A Septuaginta é a tradução grega do Antigo Testamento hebraico, a Bíblia dos judeus. A Septuaginta, também conhecida pela sigla romana LXX, não só é a mais importante tradução grega veterotestamentária, mas também é a mais influente tradução antiga em qualquer idioma. A seguir, entenderemos melhor o que é a Septuaginta.
História e origem da Septuaginta
A origem da Septuaginta ainda é bastante discutida. Existe uma tradição judaica que conta que Ptolomeu Filadelfo, rei do Egito entre 281 a 246 a.C., persuadido pelo bibliotecário de Alexandria, apelou ao sumo sacerdote de Jerusalém para obter uma tradução das Escrituras hebraicas.
Então, em aproximadamente 250 a.C., foi reunido na Ilha de Faros, próximo a Alexandria, um grupo formado por 72 anciãos com o objetivo de traduzir a Bíblia dos judeus para o idioma grego.
Segundo essa tradição, o grupo realizou toda a tradução em 72 dias, e, após esse período, o texto grego foi lido perante o povo e recebeu grande aprovação, sendo, finalmente, apresentado a Ptolomeu.
Foi justamente por conta dessa tradição que surgiu o título em latim “Septuaginta”, que significa “setenta”, abreviado pelo numeral romano “LXX”.
Na verdade, toda essa tradição é tida como um tipo de lenda, baseada, principalmente, no conteúdo de uma carta supostamente escrita por alguém chamado Aristéias ao seu irmão Filócrates.
Com o tempo, vários detalhes, até mesmo de eventos miraculosos, foram adicionados a essa tradição, causando também muitas divergências entre os relados sobre a origem da Septuaginta.
O que muito provavelmente tem de real nessa tradição, é o fato de que, pelo menos a Torá, isto é, os cinco livros de Moisés, foi traduzida para o idioma grego no Egito por volta de 250 a.C., com o principal objetivo de servir os judeus de fala grega que viviam, sobretudo, em Alexandria.
Assim, a Septuaginta original consistia do Pentateuco, e, posteriormente, o restante dos livros do Antigo Testamento foi sendo traduzido e adicionado a ela, bem como alguns livros não canônicos (os Apócrifos), como por exemplo, Siraque, Tobias etc.
Estes últimos não constam no Antigo Testamento judaico e foram sendo traduzidos até o início da era cristã. Além dos chamados Apócrifos, também foram adicionados alguns textos não canônicos como parte de livros canônicos. Vale dizer que alguns itens dos livros Apócrifos nem mesmo constituem uma tradução, e sim, composições livres já no grego.
A linguagem da Septuaginta
O grego utilizado na Septuaginta é o Koiné, embora que não se pode assumir que em todo seu texto ele esteja preservado de forma franca.
Na verdade, em algumas passagens existem hebraísmos e até o próprio hebraico disfarçado. Assim, trechos que foram mal traduzidos abrem espaço para várias observações, quanto à qualificação e a consistência da tradução.
Apesar disso, de modo geral muitos eruditos consideram a Septuaginta fiel ao texto original hebraico, especialmente no Pentateuco, mas claro, apenas fazendo algumas considerações textuais sobre o fato de que em alguns trechos encontra-se uma tradução bastante literal e em outros um tipo de tradução livre, às vezes até um tanto que inteligível.
O uso da Septuaginta
No período interbíblico (ou intertestamentário), os judeus, após o exílio na Babilônia, trocaram o hebraico pelo aramaico. Da mesma forma, os judeus que viviam em centros helenísticos como Alexandria, no Egito, adotaram o grego.
Aqui vale lembrar que muitos judeus viviam nesses centros helenísticos, sobretudo, por conta dos favores que eles desfrutaram com Alexandre, o Grande. Mesmo depois da morte de Alexandre, muitos judeus continuaram migrando para esses centros, principalmente para Alexandria.
Com o tempo, esses judeus de língua grega que viviam fora da Palestina se tornaram incapazes de compreender o texto hebraico. Sob esse contexto, a Septuaginta possuiu uma influência notável, já que ela disponibilizou as Escrituras não só para os judeus que haviam perdido sua língua ancestral como também para todo o mundo de fala grega.
Além disso, a Septuaginta foi projetada também com a finalidade de atender a leitura pública nas Sinagogas, sendo então bastante útil nesse aspecto.
Já na era cristã, a Septuaginta tornou-se ainda a Bíblia amplamente utilizada pela Igreja Primitiva, inclusive sendo citada no Novo Testamento. Dos autores neotestamentários, Lucas e o autor da Epístola aos Hebreus foram os que mais fizeram citações de textos da Septuaginta.
Os missionários cristãos faziam uso da Septuaginta e a levavam por todas as partes no processo de evangelização e plantação de comunidades cristãs. Também se deve a ampla popularização da Septuaginta o fato de alguns Apócrifos terem sido mantidos em determinados círculos do cristianismo.