Doutrina é o conjunto de verdades bíblicas acerca de um determinado tema que possui importância fundamental para a Fé Cristã. Isso significa que o ensino de todo o conteúdo da Bíblia acerca de um certo assunto é uma doutrina.
Na Bíblia, a palavra doutrina traduz dois termos gregos que aparecem quarenta e oito vezes no Novo Testamento: didaskalia e didaquê. Esses termos basicamente significam “ensinamento”, enfatizando tanto o ato quanto o conteúdo do ensino.
No Antigo Testamento não há uma palavra específica que possui o significado exato de “doutrina”, mas algumas traduções usam as palavras doutrina e ensino para traduzir o hebraico leqah, que significa “o que é recebido”. Mas na verdade a ideia de um corpo de ensino revelado está muito presente no Antigo Testamento, especialmente através do vocábulo torah, “lei, instrução”.
A importância da doutrina cristã
O conceito de doutrina é muito amplo e empregado em outras áreas além da teologia, como por exemplo, a filosofia e o direito. Além disso, a maioria das religiões possui suas doutrinas que expressam as crenças que constituem seus sistemas religiosos.
Porém, a doutrina cristã possui um caráter singular e incomparável a qualquer outra. Isso porque ela não se baseia em meras tradições, experiências pessoais ou na observação de eventos e fenômenos naturais, mas sua fonte é a Escritura como a auto-revelação de Deus aos homens. Essa revelação é infalível, inerrante e autoritativa.
Por esse motivo o apóstolo Paulo escreve que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16,17).
Esse texto bíblico também revela que a doutrina cristã possui uma aplicação prática e essencial à vida da Igreja. Não se trata de algo abstrato e estritamente técnico com valor puramente intelectual.
Como bem define Millard Erickson em sua Teologia Sistemática, a doutrina cristã é a declaração das crenças mais fundamentais do cristão, ou seja, as crenças sobre a natureza de Deus; sobre sua ação; sobre nós – que somos suas criaturas; e sobre o que Deus fez para nos trazer à comunhão com Ele. Essas crenças são a espécie mais importante de verdades; são as declarações mais importantes sobre as questões fundamentais da vida.
Quais são as doutrinas bíblicas?
Se uma doutrina é tudo aquilo que a Bíblia diz sobre certo assunto, então há realmente muitas doutrinas bíblicas. Contudo, os cristãos têm apropriadamente identificados essas doutrinas de modo a distingui-las em doutrinas básicas e doutrinas secundárias.
As doutrinas básicas constituem os pilares da Fé Cristã. Wayne Grudem explica que uma doutrina básica é aquela que causa um impacto significativo sobre o nosso pensamento e sobre as demais doutrinas, ou que exerce um impacto significativo sobre o modo como se vive a vida cristã.
De acordo com essa definição, doutrinas como a autoridade da Bíblia, o ser de Deus – incluindo seus atributos e a Trindade –, a realidade do pecado, a pessoa de Cristo – incluindo suas naturezas humana e divina –, a justificação pela fé, a consumação de todas as coisas – com a volta de Cristo e o juízo final – são algumas daquelas consideradas doutrinas bíblicas básicas. Por exemplo: alguém que nega a doutrina da humanidade ou da divindade de Cristo, não pode ser identificado como cristão, pois não aceita um dos pilares da Fé Cristã.
Já as doutrinas secundárias, conforme Grudem explica, são aquelas que causam pouco impacto sobre as outras doutrinas, e bem pouca influência sobre o modo como vivemos a vida cristã. Normalmente no campo das doutrinas secundárias é comum que existam divergências interpretativas entre os cristãos. Essas divergências são toleradas porque não ameaçam os princípios básicos da Fé Cristã.
Um exemplo de doutrina secundária é a discussão da cronologia dos eventos escatológicos descritos na Bíblia. Definir se o arrebatamento será antes ou depois da grande tribulação é uma doutrina secundária.
As doutrinas bíblicas também podem ser tratadas de forma ampla ou específica. Por exemplo: a doutrina das últimas coisas possui muito conteúdo e uma grande variedade de assuntos. Se essa doutrina for tratada de forma ampla, ela deve abordar tudo o que a Bíblia diz sobre o fim dos tempos e a consumação final da História. Porém, podemos falar de forma específica sobre a doutrina do milênio, que por sua vez está dentro de um todo maior que é a doutrina do fim dos tempos.
As falsas doutrinas
Infelizmente em muitos círculos cristãos doutrinas estranhas às Escrituras acabaram ganhando espaço. Isso resultou não apenas num afastamento dos princípios bíblicos, mas numa visão distorcida do que realmente é uma doutrina bíblica.
Para muitos, por exemplo, doutrina simplesmente é sinônimo de imposição de usos e costumes, regras rígidas de estética, e certas proibições de convívio social. Esse tipo de visão é completamente equivocado e acaba por privar as pessoas da verdadeira doutrina bíblica acerca do que significa viver neste mundo como um genuíno seguidor de Cristo de modo a glorificar a Deus em todas as coisas.
O costume das pessoas fazerem suas próprias adições às doutrinas das Escrituras é muito antigo. Citando o profeta Isaías, o próprio Senhor Jesus denunciou a hipocrisia daqueles que viviam da aparência gerada por doutrinas humanas: “Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15:8,9).
O apóstolo Paulo também escreveu sobre a inutilidade das doutrinas dos homens (Colossenses 2:21-23). Basicamente todo o conjunto de ensinamentos contrários ou além do que a Bíblia diz, é uma falsa doutrina – ainda que existam falsas doutrinas mais perigosas que outras.
O mesmo apóstolo ainda alertou que nos últimos tempos as pessoas não suportariam a sã doutrina e tomariam para si mestres que ensinariam aquilo que lhes dá prazer; elas dariam ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios (1 Timóteo 4:1; 2 Timóteo 4:3). Sem dúvida estamos vivendo dias assim!