A declaração “nossa luta não é contra carne e sangue” significa que não lutamos contra meros seres humanos. Nossa verdadeira batalha é contra um exército de seres malignos que fazem oposição à obra de Deus. Por isso o mesmo versículo explica que guerreamos “contra os principados e potestades; contra os dominadores deste mundo tenebroso; contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6:12).
Foi o apóstolo Paulo quem fez essa exortação acerca da batalha espiritual que os crentes enfrentam. Escrevendo aos crentes efésios, ele exorta sobre a realidade do conflito que todo redimido está envolvido e ensina como o crente deve encarar essa guerra (Efésios 6:10-20). Essa luta, que não é contra a carne e o sangue, perdurará até o final da presente era; até o dia do glorioso retorno de nosso Senhor Jesus Cristo.
Nossa luta não é contra carne e sangue
A palavra “carne” aparece na Bíblia em diferentes contextos e por isso assume diferentes significados. Há um sentido muito usual no Novo Testamento em que a palavra “carne” significa a natureza humana corrompida pelo pecado.
Mas quando o apóstolo Paulo diz “nossa luta não é contra carne e sangue” ele aplica a palavra “carne” como significando a própria constituição humana, com suas limitações e fragilidades. O apóstolo faz uso da combinação “carne e sangue” outras vezes em suas epístolas.
Escrevendo aos crentes da Galácia, ele diz que seu ministério não estava fundamentado no conselho de “carne e sangue”; ou seja, não estava fundamentado numa limitada e frágil aprovação humana, mas na escolha do próprio Deus (Gálatas 1:16). Ele também explicou aos coríntios que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus. Com isso ele faz uma indicação da importância da doutrinada ressurreição (1 Coríntios 15:50).
Em certa ocasião Jesus também usou a expressão “carne e sangue” nesse mesmo sentido; sua intenção era apontar as debilidades humanas, não apenas físicas, mas também mentais (Mateus 16:17). Portanto, o ensino de que “nossa luta não é contra carne e sangue” enfatiza que de fato somos participantes de uma batalha que não é fácil. Não estamos lutando simplesmente contra a fraqueza da existência humana, mas contra inimigos muito mais perigosos.
Nossa luta é contra os principados e potestades
Após dizer que “nossa luta não é contra carne e sangue”, Paulo imediatamente identifica quem são os nossos verdadeiros inimigos. Ele diz que lutamos contra os principados e potestades. Com isso ele apresenta muito claramente a realidade das hostes espirituais de seres malignos que governam este mundo tenebroso.
Isso significa que o reino das trevas não é composto por forças desorganizadas e sem propósitos; mas por seres que se organizam numa hierarquia bem definida e se empenham em fazer oposição à obra de Deus e ao seu povo. Em outras palavras, o texto bíblico está dizendo que “nossa luta não é contra carne e sangue” porque na realidade lutamos mesmo é contra o diabo e os demônios que estão sob seu controle.
Esses anjos caídos são autoridades que dominam este mundo de trevas. Aqui, porém, é necessário fazer uma observação acerca da soberania divina. O fato de esses principados e potestades serem governantes deste mundo tenebroso, não significa que eles agem à parte do poder e do controle de Deus.
Os principados e potestades das trevas não são autônomos; eles não são seres soberanos que fazem tudo o que desejam fazer. Satanás e seus anjos só podem atuar dentro dos limites estabelecidos por Deus.
Como diz Lutero, Satanás é um cachorro na coleira de Deus. Ele só pode ir até onde Deus lhe permite ir. W. Hendriksen explica o governo desses seres malignos neste mundo dizendo que sob a providência permissiva de Deus, esses seres controlam tiranicamente o mundo da ignorância, do pecado e da tristeza.
Os principados e potestades contra os quais lutamos, são forças espirituais do mal nas regiões celestes. A expressão “regiões celestes” aqui deve ser entendida como sendo o reino extraterreno; isto é, a esfera acima da terra e abaixo do céu que é morada de Deus. Então não se pode confundir o significado de “regiões celestes” neste texto com outras aplicações de expressões semelhantes que falam do lar dos redimidos com Deus (cf. Efésios 1:3,20; 2:6; 3:10).
Como lutar a luta que não é contra a carne e o sangue?
Ao mesmo tempo em que Paulo diz que nossa luta não é contra carne e sangue e identifica nossos verdadeiros oponentes, ele ainda se preocupa em explicar como devemos lutar essa guerra. Se nossa luta não é contra carne e sangue, obviamente nossas armas nessa batalha também não devem ser humanas.
É verdade que os principados e potestades já foram derrotados por Jesus Cristo na cruz (Colossenses 2:15). Contudo, isso não significa que agora eles estão inoperantes. Eles são inimigos derrotados que estão destinados ao juízo eterno no lago de fogo, mas ainda tentam causar o maior estrago possível antes de sua ruína completa.
Então o apóstolo explica que a única maneira de resistir aos ataques do diabo é estando vestido da armadura completa de Deus (Efésios 6:11). Se nossa luta não é contra carne e sangue, então não temos nenhuma chance de vitória se usarmos nossas próprias armas. Aqueles que tentam lutar contra os principados e potestades lançando mão de sua própria força, de sua própria capacidade e de seus próprios méritos, jamais terão sucesso nessa guerra.
Mas a armadura de Deus capacita o crente de forma suficiente a permanecer firme contra as investidas malignas. Paulo ainda enfatiza que o cristão deve vestir a armadura completa de Deus (Efésios 6:13). Nenhuma de suas partes deve ser esquecida ou negligenciada. Nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra inimigos superiores aos homens em força e poder. Contudo, vestidos da armadura de Deus, podemos descansar na certeza que estamos habilitados a resistir no dia mau (Efésios 6:13).