O versículo bíblico que diz: “não desprezeis as profecias” é uma advertência para que os crentes não menosprezem a orientação resultante da proclamação profética da vontade de Deus. As profecias legitimas fundamentadas na Palavra de Deus, jamais devem ser desprezadas.
Esse versículo foi escrito pelo apóstolo Paulo ao expor aos crentes tessalonicenses uma série de orientações práticas para a vida da Igreja (1 Tessalonicenses 5:20). Inclusive, a declaração: “não desprezeis as profecias” deve ser entendida sempre à luz do seu contexto bíblico para que não surjam interpretações equivocadas sobre essa questão. Mas para entendermos corretamente o significado desse versículo bíblico, é útil sabermos o que é uma profecia de acordo com a Bíblia.
A importância das profecias nos tempos do Novo Testamento
Na linguagem do Novo Testamento, uma profecia pode ter a ver com uma revelação da parte de Deus (cf. Atos 11:27,28; 1 Timóteo 1:18; 4:14). Mas também é verdade que na maioria das referências bíblicas, a profecia se refere à proclamação da palavra escrita da Escritura (Mateus 13:14; 2 Pedro 1:19-21; Apocalipse 1:3; 22:7-19).
O significado do termo profeta, basicamente indica uma pessoa que “fala diante de”, ou seja, uma pessoa que faz declarações públicas. Então o profeta bíblico, é uma pessoa que expressa publicamente a vontade de Deus. O sentido do profeta como alguém que “proclama” em vez de alguém que “prediz”, é muito mais frequente no texto bíblico.
Isso tudo é melhor compreendido quando consideramos o ambiente em que Paulo escreveu para que os crentes de Tessalônica não desprezassem as profecias. No tempo da Igreja Primitiva, a revelação divina ainda não estava completa, ou seja, a Igreja ainda não possuía em suas mãos a Escritura finalizada. Nesse contexto, a proclamação da vontade de Deus de forma profética e extraordinária era algo fundamental para a orientação e edificação da Igreja.
Alguns intérpretes acreditam que o ato de profetizar nos tempos do Novo Testamento não era algo miraculoso, mas era simplesmente a proclamação ou exposição da porção da Palavra de Deus que já estava disponível. Sem dúvida isso também estava incluído no que era profetizar nos tempos do Novo Testamento.
Mas, conforme já foi explicado, aquele era um tempo em que a revelação especial de Deus ainda estava sendo dada ao homem. A Escritura ainda estava sendo desenvolvida através da atividade profética dos agentes da revelação que eram geralmente apóstolos ou pessoas associadas a eles.
Além disso, num tempo em que o testemunho do Evangelho era amplamente validado por sinais, podia acontecer de nas comunidades cristãs os segredos do coração de um descrente serem revelados através do ato de profetizar. Esse acontecimento miraculoso tinha por objetivo fazer com que o descrente reconhecesse que, de fato, Deus estava entre os crentes (1 Coríntios 14:24,25).
Não despreze as profecias
Considerando todo esse contexto é mais fácil entender a ordem: “não desprezeis as profecias”. Ao desprezar as profecias, os crentes tessalonicenses também acabavam se privando de serem edificados, encorajados e consolados (cf. 1 Coríntios 14:3).
Consequentemente, ao menosprezarem a palavra profética, aqueles crentes acabavam resistindo ao próprio Espírito Santo. Isso explica por que imediatamente antes da declaração: “não desprezeis as profecias”, o apóstolo escreveu: “Não apagueis o Espírito” (1 Tessalonicenses 5:19). Parece que para o apóstolo Paulo, desprezar as profecias implicava também em depreciar a obra do Espírito Santo.
Mas isso não significava que os crentes tinham de dar crédito a qualquer suposta palavra profética. Na verdade, se por um lado o Espírito Santo capacitava verdadeiros profetas para proclamar a vontade de Deus, Satanás também levantava seus falsos profetas para propagar o engano. Isso, inclusive, continua sendo uma verdade até os dias atuais.
É por isso que na sequência o apóstolo Paulo encoraja os crentes a examinar tudo, e reter o bem (1 Tessalonicenses 5:21). Portanto, qualquer suposta profecia precisa ser colocada à prova à luz da Escritura; nenhum pronunciamento profético deve ser recebido sem critério (cf. 2 Tessalonicenses 2:2).
Assim, tudo o que for mal, ou seja, tudo o que não for bíblico, deve ser rejeitado. Na verdade, conforme explica Willian Hendriksen, o padrão pelo qual o verdadeiro profeta se distingue do falso profeta é que o primeiro nunca declarará nada que seja contrário ao que Deus tornou conhecido previamente em sua revelação especial (Comentário do Novo Testamento, 1955).