João Batista foi o profeta que preparou o caminho para o ministério do Senhor Jesus; o último entre todos que anunciaram a vinda do Messias. Por isso ele é chamado de “arauto do Messias”.
João Batista nasceu em aproximadamente 7 a.C. Ele era filho de um casal idoso de família sacerdotal, Zacarias e Isabel. Sua mãe era parenta de Maria, a mãe de Jesus. O termo empregado em Lucas 1:36 para descrever esse parentesco é suggenes, que significa “da mesma família” ou “parente de sangue”.
Apesar de ser um termo com significado amplo, a maioria dos estudiosos acredita que ambas eram primas. Isso significa que provavelmente João Batista e Jesus eram primos de segundo grau.
O anúncio do nascimento de João Batista
O anúncio do nascimento de João Batista é um dos mais fantásticos registrados nas Escrituras, possuindo até mesmo algumas semelhanças com o anúncio do nascimento de Jesus. Os pais de João Batista eram judeus piedosos e tementes a Deus que aguardavam a vinda do Messias.
Eles não tinham filhos porque Isabel era estéril. Num determinado dia, quando Zacarias estava exercendo suas funções sacerdotais, ele recebeu a visita do anjo Gabriel. O anjo lhe anunciou o nascimento de um filho e indicou o nome pelo qual ele deveria ser chamado, João (Lucas 1:13). O anjo também disse que João Batista seria repleto do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe (Lucas 1:15).
Diante do aparecimento do anjo, Zacarias ficou amedrontado. Depois do anuncio, sua resposta foi de incredulidade (Lucas 1:18). Assim, Zacarias foi sentenciado a ficar em silêncio, isto é, mudo, até que o menino nascesse. Muito provavelmente essa condição de Zacarias consistia não apenas na mudez, mas também na surdez (cf. Lucas 1:62).
Além de tudo isso, quando Maria recebeu a visita de Gabriel para anunciar-lhe o nascimento de Jesus, o anjo também lhe falou sobre a gestação de Isabel (Lucas 1:36). Isso fez com que Maria fosse lhe visitar. Nesse encontro, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, João Batista saltou em seu ventre.
O nascimento de João Batista
No tempo oportuno, Isabel deu à luz a João Batista. Na cerimônia de escolha do nome do menino, Zacarias, seu pai, recuperou a voz. Inicialmente as pessoas estavam chamando o menino de Zacarias; mas o nome que deveria ser dado era João. Então de forma sobrenatural, Isabel também anunciou esse mesmo nome, antes que Zacarias o confirmasse escrevendo-o em uma tábua.
Todos esses acontecimentos trouxeram grande temor no povo, de modo que em todas as montanhas da Judéia foram divulgadas as coisas que estavam ocorrendo em conexão com o nascimento de João Batista. Assim, todas as pessoas se perguntavam sobre quem seria aquele menino.
O ministério de João Batista
João Batista cresceu no deserto da Judéia (Lucas 1:80). Em aproximadamente 26 d.C., ele recebeu o chamado para exercer seu ministério profético (Lucas 3:2). Alguns estudiosos tem sugerido que João Batista, durante seus anos de formação, pode ter tido contato com os Essênios. Os Essênios formavam um grupo separatista judaico que observava a Lei com rigor. Esse grupo vivia geralmente em comunidades reclusas no deserto, como os assentamentos descobertos em Qumran.
Seja como for, a verdade é que foi uma experiência espiritual completamente diferente que fez com João Batista desempenhasse sua tarefa especial de “preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lucas 1:17). Dessa forma, certamente ele rompeu com qualquer influência anterior.
Logo que iniciou seu ministério profético, João Batista começou a ser grandemente reconhecido como o pregador do arrependimento. Por isso tão logo um grande número de judeus se reunia para ouvi-lo.
A mensagem de João Batista era dura, mas necessária. Ele se posicionou de forma radical contra as normas judaicas e condenou os fariseus e líderes religiosos da nação como sendo uma “raça de víboras”. Para João Batista, apenas ser descendente de Abraão não bastava; era necessário um recomeço, um arrependimento genuíno. Assim, muitos receberam dele no rio Jordão o batismo do arrependimento, ao confessarem seus pecados.
João Batista convocava um remanescente fiel dentre o povo judeu. Com arrependimento sincero, esse remanescente deveria estar pronto para receber a chegada de Alguém muito maior do que ele próprio.
João Batista anunciava claramente que ele apenas estava servindo de arauto para o Messias que estava às portas. João também avisava que enquanto ele batizava com água, esse Alguém que viria após ele batizaria com Espírito e com fogo. Isso significa que não haveria meio termo, o Messias traria salvação e juízo.
A severidade e urgência da mensagem de João Batista podem ser notadas na sentença: “E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo” (Mt 3:10).
É claro que essa mensagem estava plenamente de acordo com alguém que havia sido escolhido por Deus para preparar o caminho daquele que, em Sua mão, tem a pá para limpar a eira, separar o trigo no celeiro e queimar a palha com fogo inextinguível (Mateus 3:12). Realmente a mensagem do último profeta antes do Messias não poderia ser diferente.
João exerceu seu ministério no deserto da Judéia, Samaria e Enom, perto de Salim (João 3:23). Provavelmente seu período em atividade teve curta duração, mas foi bastante intenso. Ele passou seus últimos anos na região de Pereia, que pertencia à tetrarquia de Herodes Antipas.
Ele também foi seguido por discípulos fiéis. A eles João Batista ensinava regras práticas e objetivas de caridade, piedade e justiça.
João Batista e o batismo de Jesus
Nosso Senhor Jesus estava entre aqueles que receberam o batismo de João. A Bíblia relata que foi Jesus quem pediu para ser batizado. João Batista até esboçou certa relutância por se considerar indigno de realizar essa tarefa.
Na ocasião do batismo de Jesus, João Batista reconheceu claramente que Ele era aquele que estava sendo anunciado em sua pregação (Mateus 3:13-15). Foi nesse mesmo momento também que, de forma sobrenatural, o Espírito Santo desceu sobre Jesus e ouviu-se uma voz do céu dizendo: “Tu és o meu filho amado; em quem me comprazo” (Marcos 1:10,11).
A personalidade de João Batista
Os Evangelhos fornecem poucas informações pessoais sobre João Batista. Porém, pelo pouco que é dito, podemos presumir que João Batista tinha uma personalidade forte e vigorosa; algo condizente com a própria singularidade da mensagem que proclamava.
João Batista se vestia de uma forma bastante simples. Ele usava vestes feitas de pelos de camelo, e usava um cinto de couro ao redor de seus lombos (Mateus 3:4). O próprio Jesus fez menção ao fato de que João Batista não usava vestes finas (Mateus 11:8).
João também tinha restrições semelhantes aos nazireus, como a proibição de tocar em bebida forte. Isso tem levado muitos estudiosos a entenderem que João Batista era um tipo de nazireu vitalício, ou seja, ele não era nazireu apenas em um período de voto, mas durante a vida toda, assim como Sansão deveria ter sido.
A alimentação de João Batista também seguia essa mesma linha simples. Ele comia mel silvestre e gafanhotos, alimentos estes que poderiam ser encontrados no deserto. Claro que não podemos entender que esses dois itens consistiam em toda dieta do profeta, mas que refletiam e evidenciavam seu modo de vida simples que apresentava um protesto vivo contra tudo o que ele denunciava.
João Batista era Elias?
Essa é uma dúvida que surgiu no tempo de João Batista e que persiste até hoje em algumas pessoas. A verdade é que João Batista não era Elias, e ele próprio esclareceu isso enfaticamente (João 1:21).
No entanto, de forma figurada, ele pode ser identificado como sendo Elias, como o próprio Jesus assim o fez (Mateus 11:13,14; cf. 17:12; Marcos 9:12,13). Isso significa que seu ministério profético e suas ações foram semelhantes ao ministério e as ações do profeta Elias.
Isso fica bastante claro quando comparamos a profecia do profeta Malaquias com o anuncio feito por Gabriel de que ele prepararia o caminho do Messias “no espírito e poder de Elias” (cf. Malaquias 3:1; 4:5; Lucas 1:17).
Assim como Elias, João Batista denunciou o pecado e conclamou o arrependimento. Portanto, o modo característico do ministério profético de Elias seria revelado também no ministério de João Batista.
A morte de João Batista
Em dado momento, parece que João Batista levantou as suspeitas de Herodes Antipas de ser ele o líder de um tipo de movimento popular que poderia ter consequências imprevisíveis, sobretudo políticas.
Aliado a isso, Herodias, esposa de Herodes, ficou particularmente aborrecida com João Batista por ele ter denunciado a ilegalidade de seu casamento com Herodes. Por esse motivo ele acabou sendo aprisionado na fortaleza de Herodes na Transjordânia.
Herodes não estava disposto a matar João Batista. Mas num determinado dia, Herodes Antipas acabou fazendo um juramento à filha de Herodias, e foi obrigado a entregar a cabeça de João Batista como prêmio. Então aproximadamente entre 27 e 29 d.C., João Batista foi decapitado.
A importância de João Batista
João Batista foi muito importante porque seu ministério marcou o início do tempo do cumprimento das promessas que Deus havia feito a Israel no Antigo Testamento. Essas promessas falavam sobre a vinda de seu reino e a chegada do Messias. Com base nesse entendimento, podemos destacar os seguintes pontos:
- O próprio João Batista é o cumprimento de profecias feitas ainda no Antigo Testamento. Desse modo os profetas Isaías e Malaquias falaram sobre ele (Isaías 40:3; Malaquias 3:1; 4:5). O próprio Jesus declarou que ele era o profeta que havia sido prometido (Marcos 9:13; Mateus 11:14).
- Seu ministério, como sendo o último profeta, concluiu a responsabilidade da revelação divina sob a antiga ordem. Isso fica claro nas palavras de Jesus: “A Lei e os profetas duraram até João; desde então, é anunciado o Reino de Deus” (Lucas 16:16).
- De forma muito semelhante a Moisés que apenas avistou a Terra Prometida, João também foi um arauto que permaneceu no limiar de um novo tempo; o tempo da chegada do Reino de Deus. Ele avistou de forma muito próxima, porém não participou dessa nova era em vida. Sua prisão serviu de sinal para o início do ministério de Jesus na Galiléia (Marcos 1:14).
- Os próprios apóstolos faziam referência sobre a veracidade e importância do ministério de João Batista. Isso aconteceu, por exemplo, na pregação de Paulo em Antioquia (Atos 13:24ss; cf. Atos 10:37).
- Depois dos apóstolos, João Batista foi a pessoa mais importante que testemunhou o ministério de Jesus. Nesse sentido ele desfrutou de um privilégio que nenhum outro profeta do Antigo Testamento alcançou.
- João Batista serviu de referencial para o ministério do próprio Cristo, no sentido de que ele veio para ser o precursor imediato do ministério do Filho de Deus, e refletindo no fato de que a grandeza de João serve como parâmetro para se perceber a grandeza de Cristo nas Escrituras. Sua vida foi um sinal vivo de que Jesus era o Messias prometido. Portanto, se aquele que foi o predecessor de Jesus, era o maior entre os homens, fica claro a importância indescritível daquele a quem João anunciava.
- A Bíblia não registra nenhum milagre feito por João Batista. Todavia, Jesus testificou que não houve ninguém nascido de mulher maior do que ele, colocando-o como o último e mais importante dos profetas da Antiga Aliança (Lucas 7:24-28; 16:16). Aqui entendemos que não são os sinais e prodígios que fazem com que alguém seja notável, mas, sim, o desempenho da tarefa lhe foi designada por Deus. Jesus declarou isso sobre João Batista justamente porque ele foi destinado a preparar o caminho para o Messias.
- Jesus também falou que, apesar de ser o maior nascido de mulher, o menor no Reino de Deus seria maior do que João Batista. Com isso Jesus estava se referindo ao fato de que João estava sendo privado de participar de forma intima de Seu ministério que estava acontecendo enquanto ele amargava um aprisionamento. Além do mais, ele não presenciaria o sacrifício no Calvário, nem a ressurreição, ou mesmo experimentaria o Pentecostes. Assim, o menor do Reino era maior do que João Batista no sentido de ser mais altamente privilegiado por poder presenciar ou viver após o acontecimento de tais coisas.
- Foi João Batista que teve a honra de contemplar o Cristo e dizer as importantes palavras: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29).
- João Batista compreendeu muito bem sua missão. Mesmo durante o tempo em que seu ministério foi simultâneo ao de Cristo, ele, como um bom arauto, permaneceu em segundo plano diante da presença do Rei que havia chegado (cf. João 3:22ss). Em momento algum João Batista tentou atrair a atenção para si mesmo. Sobre isso, ele mesmo disse: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua” (João 3:30).
Certamente quando meditamos sobre quem foi João Batista, ficamos perdidamente maravilhados com a forma com que Deus conduz a História. Ele escolhe aqueles que são Seus e cumpre Suas promessas nos mínimos detalhes.