A Bíblia fala de prosperidade finanças e riquezas, apesar de algumas pessoas pensarem que não. Do Antigo ao Novo Testamento, mais de quinhentos versículos bíblicos falam especificamente do dinheiro. A falta de entendimento sobre este assunto tem dado espaço a muitas distorções que são ensinadas entre os cristãos. Por isto é fundamental entender o verdadeiro conceito de prosperidade na Bíblia.
O próprio Jesus falou sobre dinheiro ou riquezas durante seu ministério terreno. Quase 1/4 do Sermão do Monte aborda de alguma forma a área financeira. Muitas das parábolas de Jesus também trazem alguma lógica financeira em sua narrativa.
Mas como a Bíblia realmente aborda essa questão da prosperidade, riquezas e vida financeira? Vejamos a seguir.
A fonte da prosperidade e das riquezas
Em primeiro lugar, a Bíblia mostra que a verdadeira prosperidade, em todos os sentidos, é um dom de Deus. Isso significa que Deus é a fonte das riquezas!
Já no Pentateuco encontramos essa verdade. Moisés afirma que é Deus quem dá a força necessária para que alguém adquira riquezas (Deuteronômio 8:18). O cronista descreve o rei Davi louvando ao Senhor e confessando que todas as riquezas estão sob seu controle (1 Crônicas 29:10-14). Através do ministério do profeta Ageu, o próprio Deus declara: “Minha é a prata e meu é o ouro” (Ageu 2:8).
O perigo das riquezas
Em segundo lugar, ao mesmo tempo em que a Bíblia mostra que de Deus provém a prosperidade e as riquezas, ela também adverte contra os perigos de alguém se tornar amante delas. São muitos os textos bíblicos que condenam a avareza e o amor ao dinheiro.
Jesus ensina que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Com isso Jesus não censura as riquezas, mas condena o amor a elas. Isto fica muito claro quando Ele adverte que não se pode servir a dois senhores; ou alguém serve a Deus, ou serve às riquezas (Lucas 16).
O apóstolo Paulo escreve a Timóteo alertando que o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males. O apóstolo enfatiza que os cristãos devem resistir a esse comportamento de cobiça que é tão prejudicial (1 Timóteo 6:10).
O escritor de Hebreus também exorta seus leitores sobre o perigo do amor às riquezas. Ele escreve: “Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus mesmo disse: Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hebreus 13:5).
Quem pode ter uma vida financeira próspera?
Infelizmente é nesta pergunta que surgem muitos equívocos. É verdade que a Bíblia diz que Deus cuida de seu povo, e até estabelece uma relação entre a prosperidade financeira e a ação divina, visto que Deus é a fonte de toda riqueza.
É sabido, por exemplo, que nos tempos do Antigo Testamento o povo de Israel identificava a prosperidade como um sinal da aprovação do Senhor. A própria aliança de Deus com os israelitas contemplava essa conexão entre bênção e obediência.
No entanto, a Bíblia deixa claro que os ímpios também podem ser muito prósperos. Isso significa que Deus concede a prosperidade sem distinção de pessoas. Jesus diz que o Pai “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e derrama a chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:45). Esse favor divino é chamado de graça comum.
É justamente essa verdade que muitos procuram ignorar. Isto porque esse ensinamento bíblico implica numa questão muito importante: não se pode comprar o favor divino! Em outras palavras, não há como sustentar biblicamente a ideia de que só prospera financeiramente aquela que serve a Deus e que contribui com ofertas, dízimos, votos etc.
Inclusive, existem muitas exortações bíblicas para que os justos não invejem a prosperidade dos ímpios. O levita Asafe foi um daqueles que tiveram dificuldade em entender por que ímpios prosperam enquanto justos padecem. Mas no fim ele entendeu que a verdadeira prosperidade do justo está além desta vida, enquanto que a prosperidade do ímpio é apenas terrena e temporal (Salmo 73).
O lugar da contribuição na vida financeira cristã
Na atualidade a teologia da prosperidade procura estabelecer essa relação entre prosperidade e contribuição, de uma forma contrária às Escrituras. Os defensores da teologia da prosperidade pregam o sucesso em todas as áreas, sobretudo na vida financeira, àqueles que contribuem com suas campanhas. Em contra partida, as pessoas consideradas infiéis são amaldiçoadas com toda variedade de problemas. No fundo esse tipo de pensamento é um renascimento daquilo que já foi praticado na Idade Média; quando a Igreja vendia a aprovação e o perdão divino aos fiéis através de indulgências.
É inegável que faz parte da vida financeira do cristão a contribuição com a obra do Senhor. A verdade de que somos chamados a custear o avanço do reino de Deus na terra com nossos recursos financeiros é muito clara.
Na Parábola do Mordomo Infiel Jesus conclui dizendo que o cristão deve fazer amigos para a eternidade usando a riqueza deste mundo. Isto significa que devemos empregar nossos recursos de forma generosa com a finalidade de garantir a proclamação do Evangelho. Um dia aqueles que custearam cada empreendimento missionário, incluindo a manutenção das igrejas locais, se encontrarão nas moradas celestiais com os frutos desse trabalho.
O apóstolo Paulo também ensina que os cristãos devem contribuir alegremente, abundantemente e proporcionalmente à sua renda (1 Coríntios 16:1,2). No entanto, toda a contribuição para a obra do Senhor nunca deve ser feita como um tipo de barganha para se ter uma vida financeira próspera. Nossos dízimos e ofertas devem ser um tipo de adoração, um louvor que expressa nossa gratidão pelas bênçãos de Deus.
Mesmo no Antigo Testamento quando o povo de Israel enxergava a relação direta entre prosperidade e obediência, o favor de Deus jamais era visto sob a base do mérito humano, mas da graça divina. As bênçãos que Deus derramava sobre seu povo era resultado de um favor imerecido!
Portanto, o verdadeiro cristão tem o dever de contribuir com a obra do Senhor. Mas jamais ele deve enxergar essa contribuição como uma moeda de troca para o bem de sua vida financeira.
O verdadeiro padrão bíblico da prosperidade
Com a vinda de Jesus Cristo, a perspectiva acerca da verdadeira prosperidade ganhou outro foco no Novo Testamento. A chegada do reino de Deus em seu caráter espiritual revelou que a verdadeira prosperidade não está relacionada ao sucesso de uma vida financeira ou bens terrenos. Por diversas vezes nosso Senhor repreendeu os religiosos judeus por sua associação equivocada entre sucesso terreno e aprovação divina.
A verdadeira prosperidade está na obra redentora de Cristo; está no novo nascimento operado pelo Espírito Santo na vida do pecador; está na forma com que o pecador é justificado por Deus pelos méritos de seu Filho através da fé; está na realidade de que aquele que estava separado de Deus agora é recebido em sua família de modo filial; e está na revelação de que a habitação do Espírito Santo na vida do redimido é o penhor, a garantia de sua herança.
Para um povo que se considera peregrino nesta terra e que almeja as glórias de uma pátria celestial, a prosperidade terrena já não faz tanto sentido. Daí é possível entender o ensino de Jesus acerca das riquezas e prosperidade: “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mateus 6:19-21).
Como o cristão deve conciliar ética cristã e vida financeira?
O cristão ainda habita neste mundo onde os bens materiais são necessários para sua sobrevivência. Por isto a ética cristã que é inteiramente fundamentada na Palavra de Deus, indica algumas diretrizes para a boa administração da vida financeira.
Essas diretrizes são princípios bíblicos acerca de como devemos tratar a questão da prosperidade de maneira correta. Resumidamente, citaremos alguns destes preceitos a seguir:
O cuidado de Deus em nossa vida financeira
Jesus ensina que o Deus que cuida das aves do céu e das ervas do campo, também cuida de seu povo e garante o essencial para sua sobrevivência. O Pai celestial conhece as nossas necessidades!
Os cristãos devem buscar o reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar, sabendo que estas demais coisas lhes serão acrescentadas (Mateus 6:25-34). O apóstolo Paulo escreve: “O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Filipenses 4:19).
O papel fundamental do trabalho na vida financeira
A verdade de que Deus cuida de seu povo não significa que o cristão deve cruzar os braços esperando que um novo maná caia do céu. A Bíblia aponta o trabalho como um mandamento divino, e como sendo a forma correta de obter rendimentos financeiros (Deuteronômio 5:13; cf. Gênesis 1:26-31).
O livro de Provérbios diz que “todo trabalho árduo traz proveito, mas o só falar leva à pobreza” (Provérbios 14:23). É o trabalho que garante o sustento digno do homem (Provérbios 28:19). Nesse sentido, o sábio alerta que “a riqueza de procedência vã diminuirá, mas quem ajunta com o próprio trabalho a aumentará” (Provérbios 13:11).
A necessidade do planejamento na vida financeira
A vida financeira deve ser planejada, e isto é um princípio bíblico. Praticar o planejamento financeiro não é falta de fé ou duvidar do cuidado divino, mas é obedecer à própria Palavra de Deus. Tiago ensina que o planejamento correto é aquele que considera a soberania divina. Isso significa que devemos planejar, mas não podemos nos esquecer de que somos dependentes e submissos à vontade de Deus (Tiago 4:13-15).
Jesus falou muito claramente sobre a importância do planejamento na Parábola do Construtor da Torre. Apesar de o significado da parábola não estar relacionado especificamente à prosperidade e vida financeira, é possível tirar de sua mensagem duas importantes lições nesse sentido. Em primeiro lugar, um homem sábio planeja e se prepara para a construção de seu empreendimento. Em segundo lugar, aquele que não calcula os custos de suas obras faz papel de tolo (Lucas 14:28,29).
A importância do estudo na vida financeira
A Bíblia Sagrada sempre incentiva o estudo e até aponta seu papel fundamental na construção de bens e gestão da vida financeira. No livro de Provérbios lemos um importante conselho: “Com a sabedoria se edifica a casa, e com o entendimento ela se estabelece; e pelo conhecimento os cômodos ficam repletos do que é precioso e agradável” (Provérbios 24:3,4).
Prosperidade, vida financeira e contentamento
Existem muitas exortações bíblicas acerca do contentamento. O cristão deve aprender a se contentar com aquilo que tem. Certa vez João Batista advertiu alguns soldados a se contentarem com seu salário (Lucas 3:14).
O apóstolo Paulo declara que durante sua vida já havia aprendido a lição do contentamento (Filipenses 4:11). O escritor de Hebreus, como já foi citado, também aconselha os seus leitores sobre esse importante princípio bíblico (Hebreus 13:5).
A prudência na vida financeira
Não se deve submeter a vida financeira à problemas! A Bíblia também fala sobre o erro de se fazer demasiadas dividas (Deuteronômio 15:6; Provérbios 22:7). Num mundo caracterizado pela cultura do consumismo, esse é um princípio muito importante para a boa saúde da vida financeira.
Além disso, a Bíblia também alerta sobre o erro de arriscar a estabilidade financeira em negócios ruins e alheios. Um exemplo disso são os diversos conselhos bíblicos acerca do perigo em se tornar fiador de alguém (Provérbios 11:15; 22:26; 27:13).
Oposto a isso tudo, a Bíblia ensina sobre a necessidade da prudência em poupar e economizar recursos. As economias são fundamentais para enfrentar os tempos de escassez. Nesse ponto podemos aprender até com as formigas. Elas poupam no verão para se manterem vivas no inverno (Provérbios 6:6-8; 21:20).
Prosperidade, vida financeira e generosidade
Já falamos aqui que a contribuição deve ser parte essencial da vida financeira do cristão. Essa contribuição inclui tanto a socorro ao necessitado quanto a manutenção da obra do Senhor na terra.
Mais uma vez é importante lembrar que é um erro enxergar as contribuições como um caminho para a prosperidade. As contribuições devem expressar simplesmente nosso temor e gratidão a Deus (cf. Deuteronômio 14:23). Ao colocarmos nossos recursos à disposição do reino de Deus, estamos honrando ao Senhor (Provérbios 3:9).
Além disso, a Bíblia não nega a conexão entre a generosidade e o princípio da lei da semeadura. Jesus ensina: “Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo” (Lucas 6:38; cf. 2 Coríntios 9:6).
Portanto, a generosidade e as contribuições não servem como forma de barganhar com Deus. Se Deus promete recompensar aquele que age com generosidade, isto se deve ao seu favor gracioso (Provérbios 11:25). Essa recompensa, porém, não necessariamente vira nesta vida terrena.
Por fim, o sábio escritor de Provérbios ensina uma oração muito apropriada sobre a prosperidade. Ele diz: “Mantém longe de mim a falsidade e a mentira; Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário. Se não, tendo demais, eu te negaria e te deixaria, e diria: Quem é o Senhor? Se eu ficasse pobre, poderia vir a roubar, desonrando assim o nome do meu Deus” (Provérbios 30:8,9).
Que possamos então entender a relação entre ética cristã e vida financeira, a fim de que saibamos lidar com o verdadeiro conceito de prosperidade à luz da Palavra de Deus.