mas igualmente falham em atender a esse chamado.
Por que muitos são chamados, mas poucos escolhidos?
Deus chama a muitos ao arrependimento, de modo que esse chamado vem ecoando por todas as partes ao longo dos séculos. Na verdade, é certo afirmar que todos são chamados, conforme o apóstolo Paulo observou em Romanos 1-3.
Esse chamado geral ocorre de diversas maneiras:
- Através das obras da criação, ou seja, o universo criado revela as maravilhas de Deus (Salmos 19:1; Romanos 1:20-23);
- Através da consciência moral do homem, pois o homem é a imagem e semelhança de Deus, ainda que o pecado tenha desfigurado essa imagem (Romanos 2:14,15);
- Através da revelação especial de Deus em sua Palavra com a pregação do Evangelho de Cristo.
Esse chamado torna o homem indesculpável, ou seja, ninguém poderá um dia alegar que nunca soube sobre a existência de Deus, nem mesmo aqueles que nunca ouviram o Evangelho e viveram suas vidas de forma cética ou mergulhados em costumes pagãos, pois esse tipo de comportamento é, na verdade, fruto do pecado do homem que desviou a glória devida a Deus à suas formas de idolatria (Romanos 1:23).
Por outro lado, há aqueles que ouvem o chamado e respondem com fé e arrependimento. Em comparação com a amplitude desse chamado, relativamente são poucos os que respondem eficazmente à oferta da salvação.
Quem são os chamados e quem são os escolhidos?
Todos concordam que os “muitos chamados” são aqueles que de alguma forma são convidados ao arrependimento durante suas vidas, e os “poucos escolhidos” são aqueles que respondem com fé verdadeira a esse convite.
Os debates, porém, ocorrem com base na discussão sobre como estes poucos escolhidos ocupam tal posição. Alguns defendem que os escolhidos são aqueles que, capacitados pela graça de Deus, e aqui usa-se o termo “graça preveniente”, por sua livre escolha e vontade respondem com fé a esse chamado, passando a integrar o grupo dos escolhidos.
Outros, no entanto, defendem que os escolhidos são aqueles que foram eleitos soberanamente por Deus dentre a raça humana caída, e, ouvindo o chamado geral, o Espírito Santo trabalha em seus corações de forma eficaz, gerando arrependimento, de modo que tal chamado se torna irresistível.
Voltando agora à parábola, é interessante notar que os convidados são apresentados de três formas:
- Os que receberam o convite e fizeram pouco caso dele;
- Os que receberam o convite após a recusa dos primeiros convidados e participaram da festa oferecida pelo rei;
- O homem que compareceu a festa, mas não possuía as vestes adequadas.
Isso significa que mesmo dentre aqueles que inicialmente parecem atender o convite da salvação, existem alguns que são apenas chamados, ou seja, respondem ao chamado do Evangelho com uma simples profissão de fé superficial, nominal e histórica, mas não estão vestidos com as vestes da justiça.
Portanto, os escolhidos necessariamente devem estar vestidos dos méritos de Cristo (Gálatas 3:27; Apocalipse 3:4-18; 7:14; 19:8). Isso significa que pelo próprio esforço humano, homem algum é capaz de responder de forma positiva ao chamado do Evangelho, pois todos pecaram (Jó 9:2; Isaías 64:6,7; Romanos 3:9-24; Efésios 2:8).
Do Antigo ao Novo Testamento, a própria Bíblia destaca vários exemplos práticos da verdade de que muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Noé pregou o arrependimento a muitos, sem que ninguém se arrependesse (1 Pedro 3:18-20). O profeta Jeremias também foi duramente ignorado por seu povo. O rei Agripa escutou atentamente a pregação de Paulo, mas não passou de apenas mais entre os muitos chamados (Atos 26:28).
Todavia, se muitos são os chamados que fazem pouco caso do convite que recebem, há também aqueles poucos escolhidos que no tempo oportuno têm seus velhos e duros corações quebrados em arrependimento.
Foi assim com o próprio apóstolo Paulo, um grande perseguidor do povo de Deus, que, inclusive, esteve presente no martírio de Estêvão, mas que após ter sido chamado por Cristo, de perseguidor passou a ser perseguido pela causa do Evangelho (Atos 9). O mesmo também aconteceu com Lídia, quando Deus lhe abriu o coração para que ela recebesse o Evangelho (Atos 16:14).
Aqui também encontramos um conforto muito grande, pois mesmo que os muitos chamados não queiram, estes jamais poderão impedir que os escolhidos escutem o convite do Evangelho.
Durante a primeira viagem missionária de Paulo, enquanto o apóstolo e Barnabé pregavam o Evangelho, muitos blasfemavam e tentavam contradizê-los, mas o nome do Senhor foi glorificado ali, “e creram todos quantos estavam destinados para a vida eterna” (Atos 13:45-48).
Muitos são chamados, mas poucos escolhidos, e haverá um dia em que o contraste entre esses dois grupos alcançará sua expressão máxima. Nesse dia, os muitos chamados que ignoraram o convite, serão lançados num lugar de prantos e ranger de dentes, enquanto que os relativamente poucos escolhidos, que pela graça de Deus, abraçaram através da fé em Cristo o convite que receberam, se assentarão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, e desfrutarão eternamente da presença amorosa do Deus que os chamou (Lucas 13:27-29).