O Que Significa Jesus Ter Recebido “Ouro, Incenso e Mirra”?

Jesus recebeu ouro, incenso e mirra após o seu nascimento (Mateus 2:11). Mas a Bíblia não explica literalmente o significado de Jesus ter recebido de presente dos magos ouro, incenso e mirra. Porém, há uma tradição muito antiga dentro do Cristianismo que interpreta que o ouro, o incenso e a mirra com os quais Jesus foi presenteado, significam um reconhecimento de sua realeza, divindade e plena humanidade.

Orígenes foi o primeiro a propor a seguinte interpretação a respeito do ouro, incenso e mirra. Ele escreveu: “Ouro para um rei; incenso para Deus; e mirra para um mortal” (Contra Celso 1.60). É conhecido que Orígenes era um tanto quanto alegórico em suas interpretações. Contudo, neste caso é possível que esta interpretação tenha seu fundamento.

A verdade é que esses três materiais eram produtos nobres e utilizados na antiguidade para os mais variados fins. A Bíblia diz que o ouro foi utilizado em grande quantidade para as obras do Tabernáculo e seus utensílios, e posteriormente para a construção do Templo (Êxodo 25-40; 1 Reis 5-7). Mas por outro lado o ouro também aparece na Bíblia ligado a praticas reprováveis como a idolatria (Êxodo 32:4).

O incenso, por sua vez, é citado na Bíblia em conexão com a adoração a Deus (Levítico 2:1-16). Mas também é mencionado em atividades da vida comum (Cantares 3:6). Por fim, a mirra era um dos ingredientes do óleo da unção, mas na maioria das vezes ela é citada na Bíblia como um cosmético, algo medicinal ou um produto usado em funerais (Ester 2:12; Marcos 15:23; João 19:34,40).

Isso deixa claro que esses três itens eram usados nos tempos bíblicos de forma muito variada. Mas é possível que no caso específico dos presentes dos magos que visitaram Jesus esses três itens tivessem um significado especial?

Como dissemos, Orígenes e muitos outros intérpretes depois dele acreditaram que sim. E de fato isso faz sentido. Vamos entender o que levou Orígenes a propor essa interpretação.

Ouro, incenso e mirra

O ouro é mencionado na Bíblia com muita frequência no ambiente real. Os reis, os príncipes e os governadores sempre estavam cercados de muito ouro (Gênesis 41:42; 2 Samuel 12:30; 1 Reis 10:14-22; Jó 3:15; Eclesiastes 2:8; Daniel 5:7,29).

Na maioria das vezes em que o incenso é citado na Bíblia, a referência de fato é ao culto ao Senhor. Havia incenso no Santuário – que inclusive contava com um altar de incenso que ficava em frente do Santo dos Santos –, e o incenso fazia parte das ofertas oferecidas a Deus (Levítico 2). Inclusive, esse significado permanece até no Novo Testamento quando o livro do Apocalipse mostra as orações dos crentes como incenso que sobe perante o Senhor (Apocalipse 5:8).

Com relação à mirra, é verdade que ela fazia parte da composição do óleo sagrado da unção. Mas essa é a única referência bíblica onde a mirra aparece ligada ao serviço do Senhor. Em todas as outras a mirra sempre aparece como um produto amplamente utilizado pelas pessoas durantes duas vidas, seja como um cosmético ou como parte de um item com propriedades medicinais.

Uma excelente definição do uso da mirra é aquela apresentada por W. Hendriksen ao dizer que a mirra era usada pelo homem mortal para fazer sua vida mais prazerosa, sua dor menos cruel e sua sepultura menos repulsiva (N.T.C. Matthew, 1981).

Então sim, a interpretação de que o ouro, o incenso e a mirra eram presentes que testificavam da realeza, divindade e humanidade de Cristo, faz todo sentido. Como ainda argumenta W. Hendriksen, o ouro foi dado Àquele que de fato era rei, não qualquer rei, mas o Reis dos reis e Senhor dos senhores. O incenso foi dado Àquele que realmente era Deus, Aquele em quem habita a plenitude da divindade. E a mirra foi dada Àquele que de fato era também plenamente homem e destinado à morte (N.T.C. Matthew, 1981).

Os magos entendiam o que significavam o ouro, o incenso e a mirra?

Não é possível dizer se os magos ao presentearem Jesus com ouro, incenso e mirra, tinham alguma noção dessas implicações. Mas mesmo que eles não tivessem um entendimento completo a esse respeito, o texto bíblico mostra algo indiscutível sobre eles.

De fato os magos, embora fossem gentios, enxergaram em Jesus não apenas mais uma criança que nasceu em Israel, mas alguém que deveria ser honrado da forma mais completa possível – algo que os próprios judeus falharam em reconhecer. Além disso, ao adorarem o Senhor Jesus e trazendo a Ele presentes, os magos estavam cumprindo a Escritura (cf. Salmo 72:10; Isaías 60:6).