Os sete Espíritos de Deus são mencionados quatros vezes no livro do Apocalipse (Apocalipse 1:4; 3:1; 4:5; 5:6). O significado da expressão “sete Espíritos de Deus” tem sido debatido pelos cristãos há muito tempo. Por isso há diferentes interpretações que procuram explicar quem são ou quais são os sete Espíritos de Deus.
De fato a Bíblia não define de forma clara e detalhada a expressão “sete Espíritos de Deus”. Mas as Escrituras nos fornecem algumas informações que são essenciais para compreendermos o significado dessa declaração bíblica.
O que a Bíblia fala sobre os sete Espíritos de Deus?
As passagens bíblicas onde essa expressão é utilizada nos dizem o seguinte:
- Em Apocalipse 1:4, os sete Espíritos de Deus são mencionados na saudação introdutória do livro.
- Em Apocalipse 3:1, Jesus se apresenta à igreja em Sardes como sendo aquele que “tem os sete Espíritos de Deus”.
- Em Apocalipse 4:5, na visão do trono de Deus, os sete Espíritos de Deus aparecem relacionados à figura de sete lâmpadas que estão diante do trono.
- Em Apocalipse 5:6, na visão de Cristo exaltado recebendo das mãos do Pai o livro selado com sete selos, os sete Espíritos de Deus enviados por toda terra são mencionados em conexão com os sete chifres e os sete olhos do Cordeiro.
Qual o significado dos sete Espíritos de Deus?
Com base nessas passagens e à luz de outros textos Bíblicos, existem três interpretações diferentes que são sugeridas pelos estudiosos como sendo o significado correto da expressão “sete Espíritos de Deus”. São elas:
- Os sete Espíritos de Deus são anjos.
- Os sete Espíritos de Deus são seres celestiais poderosos superiores aos anjos.
- A expressão “sete Espíritos de Deus” é uma descrição simbólica do Espírito Santo.
A seguir, entenderemos melhor cada uma dessas sugestões, e analisaremos qual delas é a mais coerente com o relato bíblico.
1. Os sete Espíritos de Deus são anjos
Alguns estudiosos entendem que os sete Espíritos são sete anjos que estão diante do trono de Deus. Eles se baseiam, principalmente, em passagens bíblicas em que os anjos às vezes são chamados “espíritos”, como em Hebreus 1:7,14.
O grande problema com essa interpretação é que no livro do Apocalipse nunca os anjos são chamados de “espíritos”. Além disso, não faz qualquer sentido a expressão “sete Espíritos” ser aplicada aos anjos já que em várias passagens o escritor do Apocalipse usa a expressão “sete anjos” (Apocalipse 15:1,6-8; 16:1; 17:1; 21:9).
2. Os sete Espíritos de Deus são seres celestiais
Esta interpretação é bastante semelhante à sugestão anterior. Ela também defende que os sete Espíritos de Deus são sete seres celestiais. Mas esta interpretação diz que esses seres celestiais são superiores aos anjos ou pertencem a uma ordem mais elevada. Seja como for, esses sete seres supostamente servem como símbolos da majestade divina.
Mas esta interpretação possui suas dificuldades. Primeiro, há um grande problema na definição de quem são esses sete seres. Alguns argumentam que talvez sejam serafins, querubins, ou, quem sabe, arcanjos. Geralmente quem defende esta sugestão se utiliza de alguma forma passagens que descrevem seres celestiais no Apocalipse (cf. Apocalipse 4:6; 5:6; 19:4).
A segunda dificuldade diz respeito ao fato de que quando a expressão “sete Espíritos de Deus” é utilizada, ela parece completar a plenitude da Trindade. A passagem de Apocalipse 1:4 é um exemplo claro disso. Nela há uma saudação onde aparecem, de forma explicita, o Pai e o Filho. Assim, mesmo esses seres celestiais sendo poderosos e superiores aos anjos, eles necessariamente são inferiores a Deus e não podem ser mencionados no sentido que tal expressão transmite.
3. A expressão “sete Espíritos de Deus” simboliza o Espírito Santo
Sem dúvida a interpretação mais coerente biblicamente é esta que diz que os sete Espíritos de Deus é uma designação simbólica do Espírito Santo. A linguagem simbólica realmente é predominante no livro do Apocalipse. Sob essa ótica, os números possuem uma aplicação muito significativa. Especificamente sobre o número “sete”, podemos dizer que ele é utilizado desde o Antigo Testamento para transmitir o sentido de “pleno”, “totalitário” e “completo”.
Na verdade o numero “sete” é empregado pelo menos 54 vezes no Apocalipse de forma explicita. É por isso que temos os sete selos, sete trombetas, sete taças etc. Além disso, ele também ocorre de forma implícita, onde muitas vezes uma mensagem é agrupada em padrões de sete. Um exemplo disto são as sete bem-aventuranças presentes no livro (Apocalipse 1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7; 22:14).
Também é fundamental perceber que o livro do Apocalipse enfatiza a Trindade; mas curiosamente nenhuma vez o escritor bíblico utiliza o título “Espírito Santo”. Entretanto, encontramos nesse livro a designação “sete Espíritos de Deus” que no original também pode ser traduzida como “o Espírito sétuplo de Deus”. Então quando combinamos o uso dessa expressão com o significado do número “sete” em todo o livro, entendemos que claramente a designação “sete Espíritos de Deus” se trata de uma referência ao Espírito Santo.
Os “sete Espíritos de Deus” e a plenitude do Espírito Santo
Como já foi dito, a primeira vez que a expressão “sete Espíritos de Deus” aparece no Apocalipse ela ocorre numa saudação trinitária (Apocalipse 1:4,5). Perceba que primeiro o apóstolo João menciona Deus Pai: “graça e paz seja convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir”. Depois, o apóstolo menciona os sete Espíritos: “e dos sete Espíritos que estão diante do seu trono”. Finalmente, no versículo seguinte, ele menciona o Filho: “e da parte de Jesus Cristo”.
Diante dessa saudação, podemos concluir que a expressão “sete Espíritos de Deus” só pode falar de alguém que completa a plenitude da Trindade. Então isto naturalmente nos leva a entender que esse alguém é o Espírito Santo. Há outras saudações trinitárias na Bíblia que mostram que a graça e a paz provém de Deus o Pai, do Filho e do Espírito (cf. 2 Coríntios 13:14; 1 Pedro 1:1,2).
A obra dos “sete Espíritos de Deus”
Em Apocalipse 5:6, lemos que os sete Espíritos de Deus são enviados a toda a terra. Essa descrição está completamente de acordo com a atuação do Espírito Santo no mundo. É o Espírito Santo quem aplica a obra da redenção na vida do pecador. Então através da pregação do Evangelho pela Igreja, pessoas de todas as nações são levadas a conhecer a Deus.
Inclusive existe uma semelhança muito grande entre a forma como João emprega essa expressão em Apocalipse 4:5 e a profecia do profeta Zacarias sobre a atuação do Espírito de Deus (Zacarias 4:2-6).
Algumas pessoas também utilizam uma profecia com implicações messiânicas do profeta Isaías, onde é dito que sobre o filho de Davi repousaria “o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, e o Espírito de conhecimento e temor do Senhor” (Isaías 11:2).
É claro que esse texto pode ser utilizado para falar do Espírito de Deus, porque é justamente o que ele faz; porém ele não pode ser usado com o objetivo de tentar estabelecer uma designação específica dos sete Espíritos. Sem dúvida este não é o propósito da passagem de Isaías. A profecia de Isaías simplesmente mostra o mesmo e único Espírito de vários ângulos diferentes, refletindo os atributos divinos que são comunicados como dons.
Assim, devemos entender que a designação “sete Espíritos de Deus” não pode ser interpretada de forma fracionada. Na verdade ela deve ser vista como uma unidade perfeita onde a expressão “sete Espíritos de Deus” significa a plenitude do Espírito Santo em sua Pessoa, atuação e influência no mundo e na Igreja. Se você tem alguma dúvida sobre a escatologia bíblica, preparamos um material muito especial para você! (Confira aqui).