Os publicanos eram cobradores de impostos ou de taxas alfandegárias em favor dos romanos. Essa classe trabalhadora aparece em várias passagens da Bíblia no Novo Testamento. É importante saber quem eram os publicanos para uma melhor compreensão dos textos onde eles são mencionados.
O significado de publicano
A palavra publicano no Novo Testamento traduz o grego telones e significa basicamente “cobrador de taxas e impostos” ou “arrendatário”. Na verdade desde antes de 200 a.C., existia em Roma os publicani romanos, que devem ser diferenciados dos publicanos que aparecem no Novo Testamento.
Essa classe de homens, os ordo publicanorum, geralmente vivia na capital do império e era responsável por arrendar em leilões promovidos pelo governo romano os direitos de arrecadação das rendas públicas de províncias e regiões, mediante o pagamento de uma quantia de repasse ao tesouro publico, ou seja, um publicano romano se comprometia a entrar para o tesouro publico, isto é, in publicum, e por isso receberam esse nome.
Os publicanos romanos podiam vender parte dos direitos de arrecadação que recebiam em determinada província, ou empregar vários agentes de coleta subordinados a eles, a fim de se encarregarem das cobranças.
Esses publicanos geralmente estavam relacionados à ordem equestre romana, que era uma das classes aristocráticas de Roma. Já seus subordinados, os coletores ou sub-coletores que eram contratados para realizarem a cobrança nas próprias províncias, podiam ser nativos das regiões onde as taxas e impostos seriam cobrados.
Portanto, os contratadores centrais dificilmente estavam envolvidos com as províncias as quais recolhiam os impostos através de seus empregados. Mesmo em Roma, esses publicanos eram identificados muitas vezes como sendo pessoas que pertenciam a um sistema corrupto e inclinado ao abuso, onde, em alguns casos, o próprio governo precisava interferir.
O que os publicanos cobravam?
No primeiro século, o Império Romano cobrava dois tipos de impostos: o imposto direto e o imposto indireto. O imposto direto, que incidia sobre as terras e os indivíduos, era recolhido pelo próprio império através de agentes regulares.
Já o imposto indireto, que incidia sobre as importações e exportações, e também era gerado por tarifas rodoviárias, pedágios de pontes, portos etc., era recolhido pelos publicanos que venciam o leilão público.
Os publicanos na Bíblia
Os homens chamados de “publicanos” que aparecem no Novo Testamento são especialmente esses coletores subordinados aos contratadores, e por isso geralmente eram nativos da própria região.
Assim como os publicanos romanos, esses sub-coletores também tinham fama de praticarem extorsões e serem avarentos e egoístas. Junto a isso, desde a antiguidade as pessoas nunca gostaram de pagar impostos, o que sempre culminou num certo preconceito por quem era responsável pela tarefa da cobrança.
Portanto, a classe dos publicanos no Novo Testamento era extremamente odiada pelos judeus, pois além dessa má fama, eles também eram considerados traidores de seu próprio povo ao servirem voluntariamente seus opressores, nesse caso, os romanos.
Além disso, eles eram desprezados por questões religiosas, pois como seu trabalho exigia contatos frequentes com povos gentios, eles eram considerados impuros cerimonialmente, e os rabinos geralmente ensinavam seus alunos que deveriam evitar a qualquer custo sentar à mesa com eles ou manter qualquer tipo de contato social.
Provavelmente a maioria dos publicanos mencionados no Novo Testamento era composta por coletores aduaneiros, que cobravam taxas e impostos em pedágios nas estradas públicas e nas pontes, ou mesmo nos portões da cidade.
Jesus e os publicanos
Jesus por várias vezes foi acusado de estar na companhia de “publicanos e pecadores” (Mt 9:10; 11:19; 21:31; Mc 2:15; Lc 5:30; 7:34; 15:1). O contexto de muitas ocasiões em que Jesus ensinou por parábolas, envolve de alguma forma os publicanos, pecadores, prostitutas e, é claro, os escribas e os fariseus que os julgavam.
Inclusive, em uma de suas parábolas, a Parábola do Fariseu e o Publicano, Jesus utilizou explicitamente a figura de um homem que pertencia a essa classe trabalhadora. Isso não significava que Jesus aprovava as práticas deles, ao contrário, o pecado dos publicanos eram tão abomináveis quando o pecado dos escribas e fariseus (Mt 5:46; 18:17).
No entanto, na narrativa bíblica os publicanos aparecem mais sensíveis ao chamado do arrependimento, ao contrário dos religiosos judeus, que geralmente se apoiavam em sua justiça própria (Mt 21:31,32; Lc 7:29; 15:1; 18:13,14).
João Batista foi um dos que denunciou o principal pecado dos publicanos, quando alguns deles foram ter com ele para receber o batismo e lhe perguntaram o que deveriam fazer. A resposta de João Batista foi a seguinte: “Não peçais mais do que o que vos está ordenado” (Lc 3:12).
Dois publicanos receberam especial destaque no Novo Testamento: Zaqueu e Levi (ou Mateus). Zaqueu é chamado de “chefe dos publicanos”, do grego architelones, o que provavelmente significa que ele era um subcontratante responsável pela cobrança dos impostos e taxas de Jericó, e que coordenava outros coletores abaixo dele, talvez como um tipo de supervisor.
Levi ou Mateus foi o cobrador de impostos escolhido pelo Senhor como um de seus doze apóstolos. O apóstolo Mateus era um empregado aduaneiro que trabalhava em Cafarnaum, e provavelmente cobrava os impostos da rota comercial que ligava Damasco a Galiléia.
Jesus identificou as necessidades dos publicanos e anunciou as boas-novas do reino de Deus a eles. Muitos dessa classe de pessoas tão desprezada pelo povo foram atraídos pelos ensinos do nosso Senhor, que foi chamado de “amigo dos publicanos e pecadores” (Mt 11:19).