A Bíblia é muito clara ao falar que temos que ter uma vida santa. O escritor da Carta aos Hebreus declara: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor“ (Hebreus 12:14). Mas como podemos ter uma vida santa?
É verdade que muita gente desconhece ou não entende o verdadeiro conceito Bíblico sobre o que é a santificação na vida do cristão. Isso é muito grave, pois no final tais pessoas ou acabam sendo negligentes quanto a ter uma vida santa ou acabam advogando para si mesmas um mérito que não lhes pertence, caindo no perigo da justiça própria.
Deus é santo e exige que o seu povo tenha uma vida santa
Os termos mais utilizados na Bíblia para se referir à santidade e a santificação é o hebraico qadash (Antigo Testamento), e o grego hagiasmos (Novo Testamento). Outros termos similares, correlatos ou derivados também são aplicados. Mas no geral, todos esses termos procuraram transmitir a ideia de “separação”, “consagração” e “purificação”.
Antes de falarmos sobre a necessidade de uma vida santa para o cristão, devemos pontuar algumas coisas. Primeiramente devemos entender que a qualidade da santidade é aplicada na Bíblia primeiramente a Deus. Com isso ela aponta para a inacessibilidade divina. Isso significa que Deus é absolutamente santo, fundamentalmente distinto de todas as suas criaturas.
Logo, a santidade é uma característica fundamental de Deus, de modo que ela está presente em todos os seus atributos, no sentido de que Ele é santo em seu amor, santo em sua justiça, santo em sua bondade, santo em sua misericórdia, santo em sua ir etc. Saiba mais sobre quais são os atributos de Deus.
Então o Deus que é santo exige que o seu povo também seja santo. Então o crente deve ser separado daquilo que é pecaminoso, e consagrado ao serviço de Deus. Ele deve amar e praticar aquilo que é justo e de acordo com a vontade do Senhor.
A necessidade de termos uma vida santa
Do Antigo ao Novo Testamento encontramos inúmeras exortações sobre a necessidade de termos uma vida santa. Por exemplo, o apóstolo Pedro, citando o Antigo Testamento, escreve: “Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem; pois está escrito: Sejam santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1:15,16). O mesmo apóstolo também escreve que a Igreja é “geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido” (1 Pedro 2:9).
Mesmo após termos sido regenerados, a velha natureza pecaminosa ainda continua em nós. Então existe uma guerra constante entre o Espírito e a carne. Enquanto o Espírito gera em nós desejos e propósitos regenerados, habilitando-nos a amar aquilo que agrada a Deus e guiando-nos em uma vida em conformidade com sua Palavra; a carne busca, a todo custo, nos prender em suas concupiscências perversas e nos precipitar em suas obras pecaminosas.
É por isso que se dá a grande necessidade de termos uma vida santa; é através da santificação que podemos mortificar a cada dia nossa natureza caída; através dela podemos se despir do velho homem, e sermos cada vez mais semelhantes a Cristo, com seu caráter sendo formado em nós progressivamente (2 Coríntios 3:18; Gálatas 4:19; 5:22-25).
Uma vida santa é obra de Deus
Diante da necessidade de termos uma vida santa, logo surge a pergunta: Como ser santo? Será que é possível termos uma vida santa? Para respondermos tais questionamentos, é necessário que entendamos que Deus é o autor da santificação. Em outras palavras, a santificação é uma obra que Deus opera nos redimidos, a fim de torná-los semelhantes à imagem de Cristo (Romanos 8:11-29; 15:16; 1 Pedro 1:2).
Um dos mais importantes catecismos da Igreja Protestante define a santificação como sendo “a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo nosso ser, segundo a imagem de Deus, e habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão” (Breve Catecismo de Westminster).
Quem foi regenerado e justificado vive uma vida santa
Nesse ponto, muita gente confunde a santificação com a regeneração e a justificação. A regeneração também é uma obra exclusiva de Deus que ocorre de forma definitiva e instantânea na vida do homem. Através da regeneração, o pecador que estava morto em delitos e pecados é vivificado; ou seja, ele é tirado de seu estado de morte espiritual para nova vida em Cristo. É o novo nascimento (Efésios 2:1-8).
Quanto à justificação, ela é um ato judicial de Deus que ocorre de uma vez por todas. Na justificação Deus atribui ao crente a justiça de Cristo, declarando que seus pecados estão perdoados pelos méritos de seu Filho (Romanos 6:4-10).
Já na santificação, apesar de ela ser também uma obra realizada por Deus, ela é um processo contínuo que dura por toda a vida do cristão. Mas o próprio cristão, dependente de Deus, também participa dessa obra (2 Coríntios 7:1; Filipenses 3:10-14; Hebreus 12:14).
A vida santa em três aspectos
A Bíblia aponta a vida santa do crente sob três aspectos. Primeiro, ela revela a santificação em um sentido definitivo, isto é, uma santificação posicional que trata da condição do cristão em Cristo diretamente ligada à justificação. Esse sentido diz respeito a forma como Deus vê o justificado também santificado em seu Filho (Romanos 6;2-6; 1 Coríntios 1:2; Efésios 2:4-6).
Segundo, a Bíblia também revela o caráter experimental da santificação. Nesse sentido ela é progressiva, um processo inacabado neste mundo, onde os redimidos são chamados por Deus à santidade segundo a ação do Espírito Santo (Romanos 8:11; 12:1-2; 1 Coríntios 6:11,19,20; 2 Coríntios 3:18; Efésios 4:22-24; 1 Tessalonicenses 2:13; Hebreus 13:20,21).
Apesar de ser uma obra de Deus, nesse aspecto ter uma vida santa exige esforço da parte do cristão; não como um agente independente nesse processo, mas como um instrumento sob o controle soberano de Deus. Então através do Espírito Santo o crente é capacitado a viver de acordo com a vontade divina.
Por último, como a santificação é um longo processo imperfeito neste mundo, ela encontrará sua perfeição final no grande dia em Cristo voltar. Nesse dia os redimidos serão glorificados e receberão corpos ressurretos não mais sujeitos a corrupção do pecado.
A necessidade de termos uma vida santa é uma verdade inegável revelada na Escritura. Por nossa própria natureza somos incapazes de fazer o bem diante de Deus. Mas por sua infinita graça Ele nos regenerou, dando-nos uma nova natureza. Agora, através da ação do Espírito Santo somos capacitados a viver uma vida santa; uma vida de vitória sobre o pecado.