Quando se fala em que foi o rei Agripa na Bíblia é preciso saber que dois reis são mencionados no Novo Testamento com esse nome. Ambos pertenciam à dinastia herodiana. Por isso são chamados de Herodes Agripa I e Herodes Agripa II.
Tanto Agripa I quando Agripa II são citados exclusivamente pelo escritor do livro de Atos dos Apóstolos. Por esse motivo é comum que algumas pessoas confundam um com o outro. A seguir conheceremos a biografia de cada um deles.
Herodes Agripa I
Herodes Agripa I foi neto do rei Herodes o Grande por parte de seu casamento com Mariamne, a princesa hasmoneana. Ele era filho de Aristóbulo, executado em 6 d.C. a mando do próprio pai.
Agripa recebeu esse nome em homenagem ao ministro do imperador romano Augusto. Ele foi criado em Roma, e frequentava os círculos da família real do império. Parece que Agripa acabou se envolvendo em problemas financeiros que lhe forçaram a sair de Roma por volta de 23 d.C.
Acredita-se que durante algum tempo ele foi acolhido em Tiberíades por Herodes Antipas, seu meio tio, casado com sua irmã, Herodias. Mas tempos depois Agripa se desentendeu com Antipas, e mais uma vez retornou a Roma.
Agripa I era amigo de Gaio, que veio a se tornar o imperador Calígula. Durante o governo de Tibério, ele acabou preso por expressar de forma descuidada o seu desejo de que Gaio, seu amigo, se tornasse logo o novo imperador.
Gaio finalmente ascendeu ao trono após a morte de Tibério e foi generoso com seu amigo Agripa I. Após libertá-lo da prisão, ele lhe concedeu a tetrarquia que era administrada por Herodes Filipe, o tetrarca, que morreu em aproximadamente 34 d.C. Filipe também era seu meio-tio.
Depois, quando Herodes Antipas foi deposto em 39 d.C., Agripa assumiu o seu território. Então além de governar sobre a tetrarquia a nordeste da Palestina, a Galileia e a Pereia foram adicionadas ao seu reino. Nessa altura Agripa já ostentava o título de rei.
Quando Claudio se tornou o novo imperador de Roma, os territórios de Agripa foram ainda mais ampliados. Ele recebeu o domínio sobre a Judeia e a Samaria. Isso significa que ele governava sobre um reino de extensão praticamente equivalente ao reino de Herodes o Grande, seu avô. Todo esse poder justificava sua designação como “rei Herodes”.
Agripa I e a perseguição aos cristãos
É nesse contexto que Herodes Agripa I aparece no livro de Atos dos Apóstolos. Quando assumiu a Judeia, ele se esforçou para conquistar a simpatia dos judeus. A seu favor ele tinha o fato de ser um descendente dos hasmoneus, por parte de mãe.
Para os judeus, os hasmoneus é quem tinham direito ao trono, enquanto os herodianos eram impostores. Mas diferentemente dos outros Herodes, Agripa I também tinha o sangue da antiga dinastia iniciada com a Revolta dos Macabeus.
Por tudo isso ele aparentava ser comprometido com os costumes judaicos. Acredita-se que foi ele quem chegou a interceder para que o imperador romano não colocasse uma estátua sua em Jerusalém com propósito de receber honras divinas.
Em Atos 12 lemos sobre a forma com que ele perseguiu a Igreja Primitiva. Essa perseguição foi viabilizada, principalmente, por causa do apoio que ele contava por parte dos judeus. Foi durante o reinado de Herodes Agripa que ocorreu o primeiro martírio dentro do colégio apostólico.
Agripa mandou matar à espada o apóstolo Tiago, irmão de João. Ele também mandou prender o apóstolo Pedro, que mais tarde foi libertado da prisão de forma sobrenatural pelo anjo do Senhor. Quando Herodes descobriu sobre a fuga de Pedro, acabou punindo os guardas responsáveis por guardá-lo (Atos 12:1-19). Nos dias de Herodes Agripa os cristãos foram maltratados, mas eles perseveraram em oração e o Evangelho crescia e se multiplicava.
A morte de Herodes Agripa I
O relato da morte de Herodes Agripa I é um dos mais conhecidos entre os cristãos. A Bíblia diz que em certo dia ele estava vestido de vestes reais assentado em seu trono enquanto falava ao povo. Então seus súditos começaram a clamar: “É voz de um deus, e não de homem” (Atos 12:22).
Segundo o texto bíblico, o anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus. Isso significa que ele aceitou para si uma honra que não lhe pertencia, dando mostras de seu orgulho. A Bíblia diz que por fim ele expirou comido de bichos (Atos 12:23).
O historiador Judeu Flávio Josefo registra esse acontecimento dizendo que Herodes Agripa sentiu subitamente fortes dores abdominais. Essas dores acabaram por se tornar insuportáveis. O rei morreu esgotado depois de cinco dias de terrível sofrimento. Sua morte é datada em 44 d.C. Ele era pai de Agripa II, de Berenice (mencionada em Atos 25:13) e Drusila (esposa do procurador Félix em Atos 24:24).
Herodes Agripa II
Herodes Agripa II era filho de Herodes Agripa I. Na ocasião da morte de seu pai, ele foi considerado muito jovem para assumir o reino. Então o imperador romano instituiu um representante seu para governar os judeus.
Entretanto, tempos depois ele recebeu de Claudio a oportunidade de governar. Primeiro Agripa II assumiu o governo de regiões menores. Mais tarde ele foi sendo introduzido por Cláudio nos assuntos judaicos e acabou recebendo territórios ao norte e nordeste da Palestina.
Posteriormente, já no governo de Nero, ele teve seu domínio expandido. Foram anexados ao seu reino, territórios próximos ao mar da Galileia e na região sul de Peréia. Ele fez de Cesareia de Filipe sua capital, mas mudou o nome da cidade para Neronias, em homenagem a Nero.
Agripa II possuía importantes amizades entre os pagãos gregos, enquanto tentava manter bons relacionamentos com os judeus, dando importância aos rituais judaicos. Este é o rei Agripa diante de quem Paulo de Tarso fez a sua defesa no livro de Atos dos Apóstolos (Atos 25:13-26:32).
Depois de entrevistar o apóstolo, o rei Agripa II disse que Paulo estava tentando persuadi-lo a ser cristão (Atos 26:28). Por fim o rei Agripa admitiu que não havia motivos para o apóstolo Paulo ser mantido preso. Mas como Paulo tinha apelado para César, ele não poderia ser solto antes de ser julgado em Roma. Tudo isso fazia parte dos propósitos de Deus para a expansão do Evangelho.
Quando o sentimento nacionalista cresceu entre os judeus, Agripa se esforçou na tentativa de refrear uma revolta contra Roma. Porém ele não foi capaz de acalmar os ânimos, e a revolta foi inevitável, culminando na queda de Jerusalém em 70 d.C.
Agripa se manteve fiel a Roma, e seus exércitos lutaram ao lado dos romanos. Ele também contribuiu com a obra de Flávio Josefo enviando-lhe relatos sobre o conflito. Não há informações detalhadas sobre o fim de sua vida, mas acredita-se que ele viveu até final do primeiro século. Ele foi o último representante da dinastia de Herodes.