Nós Nos Reconheceremos no Céu? Teremos Lembranças Das Pessoas?

Iremos nos reconhecer no Céu? Esta é uma pergunta que desperta a curiosidade de muita gente. Alguns dizem que não iremos nos reconhecer no Céu, pois o reconhecimento de amigos e familiares na eternidade implicaria em lembranças terrenas. Como nem todas as nossas lembranças serão boas, então isto nos causaria infelicidade. Já outros afirmam que certamente nos reconheceremos no Céu, pois caso contrário, a própria obra da redenção não faria sentido.

A Bíblia diz que iremos nos reconhecer no Céu?

A Bíblia indica claramente que iremos reconhecer uns aos outros na eternidade. Embora não haja um versículo específico onde podemos ler explicitamente “no céu nós iremos nos reconhecer”, existem muitas passagens bíblicas que apontam nessa direção. Podemos citar alguns exemplos aqui:

  1. Ao falar da morte de seu filho recém-nascido, o rei Davi admitiu que ele só poderia encontrá-lo novamente na eternidade (2 Samuel 12:23). Como ele poderia expressar essa certeza se não pensasse que no Céu poderia reconhecê-lo?
  2. Jesus também fala da bem-aventurança eterna indicando um grande banquete onde nos assentaremos à mesa juntos com Abraão, Isaque e Jacó (Mateus 8:5-11). Isto implica na ideia de que reconheceremos Abraão, Isaque e Jacó. Se seremos capazes de reconhecer pessoas que nunca vimos, que dirá então aquele que convivemos?
  3. Na transfiguração de Jesus, evidentemente o texto bíblico revela que Moisés e o profeta Elias se reconhecem. Além do mais, eles também são reconhecidos pelos discípulos (Mateus 17:3,4).
  4. Na história do rico e Lázaro, o homem rico reconhece Lázaro e Abraão e se lembra de que na terra havia deixado cinco irmãos (Lucas 16:19-31).
  5. Em 1 Tessalonicenses 4:13-18 o apóstolo Paulo conforta seus leitores justamente sobre a questão de seus familiares que já tinham partido para o Senhor. Que sentido faria esse conforto se os crentes na eternidade nunca mais iriam reconhecer uns aos outros?

A importância da memória na eternidade

Sem dúvida, muito da obra da redenção perderia o sentido se na eternidade não nos lembrássemos das coisas passadas. No dia do julgamento, por exemplo, obviamente as pessoas deverão se lembrar de cada detalhe de suas vidas. Jesus até fala de certas pessoas que se lembrarão de seus atos na tentativa frustrada de se justificarem. Essas pessoas profetizaram, fizeram milagres e expulsaram demônios, apesar de nunca terem sido salvas (Mateus 7:22).

É verdade que aqui algumas pessoas alegam que a perda da memória ocorrerá exatamente após o juízo. Elas se baseiam em Apocalipse 21:4. Neste texto lemos que Deus limpará de nossos olhos toda a lágrima e que as primeiras coisas serão passadas.

Porém, este versículo em nenhum momento fala sobre a perda da memória na eternidade. O texto bíblico está indicando que a maldição do pecado que afetou a criação divina desaparecerá, porque Deus fará novas todas as coisas. O foco principal do versículo não é revelar simplesmente a abolição das coisas antigas, mas apontar para a redenção que explica o porquê de serem feitas novas todas as coisas.

Além disso, como poderemos louvar a Deus por toda eternidade se não nos lembrarmos de se seus maravilhosos atos de redenção? Alguns até podem dizer que nós nos lembraremos de nossas próprias vidas, mas não de nossos amigos e familiares.

Mas como pode ser possível lembrarmos-nos de nossas vidas sem que nos lembremos de parte tão importante dela, isto é, os nossos relacionamentos interpessoais? Que tipo de lembrança será essa, onde todas as memórias de relacionamentos serão apagadas?

Por fim, o apóstolo Paulo fala que no Céu sua coroa e alegria serão seus filhos espirituais, isto é, as pessoas convertidas por meio de seu ministério (1 Tessalonicenses 2:19,20; cf. 2 Coríntios 4:14) Em outras palavras, os missionários sentirão uma alegria suprema quando contemplarem os frutos de seus esforços missionários diante de Deus.

Se nós nos reconheceremos no Céu, não ficaremos tristes?

Como já foi dito, muita gente acredita que não poderemos nos reconhecer no Céu porque isto implicaria numa infelicidade. Como poderemos ser plenamente felizes no Céu se por ventura não encontrarmos alguns amigos e familiares? No entanto, este tipo de argumento só faria sentido se não ocorresse a transformação e renovação de todas as coisas da qual a Bíblia fala.

Toda opressão, dor e sofrimento causados pelo pecado e seus efeitos, serão aniquilados. Isto significa que nossa memória será purificada de toda a mancha pecadora. No entanto, ainda assim ela será uma memória. Nós teremos lembranças e nos reconheceremos no Céu, mas não sofreremos.

Além disso, apesar de nós nos reconhecermos no Céu, nossas relações terrenas não farão mais sentido na vida futura. Embora poderemos reconhecer nossos conjugues, por exemplo, não teremos mais o sentimento de relação matrimonial (Mateus 12:46-50). O mesmo serve para todas as relações familiares, incluindo as pessoas que não estarão conosco no paraíso. Saiba mais sobre se seremos casados após a ressurreição.

Por mais que não entendamos agora, na eternidade jamais ficaremos infelizes pela eventual falta de uma pessoa querida enquanto nossa vida terrena. Lá estaremos completamente satisfeitos e realizados diante de Deus. Juntamente com todos aqueles que fizeram a vontade do Pai, seremos uma grande família (cf. Mateus 12:46-50).

Haverá lembranças no Céu

A ideia de que não poderemos nos reconhecer no Céu e que teremos nossa memória terrena apagada, não é bíblica. Na verdade ela tem origem em religiões pagãs. Os gregos, por exemplo, acreditavam que após a morte as pessoas tomavam da água de um tipo de mar do esquecimento. Esse ritual aniquilava qualquer elemento de continuidade entre a vida passada e a vida futura.

Mas como vimos, este tipo de pensamento não é bíblico. Nós fomos criados para a comunhão, e ter comunhão implica em relacionamento, e relacionamento exige memória. Mas é preciso que tenhamos em mente que a finalidade principal do homem é glorificar a Deus e se alegrar nele para sempre.

Nós nos reconheceremos no Céu para que juntos, em comunhão, não apenas com aqueles que conhecemos durante a vida terrena, mas com todos os outros redimidos, possamos viver em completa comunhão com Deus. A esperança de nos reencontrarmos na eternidade sempre deve ser vista da perspectiva da comunhão com Cristo. Por isto o salmista declara: “Quem mais tenho eu no céu senão a Ti?” (Salmo 73:25).