“Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda” é uma declaração que significa que Deus cuida providencialmente daqueles que são seus. Esse cuidado é específico e pessoal, e não uma ideia de proteção generalizada e abstrata. Cada detalhe da vida do crente está debaixo do controle soberano do Senhor.
Essa declaração foi feita pelo salmista anônimo que escreveu o Salmo 91. Nesse salmo o escritor bíblico fala da bem-aventurança daqueles que fazem do Senhor a sua habitação. Somente esses podem estar confortados na promessa de que “nenhum mal de sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda” (Salmo 91:10).
Nenhum mal te sucederá
Sem dúvida essa declaração traz uma promessa maravilhosa para o cristão. Mas ela deve ser interpretada da forma correta para que não haja qualquer mal entendido. A pergunta aqui é: O que o salmista quer dizer com: “Nenhum mal te sucederá”?
Em primeiro lugar, quando o salmista diz: “Nenhum mal te sucederá” isso não significa que o crente está imune às adversidades, sofrimentos e aflições desta vida. O próprio Senhor Jesus Cristo nos alerta que no mundo teremos aflições (João 16:33).
Em segundo lugar, embora provações e sofrimentos dos mais variados tipos aflijam o crente ao longo de sua vida, ele não é esmagado pelos sofrimentos, porque o Senhor o preserva e o sustenta. Antes de dizer: “Nenhum mal te sucederá”, o salmista diz: “O Senhor é o meu refúgio” (Salmo 90:10). Então o que basicamente ele diz é: “Se você fizer do Senhor o seu refúgio, nenhum mal te sucederá”.
Aquele que está refugiado no Senhor não teme a adversidade. Ele sabe que haverá aflições neste mundo, mas também sabe que Cristo venceu o mundo, e por isso ele pode ter bom ânimo para enfrentar o que for. O crente sabe que o que quer que lhe aconteça, nada lhe machucará, pois sua esperança está além das coisas passageiras deste mundo.
Para o cristão, algo realmente danoso seria perder o favor do Senhor. Mas a boa notícia é que a Bíblia diz que nada pode separar o crente do amor de Cristo Jesus; ainda que venha sobre ele tribulação, angustia, fome, necessidade, perigo ou espada (Romanos 8:35). Tendo essa certeza, de fato o redimido pode descansar tomando para si a declaração: “Nenhum mal te sucederá”.
Nem praga alguma chegará à tua tenda
A declaração: “Nem praga alguma chegará à tua tenda” complementa a primeira declaração: “Nenhum mal te sucederá”. O motivo para isso também fica claro nas palavras do salmista: “Fizeste ao Altíssimo a tua morada” (Salmo 91:9). Evidentemente aquele que faz do Senhor a sua habitação, praga nenhuma poderá alcançar a sua morada.
Como a palavra “praga” traduz um termo hebraico que pode ser usado como uma metáfora para “ferida”, “peste” ou “doença”, muitas pessoas aplicam essa declaração no sentido de que um verdadeiro cristão jamais é perturbado por doenças. Mas obviamente esse tipo de interpretação é completamente errado. Na própria Bíblia há vários exemplos de crentes que sofreram com enfermidades (2 Reis 13:14; Atos 9:36,37; Filipenses 2:25-27; Gálatas 4:13; 1 Timóteo 5:23; 2 Timóteo 4:20).
Na verdade a declaração: “Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda” não é um tipo de encantamento ou um mantra que confere proteção a quem recita essas palavras. Antes, essa declaração é uma promessa de que ainda que Deus não interrompa as aflições dos crentes neste mundo, eles têm a certeza de que podem contar com a presença graciosa do Senhor em seus problemas.
Muitas vezes Deus não livra seus filhos dos problemas, mas os livra nos problemas, dando força e ânimo. Deus não livrou Sadraque, Mesaque e Abednego do fogo, mas os livrou no fogo. Deus não livrou o profeta Daniel da cova dos leões, mas o livrou na cova.
Nenhum mal te sucederá porque Deus cuida do seu povo
Além disso, a providência divina muitas vezes usa o próprio mal como instrumento para o bem. O profeta Jonas foi engolido por um grande peixe, mas foi isso que lhe manteve vivo nas profundezas das águas do mar.
O jovem José foi jogado por seus irmãos num poço e depois foi vendido como escravo pelos ismaelitas no Egito. Mas foi por meio desse mal que o povo da aliança foi preservado num tempo de crise mortal. Depois, quando já era governador do Egito, o próprio José reconheceu: “Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos” (Gênesis 50:20).
Então pouco importa se moramos num palácio ou numa cabana. Se Deus for a nossa habitação, então de fato essa promessa é para nós: “Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda”. Podemos encontrar uma boa explicação do que isso realmente significa nas palavras do apóstolo Paulo na véspera de ser martirizado em Roma: “O Senhor me livrará de todo mal e me levará em segurança para o seu Reino celestial. A ele seja dada a glória para todo o sempre! Amém!” (2 Timóteo 4:18).
Como diz C. H. Spurgeon, é impossível que algum mal aconteça ao homem que é amado pelo Senhor. As piores calamidades só podem encurtar sua jornada neste mundo e apressá-lo à sua recompensa gloriosa. Doença para ele não é o mal, mas apenas o bem de uma forma misteriosa. As perdas o enriquecem, o desprezo é sua honra, e a morte é seu ganho. Nenhum mal, no sentido estrito da palavra, pode acontecer com ele, pois tudo é revertido para o bem. Essa pessoa é bem-aventurada, pois ela está segura onde outros estão em perigo; ele vive onde os outros morrem.
“Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda”, porque “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28). Aqui, todas as coisas incluem tanto aquilo que nos é confortável, como também aquilo que nos é doloroso.