Qual Era o Espinho na Carne de Paulo?

O espinho na carne de Paulo é um dos assuntos que mais gera curiosidade entre os cristãos. A dúvida sobre qual era o espinho na carne do apóstolo deu origem a uma série de suposições. Algumas são completamente infundadas, enquanto outras parecem fazer mais sentido. Neste estudo bíblico veremos alguns pontos importantes sobre esta questão, e qual seria o possível espinho na carne sobre o qual Paulo pediu por três vezes ao Senhor para livrá-lo dele.

As especulações sobre o espinho na carne de Paulo

Como já disse, existe muita especulação sobre este assunto. Muitas delas são defendidas por estudiosos muito preparados no Novo Testamento, enquanto outras parecem ser tão absurdas que é difícil saber de onde surgiram. As principais sugestões são:

O que era o espinho na carne de Paulo?

Antes de falarmos sobre essa pergunta, precisamos considerar alguns aspectos importantes sobre o contexto que envolve a passagem onde a reclamação sobre esse espinho aparece. Estamos falando de 2 Coríntios 12, um texto em que o apóstolo Paulo descreve a experiência indescritível de um arrebatamento ao terceiro céu, onde na ocasião ele viu coisas que não é lícito ao homem pronunciar.

É interessante que no versículo 5 Paulo mudou drasticamente alguns aspectos de sua narrativa. Da descrição da glória celestial ele passou a descrever o sofrimento terreno, onde era perturbado por um mensageiro de Satanás.

Mais do que isto, Paulo ainda relaciona o privilégio de vivenciar experiências tão sobrenaturais com o sofrimento a qual era submetido. Daí ele nos explica o propósito do sofrimento e alguns detalhes que nos ajudam compreender um pouco melhor esse espinho na carne.

A palavra grega traduzida como espinho é skolops e significa literalmente “estaca” ou “espinho”, no sentido de perfurar a pele a ponto de ferir. Aqui é a única vez que esse termo grego é utilizado em todo o Novo Testamento.

Nesse capítulo, Paulo fez um discurso sobre o “gloriar-se”, e a preocupação que ele tinha em dar ao Senhor toda a glória e honra devida, de modo que seu grande desejo era continuar humilde e nunca cometer o erro de gloriar-se de si mesmo. A forma com que ele usa a terceira pessoa no começo do capítulo deixa esse princípio muito claro.

Diante disso, um ponto importantíssimo é a revelação do apóstolo sobre a origem do seu espinho na carne: o próprio Deus. Paulo claramente aponta que o espinho na carne que lhe feria foi dado por uma intervenção do Senhor. Considerando essa informação, pessoalmente acho bem difícil que tal espinho na carne se refira a um tipo de tentação.

Paulo intensifica ainda mais sua descrição apontando que um mensageiro de Satanás o atormentava por isto, ou seja, quando Deus lhe deu um algo que lhe causava desconforto, também permitiu que Satanás mandasse um dos seus agentes para atormentá-lo. Nesse ponto podemos nos lembrar de Jó (Jó 1:12; 2:6).

A forma com que Paulo descreve a ação desse mensageiro de Satanás também é interessante. Paulo diz que era “esbofeteado”, ou seja, ferido no rosto de forma humilhante. A maioria dos estudiosos entende que a forma com que as expressões são apresentadas no grego sugere fortemente que Paulo suportava dor física.

Assim, independente do tipo de sofrimento, podendo ser tanto de natureza física quando espiritual, o certo é que Paulo era atingido dolorosamente e literalmente em sua carne.

Particularmente me inclino a crer que a melhor possibilidade, ou pelo menos a que propõe mais indícios textuais, é a de que o espinho na carne de Paulo seja referente a um problema de visão. Entretanto, não penso ser este o ponto principal da narrativa do apóstolo, ou seja, o importante não é o “qual”, mas o “por que”.

Sendo bem sincero, qualquer explicação que possamos dar sobre qual era o espinho na carne de Paulo não passará apenas de uma mera especulação, pois de fato é impossível saber o que afligia o apóstolo, nem mesmo se era um problema interno ou externo.

Todavia, como já disse, se não sabemos “qual era o espinho” sabemos “o porquê do espinho“, e é isto o que realmente importa para nós, ensinando-nos algumas coisas importantes:

  1. O espinho na carne de Paulo não era uma maldição, mas uma benção: Deus lhe conferiu tal sofrimento para que ele não caísse no que talvez fosse o seu maior medo: se tornar uma pessoa soberba. Paulo enfatiza essa condição duas vezes no mesmo versículo ao dizer: “para que não me exaltasse” e “a fim de não me exaltar“.
  2. O espinho na carne de Paulo revela o propósito de Deus: com base nesse texto de Paulo, entendemos que até mesmo o sofrimento pode revelar o propósito de Deus em nos poupar de uma dor ainda maior. Se o espinho na carne era dolorido para Paulo, a dor de ser um soberbo e reprovado espiritualmente era ainda pior. O espinho na carne era uma providência do próprio Deus para a vida do apóstolo.
  3. O espinho na carne de Paulo revela a soberania de Deus: a soberania de Deus é tão imensa e incompreensível para nós, que até mesmo a perturbação satânica pode ser usada por Ele para cumprir os seus propósitos. É incrível pensar que o mensageiro de Satanás que esbofeteava Paulo não desafiava o cuidado de Deus por sua vida, ao contrário, era um meio que contribuía com tal cuidado.
  4. O espinho na carne de Paulo o fez depender mais de Deus: como qualquer ser humano, Paulo buscou auxílio no Senhor diante desse sofrimento. Ele orou e suplicou para que Deus o livrasse daquela situação.
  5. O espinho na carne de Paulo revela que a oração é eficaz e que a vontade do Senhor permanece soberana: Paulo orou por três vezes para que aquela dor lhe fosse tirada. Entretanto, a resposta de Deus foi um “não”, acompanhado de um consolo sem igual: sua graça acolhedora. O espinho na carne de Paulo nos ensina que a oração é eficaz, porque ela chega até Deus e Ele a escuta, porém isso não significa que Ele nos responderá da forma com que imaginamos, pois sua vontade está acima da nossa e seus desígnios são eternos e soberanos.
  6. O espinho na carne de Paulo revela a graça maravilhosa de Deus: diferente do esperado, Paulo não foi finalmente curado de sua dor, mas foi lhe dado algo que o capacitava e suportar qualquer aflição: a graça de Deus. Paulo escutou do Senhor: “A minha graça te basta“.

A graça de Deus é suficiente para nós, independente de qual for o nosso espinho na carne. Lembre-se disto: o espinho na carne de Paulo não era um desprezo, mas um cuidado do próprio Deus para com ele.

Meu desejo é que possamos olhar para as nossas dores não apenas com olhar de reclamação, mas com olhar de admiração pelo cuidado e pela soberania com que Deus conduz as nossas vidas, nos confortando em sua maravilhosa graça, e nos ensinando até mesmo em nossos sofrimentos.

Diante disto só nos resta dizer que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28).