Genealogia é uma lista que estabelece a linhagem de um individuo ou de uma família através de uma relação de nomes de seus antepassados. Essa lista geralmente é chamada na atualidade de árvore genealógica. Entender o que é genealogia é importante para o estudo bíblico, pois na Bíblia encontramos várias genealogias.
Apesar do sentido mais comum das listas genealógicas ser o registro da descendência de alguém, às vezes uma genealogia pode ser simplesmente uma relação de nomes de várias pessoas, que, por algum motivo, aparecem relacionadas em determinada situação.
O significado de genealogia na Bíblia
A palavra genealogia na Bíblia traduz o hebraico yahas, e ocorre apenas uma única vez no Antigo Testamento na forma de um substantivo na expressão “livro da genealogia” em Neemias 7:5, onde é apresentada uma lista de pessoas que retornaram a Jerusalém após o cativeiro babilônico.
Também encontramos no Antigo Testamento a palavra hityahes, “listar por genealogia”, que é a forma causal do verbo yahas, que significa “registrar”. Essa palavra aparece nos livros de Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.
Outra palavra que também é utilizada no sentido de genealogia é o hebraico toledote, que significa “gerações” e aparece, por exemplo, na frase “livro das gerações”, que se propõe a contar a história genealógica de alguém (Gn 5:1).
No Novo Testamento, a palavra genealogia traduz o grego genesis, “fonte” ou “origem”, na frase biblos geneseos, “livro da genealogia”, em Mateus 1:1. Já em 1 Timóteo 1:4 e Tito 3:9, o apóstolo Paulo empregou no original o termo grego genealogia, enquanto o escritor do livro de Hebreus utilizou o verbo corresponde genealogeo, que significa “pautar a ascendência”, para se referir à falta de informações genealógicas sobre Melquisedeque.
As genealogias no Antigo Testamento
Muitas listas genealógicas podem ser encontradas no Antigo Testamento. Algumas fornecem mais detalhes, como, idade, profissão e quantidade de filhos, e outras simplesmente mostram uma relação de nomes. Dentre todas, podemos citar algumas principais:
- Genealogia de Caim (Gn 4:17-22).
- Genealogia de Adão a Noé de acordo com a linhagem de Sete (Gn 5:1; cf. 1Cr 1:1-4).
- Descendência de Noé no estabelecimento das nações (Gn 10; cf. 1Cr 1:4-23).
- Genealogia de Sem a Abraão (Gn 11:10-26; cf. 1Cr 1:24-27).
- Descendentes de Tera (Gn 11:27-31), de Naor, irmão de Abraão (Gn 22:20-24) e de Ló (Gn 19:36-38).
- Descendentes de Abraão (Gn 25:1-4; cf. 1Cr 1:28-33), de Ismael (Gn 25:12-17; cf. 1Cr 1:29-31) e de Isaque (1Cr 1:34).
- Descendentes de Esaú (Gn 36; cf. 1Cr 1:35-54) e de Jacó (Gn 46:8-27; cf. 1Cr 2-8). Obviamente na lista genealógica de Jacó inclui-se a genealogia de cada um de seus descendentes que resultaram nas Doze Tribos de Israel. Dentre estes, podemos destacar as genealogias de Levi, que estabelecia a linguagem sacerdotal (Gn 46:11; Êx 6:16-26) e Judá, da qual o Messias haveria de vir (Gn 46:12; Nm 26:19-22; 1Cr 2:3-4:22; 9:4). Essa última era também a linhagem de Davi, da qual descendia a casa real de Judá, de Salomão a Josias (1Cr 3:10-15).
Lista genealogia no Novo Testamento
No Novo Testamento encontramos apenas duas listas genealógicas, e ambas se referem à genealogia de Jesus (Mt 1:1-17; Lc 3:23-38). Naturalmente existem diferenças entre essas duas listas de genealogias, pois cada uma se propõe a atender o objetivo de cada evangelista de acordo com o propósito de seu livro.
O apóstolo Mateus traçou a descendência de Jesus com ênfase na casa de Davi, partindo de Abraão. Com isso, seu objetivo era demonstrar que Jesus era o legítimo herdeiro do trono, e o Messias prometido de Israel.
Lucas também mostrou que Jesus é o Messias de Israel, mas recuou sua lista genealógica até Adão, talvez uma forma de demonstrar o foco primário mais universal de sua obra.
As genealogias de Jesus presentes no primeiro e terceiro Evangelhos são alvos de muitos debates e discussões sobre a forma com que os escritores resumiram e apresentaram tais listas, bem como algumas diferenças entre os nomes que aparecem nelas. De qualquer forma, as duas listas mostram que Jesus é o Messias descendente de Davi.
Tipos de genealogia
Na Bíblia encontramos alguns tipos diferentes de genealogias. Existem genealogias que priorizam a família real, enquanto outras focam a família sacerdotal. Há também listas genealógicas que mostram os chefes tribais, ou simplesmente os chefes das casas.
Tais listas genealógicas podem ser organizadas de forma ascendente ou descendente. A genealogia descendente é aquele que constrói a lista de pai a filho, ou seja, A gerou B. Já a genealogia ascendente é aquela que se organiza de filho a pai, isto é, A é filho de B.
Um exemplo de listagem em descendência e ascendência é a linhagem de Arão em Esdras 7:1-5 e 1 Crônicas 6:3-14 respectivamente.
Qual o objetivo das genealogias na Bíblia?
As genealogias mostram a história do povo de Israel, tratando tanto de seus ancestrais quanto de seus descendentes, e dessa forma explicando também a relação do povo da Aliança com seus vizinhos. Em outras palavras, as genealogias são peças centrais nos registros que contam a história dos hebreus.
As listas genealógicas também serviam para estabelecer a base de sucessão do sacerdócio arônico, bem como a linhagem real da casa de Davi. Assim, além de registrar as descendências, essas listas também tinham o objetivo de comprovar a legitimidade da função de um determinado individuo. Por exemplo, algumas pessoas não conseguiram provar através das listas genealógicas que eram descendentes de Levi, e tiveram que abandonar o sacerdócio.
Sem dúvida, à luz do Novo Testamento, podemos perceber que, de certa forma, a principal função das genealogias registradas no Antigo Testamento era apontar para Cristo, provando sua veracidade como o Messias prometido. Quando Mateus e Lucas proveram a genealogia de Jesus em seus respectivos livros, eles estavam basicamente explorando essa função fundamental.
É possível estabelecer cronologia através das genealogias?
Com base nas listas genealógicas encontradas na Bíblia, podemos dizer que quase sempre não, ou seja, como vimos acima, as genealogias não possuíam o propósito de estabelecer uma cronologia exata.
Na verdade esse assunto é muito complexo, pois existem grandes possibilidades de haver lacunas genealógicas em várias listas. Isso de forma alguma deve ser entendido como um erro, ao contrário, os autores bíblicos muitas vezes priorizavam os elementos centrais e relevantes para a história que estava sendo contada, e isso poderia ocasionar, por exemplo, no fato de uma determinada geração ter sido omitida,simplesmente por não possuir importância significativa para a narrativa.
Em alguns casos, temos pistas de quando ocorre essa omissão, como por exemplo, na genealogia de Arão registrada no livro de Esdras, que omite seis nomes quando comparada a mesma genealogia registrada em 1 Crônicas (cf. Ed 7:1-5; 1Cr 6:3-14). Existem muitos casos semelhantes a esse, como a comparação entre as genealogias de Jacó a Moisés (Êx 6:16-20; Nm 3:17-19) e Jacó e Josué (1Cr 2:2; 7:20-29).
Essa questão pode ser mais bem compreendida quando entendemos a forma com que as palavras hebraicas ben e yalad podiam ser empregadas. A palavra ben podia significar tanto “filho” como também “neto”, “bisneto”, “tataraneto” ou simplesmente “descendente”.
Logo, o verbo yalad também podia ser aplicado não apenas no sentido de “A gerou B”, mas também de “A se tornou ancestral de B”. Dessa forma, existem listas que não focam exatamente os indivíduos e seus parentescos como pais e filhos, mas objetivam mostrar a origem de tribos, povos e nações, onde apenas as figuras mais importantes que contribuem para esse propósito são citadas.
Às vezes, numa simples citação, podemos perceber essa pratica. Por exemplo, o profeta Daniel em seu livro, mencionou Belsazar como sendo filho do rei Nabucodonosor, quando na verdade possivelmente ele era seu neto. Isso é completamente compreensível, visto que seu pai biológico, Nabonido, não tinha qualquer importância para o evento que estava sendo descrito.
As genealogias e as mulheres
Dificilmente as mulheres eram citadas nas genealogias do antigo Oriente Próximo. No entanto, em ocasiões especiais poderia ocorrer alguma exceção. Na Bíblia, o caso mais significativo encontra-se na genealogia de Jesus, onde cinco mulheres são citadas de forma explicita, sendo elas: Tamar, Raabe, Rute, Bate-Seba e Maria (Mt 1:2-16).
O fato de essas mulheres serem citadas na genealogia de Jesus mostra que elas faziam parte do propósito de Deus de enviar seu Filho, bem como também enfatiza sua soberania na condução da História. Isso fica bem claro quando nos lembramos da história dessas mulheres no Antigo Testamento.
Tamar expõe os erros de Judá (Gn 38:6-30); Raabe era uma prostituta gentia (Js 2); Rute era uma viúva moabita, ou seja, pertencia a um povo a qual os filhos de Israel estavam terminantemente proibidos de ter qualquer relacionamento (Dt 23:3-5); e Bate-Seba foi a esposa de Urias que representou a queda de Davi (2Sm 11).
Paulo proibiu o uso de genealogias?
Com base no que o apóstolo Paulo escreveu a Timóteo e a Tito (1Tm 1:4; Tt 3:9), algumas pessoas entendem que o apóstolo criticou e proibiu o uso de genealogias, quando as relacionou com fábulas e discussões loucas.
Na verdade o apóstolo Paulo não estava censurando as genealogias do Antigo Testamento que muito nos ajudam a compreender o contexto histórico e o pano de fundo da história bíblica, mas estava se referindo a uma série de contos especulativos acerca das origens do mundo, e que são encontrados em livros apócrifos dos judeus.
Essas histórias fantásticas mais tarde acabaram evoluindo e se tornaram parte da literatura gnóstica, onde falsos mestres utilizavam as árvores genealógicas presentes no gnosticismo para perverter o ensino do Evangelho.
Assim, não há qualquer proibição sobre o estudo das linhagens genealógicas descritas na Bíblia, desde que, é claro, fiquemos apenas com os relatos bíblicos sem criar falsas teorias sobre o assunto. Dessa forma, então é importante sabermos o que é genealogia para que possamos usá-las, especialmente, como auxílio no estudo de vários textos do Antigo Testamento.