Eliú foi um homem que viveu no tempo de Jó. Ele é mencionado no livro de Jó ao fazer um grande discurso dando o seu parecer sobre a situação de sofrimento que Jó estava enfrentando. O seu discurso mostra que na teologia de Eliú o sofrimento é uma correção divina.
Então à luz dos outros discursos registrados no livro de Jó, a teologia de Eliú se distingue das teologias dos amigos de Jó. Basicamente os amigos de Jó defendiam que o sofrimento possui sempre um caráter punitivo, enquanto que Eliú defendia o caráter pedagógico do sofrimento na vida do crente.
Quem foi Eliú na Bíblia?
O texto bíblico traz pouquíssimos detalhes sobre quem foi Eliú. Tudo o que se sabe é que Eliú era conhecido de Jó. Ele era filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão. A referência à família de Rão é misteriosa, pois não há qualquer informação sobre essa família. O fato de que Eliú era de descendência buzita tem servido para alguns estudiosos tentarem conectar Eliú com a tribo arábica de Buz (cf. Jeremias 25:23).
É interessante notar que no livro de Jó, Eliú é o único personagem que possui um nome hebraico. O nome Eliú provavelmente significa “Ele é o meu Deus” ou “Meu Deus é Pai”. Inclusive, Eliú é também o nome de outros homens na Bíblia (1 Crônicas 12:20; 27:18; etc.).
A Bíblia também registra que Eliú era mais jovem em comparação a Jó e seus três amigos, Elifaz, Bildade e Zofar (Jó 32:4). Por isso o texto bíblico diz que Eliú esperou para falar a Jó, ou seja, ele aguardou que os amigos mais idosos de Jó terminassem seus discursos e também que o próprio Jó concluísse sua defesa.
No final do livro de Jó, Eliú não é mencionado, ou seja, enquanto os amigos de Jó são mencionados no epílogo, o nome de Eliú não aparece mais. A melhor explicação para isso é que os amigos de Jó foram mencionados devido à repreensão que receberam por causa das coisas loucas que disseram. Portanto, ao não ser mencionado nesse contexto, fica claro que Eliú não caiu no mesmo erro dos outros três amigos de Jó.
O discurso de Eliú
A Bíblia diz que quando Eliú viu que não havia mais nenhum argumento a ser dito por Jó e seus amigos, “a sua ira se ascendeu” (Jó 32:5). Em outras palavras, Eliú ficou irado com os três amigos de Jó pela forma como eles discursaram sobre o problema do sofrimento que havia atingido a vida de Jó. Para Eliú, os três amigos de Jó falharam em responder as questões de Jó sobre o sofrimento que lhe acometera.
Mas Eliú também ficou irado com o próprio Jó devido ao modo como ele tentou se defender das acusações de seus amigos. Porém, diferentemente dos amigos de Jó, Eliú não dedicou seu discurso para levantar acusações contra Jó. Alguns comentaristas entendem que Eliú era uma pessoa orgulhosa que começou seu discurso com arrogância. Mas esse não parece ter sido o caso. Aparentemente Eliú foi apenas um pouco caloroso ao expor sua indignação com tudo o que ele havia escutado até então.
Alguns estudiosos também sugerem que Eliú talvez não fizesse parte da história original de Jó, e que seu discurso foi apenas uma adição posterior ao texto do livro de Jó. Mas não há qualquer evidência que possa fundamentar esse tipo de abordagem.
A teologia de Eliú: o sofrimento é uma correção divina
O discurso de Eliú está organizado em quatro partes. De modo geral, em seu discurso Eliú basicamente criticou as palavras de Jó durante o debate com seus amigos. Mas Eliú não acusou Jó de ser um homem ímpio que apenas estava recebendo com todo aquele sofrimento a retribuição por sua vida de pecado. Nesse sentido, a teologia de Eliú destacou o propósito disciplinador e redentor do sofrimento.
No primeiro discurso, Eliú apelou para a soberania e transcendência de Deus. Então ele argumentou que embora Deus seja totalmente soberano e transcendente, Ele é também imanente e interage com suas criaturas. Em outras palavras, Deus não deve qualquer satisfação ao homem, mas mesmo assim Ele se propõe a falar com homem, e muitas vezes ele assim o faz através do sofrimento. Além disso, a teologia de Eliú destacou a realidade da graça e da misericórdia de Deus (Jó 33).
No segundo discurso, Eliú refutou algumas queixas de Jó e argumentou que ninguém é absolutamente inocente diante de Deus, e que a graça divina é a razão para qualquer criatura continuar existindo. Em seguida, Eliú fez uma ampla defesa do caráter bondoso e justo de Deus, e enfatizou que os ímpios estão sob o constante juízo de Deus, embora nem sempre isso seja evidente nesta vida terrena. Então Eliú terminou o seu segundo discurso chamando Jó ao arrependimento por ter falado de forma reprovável em seu momento de angústia.
No terceiro discurso, Eliú argumentou que Deus é tão elevado que não pode ser atingido com qualquer coisa boa ou má feita por suas criaturas. Nesse discurso Eliú apresentou algumas razões para o silencio de Deus diante do clamor do homem, mas algumas dessas razões não se aplicavam ao caso de Jó (Jó 35).
Em seu último discurso, Eliú mais uma vez destacou a justiça, o poder, a bondade e a misericórdia perfeitas de Deus; e tratou do sofrimento de Jó sob essa perspectiva. Então Eliú destacou o bom propósito de Deus no sofrimento e aconselhou Jó a aceitar de bom grado a disciplina de Deus e confiar no livramento de sua aflição (Jó 36). Por fim, Eliú termina sua série de discurso falando sobre a majestade de Deus revelada na obra da criação (Jó 37).
Resumindo, a teologia de Eliú era bem mais equilibrada do que o pensamento teológico dos outros conselheiros de Jó. Eliú também repreendeu severamente a Jó pela forma como ele reclamou e questionou a Deus, em vez de tão somente adorá-lo em meio ao sofrimento.
Mas Eliú, assim como os outros amigos de Jó, não deixou de sugerir que o sofrimento de Jó tinha a ver com o pecado e aplicou alguns exemplos que, embora fossem verdadeiros na observação geral do mundo, não se aplicavam à situação específica de Jó. Em sua teologia, Eliú expressou muitos princípios bíblicos válidos, mas ele também não tinha conhecimento dos designíos secretos de Deus para Jó.