Por Que Viver Perseverando na Fé?

A Bíblia fala muito claramente que a vida cristã deve ser perseverando na fé. É verdade também que os cristãos possuem diferentes interpretações sobre essa questão. Alguns entendem que a capacidade da vontade humana possui um papel fundamental na perseverança. Dessa forma, tal perseverança pode ser ameaçada especialmente pela apostasia.

Outros cristãos entendem que a perseverança na fé é um resultado lógico e necessário do processo de salvação que começa e termina em Deus. Isso significa que a salvação é uma obra que pertence a Deus, e Ele garante sua eficácia. Portanto, sob essa visão, não há possibilidade de um crente genuíno deixar em algum momento de perseverar na fé, pois é o próprio Deus quem o preserva.

Como dá para perceber, a grande discussão neste ponto é se um verdadeiro salvo pode finalmente perder sua salvação. No centro dessa discussão está a apostasia. A apostasia significa um abandono consciente e deliberado da fé, no sentido negar a Palavra de Deus e se opor a Ele. É um estado irreversível de rebelião.

Engana-se quem pensa que essa diferença de interpretação está restrita ao Arminianismo e ao Calvinismo. Na verdade existem muitos cristãos que adotam o Arminianismo e defendem que um verdadeiro salvo jamais se perderá. O próprio Jacó Armínio parece ter deixado essa questão aberta. Neste texto não quero tratar dessa discussão de forma específica. Farei isto num próximo texto, onde poderei apresentar de forma adequada as diferentes interpretações sobre esse tema.

O importante aqui é saber que nenhuma das duas interpretações nega as exortações bíblicas acerca da perseverança. Também, ambas as posições reconhecem que a Bíblia fala do maravilhoso conforto que os redimidos possuem acerca da certeza de sua salvação. Resumidamente, pretendo tratar justamente sobre esses dois aspectos.

A perseverança na fé e o pecado

Está fora de questão para o verdadeiro cristão viver uma vida de pecado. Quem assim o faz apenas se mostra não pertencer a Deus (1 João 2:4). A ideia de que aquele que é salvo não passa por lutas, dificuldades e tentações nessa vida, definitivamente não é bíblica.

Exatamente por isto existem inúmeras exortações bíblicas que ressaltam essa realidade e falam acerca da necessidade de perseverar em vigilância. Somos exortados a fugir do mal, resistir ao maligno, não ceder a nossa carne e não nos conformarmos com este mundo.

Mas pela obra do Espírito Santo em nós, somos capacitados a viver conforme os preceitos da Palavra de Deus. Ainda assim, não estamos definitivamente livres do pecado (1 João 1:10). Por isto, precisamos sempre ter em mente que o pecado desagrada a Deus e afronta a sua Lei. O fato de termos sido regenerados, não significa que Deus não reprovará nossas práticas pecaminosas.

Por isto que quando pecamos o Espírito de Deus que habita em nós se entristece (Efésios 4:30). Ele se ofende com nosso pecado! Além disso, a prática do pecado nos distância da alegria da salvação. A alegria da salvação não é a certeza da salvação, mas é o deleite que sentimos por desfrutar de uma comunhão com Deus fazendo aquilo que o agrada (Salmo 51:8-12).

Consequentemente a tudo isso, nosso pecado acaba causando sofrimentos terrenos e juízos temporais da parte de Deus. Apesar de Cristo ter ocupado o nosso lugar e satisfeito a justiça de Deus pagando por nossos pecados, ainda estamos sujeitos à disciplina de Deus. Claro que o salvo não entra em juízo, mas ele não está isento da correção do Senhor. Embora no final essa correção nos traga paz, porque ela é para o nosso bem, no momento em que é aplicada ela parece causar dor e tristeza (Hebreus 5:13).

Perseverando na fé e a segurança da salvação

A palavra de Deus declara uma verdade extraordinária para o verdadeiro cristão. Em Cristo, somos amparados sabendo que Deus é poderoso para nos confirmar irrepreensíveis e firmes até o fim (1 Coríntios 2:8; 1 Tessalonicenses 5:23).

Devemos saber que nossa salvação é uma obra da Santíssima Trindade. Ela foi planejada pelo Pai, mediada pelo Filho e aplicada em nós pelo Espírito Santo. Na verdade a certeza da nossa salvação é garantida pela presença do próprio Espírito Santo em nós (João 14:16-17; Efésios 1:13,14; 4:30). O próprio Jesus se comprometeu com o Pai em guardar aqueles a quem Ele os entregou (João 6:37-40). Ele também prometeu ao seu povo que o manteria seguro (João 10:28).

É justamente por isto que podemos andar perseverando na fé, sabendo que um final glorioso nos espera (Apocalipse 3:21). A razão da nossa perseverança na fé e na obediência ao Senhor não repousa em nosso próprio esforço, mas em Cristo, que através do Espírito Santo, nos preserva. Portanto, biblicamente não existe uma ideia de perseverança humana à parte da preservação Divina. Essa verdade jamais deve ser motivo de ofensa para nós, mas de gratidão e profundo quebrantamento por tão maravilhosa salvação.