Sem dúvida, “evangelho” é uma das palavras mais utilizadas entre os cristãos. Apesar disso, muitas pessoas não sabem exatamente o seu conceito, aplicação e significado. Neste texto, aprenderemos sobre o que é Evangelho, e o que significa essa palavra.
O que significa evangelho?
Evangelho significa “boas-novas” ou “boas-notícias”. Sua origem vem do grego euangelion. Apesar do termo “evangelho” poder ser aplicado em outros contextos, como em seu sentido clássico e original para se referir a recompensa dada pela entrega de boas notícias, obviamente sua aplicação mais conhecida é o sentido que possui na literatura cristã, no caso, referente à mensagem essencial da salvação.
Vale ressaltar que a palavra “evangelho” é usada somente no Novo Testamento. Mesmo na Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento), a palavra “evangelho” ocorre apenas uma única vez (2Sm 4:10), porém em sua aplicação clássica, como já explicamos. Na ocasião, o termo “evangelho” foi aplicado para se referir às notícias sobre a morte de Saul.
O que é o Evangelho de fato?
Sabendo então qual o significado da palavra evangelho, resta-nos entender o que realmente é o Evangelho. Talvez a definição mais clara e objetiva sobre o que é o Evangelho, foi registrada pelo Apóstolo Paulo, escrevendo sua Carta aos Romanos, ao dizer que o Evangelho “é o poder de Deus para salvar” (Rm 1:16).
Em outras palavras, o que Paulo está dizendo é que o Evangelho é o próprio evento de Cristo, ou seja, o Cristo crucificado, Sua obra completa na cruz. Sobre isso, o mesmo Paulo dá mais detalhes, dessa vez escrevendo aos Coríntios. Paulo fala que é pelo Evangelho que somos salvos, pois o Evangelho é a mensagem de que “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1Co 15:1-6).
No Evangelho de Marcos (1:15), temos outra definição interessante acerca do que é o Evangelho. Marcos escreve que Jesus foi para a Galiléia, anunciando as boas novas de Deus. Seu anúncio consistia em dizer que “o tempo é chegado, e o Reino de Deus está próximo“, acompanhado da exortação acerca do arrependimento: “Arrependam-se e creiam nas boas novas!“.
No Novo Testamento, o termo “evangelho” é empregado pelo menos setenta e seis vezes, sempre no sentido cristão, isto é, o da mensagem essencial da salvação. Em tais passagens, a palavra “evangelho” é acompanhada de diversas frases descritivas, porém sempre conservando o mesmo significado, como por exemplo:
- O Evangelho do Reino (Mt 4:23; 9:35; 24:14).
- O Evangelho de Jesus Cristo (Mc 1:1; Rm 15:19; 1Co 9:12; 2Co 2:12).
- O Evangelho de Deus (Mc 1:14; Rm 1:1; 15:16).
- O Evangelho da Graça de Deus (At 20:24).
- O Evangelho de Seu Filho (Rm 1:9).
- O Evangelho da Glória de Cristo (2Co 4:4).
- O Evangelho da vossa salvação (Ef 1:13).
- O Evangelho da paz (Ef 6:15).
- O Evangelho eterno (Ap 14:6).
Ainda no Novo Testamento, podemos encontrar muitas outras explicações acerca do que é o Evangelho. Na Epístola aos Tessalonicenses (1:5), aprendemos que o Evangelho não vem somente em palavras, mas também em poder, e, comparando com a passagem já citada em Romanos 1:16, compreendemos que o Evangelho é o próprio poder de Deus, que revela a Sua Justiça e conduz à salvação todos aqueles que crêem.
Escrevendo a Timóteo, Paulo refere-se ao Evangelho como um tesouro sagrado (1Tm 1:11). Paulo ainda declara que o Evangelho é a “palavra da verdade” (Ef 1:13), e está oculto dos incrédulos (2Co 4:3,4) os quais pedem sinais miraculosos ou procuram alguma sabedoria que possa prová-lo. Por isso, Paulo diz que o Evangelho é escândalo para os que buscam sinais, e loucura para os que buscam provas racionais (1Co 1:23).
O Evangelho e o Antigo Testamento
É comum algumas pessoas entenderem o Evangelho de maneira contraposta ao Antigo Testamento, como se Deus tivesse mudado Sua maneira de se relacionar com o homem. Esse tipo de interpretação é equivocada, e acaba afrontando a coerência da Escritura em si.
O Evangelho deve ser entendido como o cumprimento da promessa central do Antigo Testamento. O próprio Jesus nos ensinou a entender dessa forma. Em várias passagens, Jesus identifica as profecias registradas no Antigo Testamento como uma descrição de seu próprio ministério (Mt 11:2-5; Lc 4:16-21).
O mesmo entendimento foi seguido pelos Apóstolos. Apesar de no livro de Gênesis (3:15) encontrarmos a mais antiga promessa acerca da redenção, é na promessa de Deus a Abraão que podemos compreendê-la de maneira mais clara. Foi assim que o Apóstolo Paulo entendeu. Escrevendo aos Gálatas (3:8), ele ressalta como o Evangelho foi pregado primeiramente a Abraão. Paulo refere-se a seguinte promessa: “Em ti serão abençoadas todas as nações” (Gn 12:3; 18:18; 22:18).
No decorrer do próprio capítulo 3 de Gálatas, Paulo explica qual deve ser a maneira correta de interpretar essa promessa. A “benção” citada na promessa é a justificação pela fé, e a expressão “em ti” refere-se ao próprio Messias, ou seja, a “semente da mulher” descrita no texto de Gênesis. Esse princípio fica claro quando entendemos que a expressão “todas as nações” referia-se a algo ainda futuro. Sobre isso, o próprio Paulo conclui dizendo:
Assim também as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. A Escritura não diz: “E aos seus descendentes”, como se falando de muitos, mas: “Ao seu descendente”, dando a entender que se trata de um só, isto é, Cristo. (Gálatas 3:16)
Por toda a antiga dispensação, o Evangelho foi anunciado, porém foi por meio da morte e ressurreição de Cristo que a mensagem se tornou mais explicita.
O outro Evangelho
Desde os tempos apostólicos, muitas tentativas de distorcer o Evangelho genuíno foram feitas com o objetivo de contaminar a Igreja (Gl 1:7). O Apóstolo Paulo fala de “um outro evangelho” (Gl 1:5). Porém, esse “outro evangelho”, não se trata de uma alternativa ao Evangelho de Cristo, ao contrário, trata-se de um falso evangelho. Paulo diz que o outro evangelho “na realidade, não é evangelho” (Gl 1:7).
Paulo então faz um sério alerta, ao dizer que “ainda que nós (os Apóstolos) ou um anjo do céu pregue um Evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado“. Depois, Paulo ensina que o verdadeiro Evangelho de Deus é sua revelação, e não o resultado de sabedoria humana (Gl 1:11).
Hoje, o que mais vemos por aí são pessoas tentando persuadir multidões para que sigam esse falso evangelho. Diante disso, não devemos dar ouvidos a espíritos enganadores, que anunciam doutrinas de demônios (1Tm 4:1). Como seguidores de Cristo, testemunhas dEle na terra, devemos defender o Evangelho genuíno a qualquer custo, mesmo que nos cause aflições (1Ts 2:2; 2Tm 1:8).
Os Quatro Evangelhos
Posteriormente (a partir do século 2 d.C.), foi empregado o termo “Evangelhos” para designar os quatro livros que registram os ensinos de Jesus e os detalhes de Seu ministério. Temos então os escritos de Mateus, Marcos e Lucas, que são chamados de “Evangelhos Sinóticos“, pois possuem muitas semelhanças entre si. Por último, temos ainda o Evangelho Segundo João, que, apesar de apresentar uma forma diferente dos Sinóticos, também traz necessariamente a mesma pregação.
Portanto, devido ao conteúdo único da mensagem presente em tais escritos, os quatro livros foram chamados de “Evangelhos“. Muitos outros registros foram escritos supostamente sobre a vida de Jesus, e conhecidos geralmente como “Evangelhos Apócrifos“. Digo “supostamente”, pois não são dignos de confiança, já que trazem ensinos que claramente contrastam com a Bíblia, além de que muitos deles, possuem total influência gnóstica, baseando-se em contos fantasiosos e sem sentido. A maioria desses “evangelhos” foi escrita séculos depois de Cristo, ao contrário dos quatro Evangelhos presentes no Novo Testamento.
Para melhor compreensão acerca deste assunto, sugerimos a leitura dos textos: “O que é um Evangelista?” e “O que é Evangelismo?“.