Teófilo é citado na Bíblia no Evangelho de Lucas e no livro de Atos dos Apóstolos, e daí surge a curiosidade acerca dele. É verdade que não se sabe muita coisa sobre quem foi Teófilo, mas alguns detalhes interessantes nos relatos do próprio Lucas, podem nos ajudar no estudo de sua biografia. Surgiram também, ao longo do tempo, alguns debates em torno de sua identidade, e, neste texto, abordaremos tudo o que for possível para podermos entender melhor quem teria sido Teófilo.
Quem era Teófilo?
Nos primeiros versículos do Evangelho de Lucas (Lc 1:3) e do livro de Atos dos Apóstolos (At 1:1), ao encontramos a menção sobre seu nome, logo nos perguntamos: Quem era Teófilo? Bem, como sabemos, Teófilo foi o destinatário das duas obras que Lucas escreveu. O nome Teófilo significa “querido de Deus” ou “amigo de Deus”, do grego theophilos. Justamente devido ao significado de seu nome, alguns estudiosos têm defendido a opinião de que “Teófilo” seja uma referência aos cristãos em geral, ou seja, o Evangelho de Lucas e o livro de Atos teriam sido escritos a todos os cristãos, e não a um indivíduo específico. Entretanto, muitas evidências apontam que Teófilo era uma pessoa real, e não um tipo de símbolo ou figura imaginária.
Teófilo era um nome comum no Novo Testamento, tanto entre gregos como até mesmo entre judeus. Alguns acreditam que Teófilo foi um nome utilizado por Lucas para ocultar a verdadeira identidade de outro personagem, talvez Tito Flávio Clemente, sobrinho do imperador romano Vespasiano, porém não há nenhuma evidência realmente satisfatória para fundamentar essa possibilidade.
Considerando então como correta a interpretação de que Teófilo foi o nome verdadeiro de uma pessoa, algumas sugestões sobre sua identidade são levantadas. Lucas, em seu Evangelho, lhe atribuiu o título de “excelentíssimo” (gr. hratiste), um termo importante que provavelmente significa que Teófilo tenha sido uma pessoa de certo destaque na sociedade. Esse termo utilizado por Lucas, geralmente era aplicado aos membros da ordem equestre, o que faz com que Teófilo possa ter sido um oficial romano.
Outra possibilidade é que Teófilo tenha sido alguém que ocupou uma elevada posição no governo. Se for esse o caso, o título “excelentíssimo” possui um significado semelhante ao que tem em Atos 23:26, 24:3 e 26:25, onde ele é aplicado aos governadores Félix e Festo.
Não obstante, Teófilo poderia ter sido simplesmente uma pessoa distinta, digna de honra muito elevada, um membro importante do povo de classe média do império romano. Essa dificuldade existe pelo fato de que esse termo grego pode ser traduzido tanto como “sua excelência” quanto como “nobilíssimo”, além de também poder representar uma expressão de cortesia.
Segundo o Evangelho de Lucas, Teófilo já havia obtido algumas informações sobre o cristianismo (Lc 1:4), mas Lucas lhe escreveu um relato mais ordenado e confiável (Lc 1:3). Outra questão impossível de ser determinada é se Teófilo já era um cristão quando Lucas lhe escreveu. Alguns sugerem que, anteriormente, ele teria sido introduzido no Judaísmo, por meio do qual chegou ao conhecimento da religião cristã. Outros alegam que quando Lucas escreveu seu Evangelho, Teófilo ainda não era um cristão, pois antes do século 3 d.C., o título “excelentíssimo” nunca é aplicado para designar cristãos. Combinado a isso, a ausência do mesmo título no livro de Atos, onde apenas o nome Teófilo é citado (At 1:1), muitos concluem que, por meio da leitura do primeiro capítulo do Evangelho de Lucas, Teófilo teria se convertido ao Cristianismo. Porém, muitas outras razões podem ter feito com que Lucas não repetisse o epíteto em Atos. Talvez a principal delas é que Lucas considerou o texto inicial presente em seu Evangelho (Lc 1:1-4) como uma introdução a ambos os livros, e por isso não considerou necessária a repetição do “excelentíssimo”.
Há também quem defenda que Teófilo foi um proprietário de escravos, e um de seus escravos teria sido o próprio Lucas que, em algum momento, recebeu dele a liberdade e até educação. Apesar de interessante, faltam evidências que fundamentem essa sugestão. Outros também sugerem que Teófilo era o patrocinador literário de Lucas, uma vez que ele possuía muitos recursos, poderia muito bem ter custeado a composição e distribuição do Evangelho de Lucas e do livro de Atos, além dessa prática ser muito comum naquele tempo. Essa possibilidade só poderá ser verdade se for entendida como secundária, de forma que não conflite com o propósito principal da obra de Lucas claramente declarado no Evangelho de Lucas 1:4. Seja como for, suposições à parte, a melhor definição é que Teófilo foi um conhecido de Lucas que havia recebido algumas instruções acerca do Evangelho de Cristo.
Existe também uma discussão a respeito do local em que Teófilo morava. Embora seja impossível determinar com exatidão esse local, a maior probabilidade é que tenha sido a cidade de Roma, ou pelo menos em suas cercanias. Essa possibilidade é defendida com base em alguns detalhes na narrativa de Lucas no livro de Atos dos Apóstolos. Em Atos 28:15, Lucas cita o Fórum de Ápio e as Três Vendas, sem dar maiores explicações quanto à localização destes locais, como se Teófilo soubesse perfeitamente do que ele estava falando. Já quanto Lucas se referia a locais distantes de Roma, ele se preocupava em fornecer uma descrição mais especifica (Lc 1:26; 4:31; 8:26).