A revelação especial é o tipo de revelação mais completa e detalhada que Deus fez de si mesmo. Através da revelação especial Deus proporciona ao homem um conhecimento claro acerca de Sua natureza, Sua vontade e propósito, e Sua obra para a redenção de Seu povo.
Diferentemente da revelação geral a qual todas as pessoas do mundo são postas em contato, a revelação especial não está acessível a todos. Apenas aqueles que têm contato com a Palavra de Deus é que recebem essa revelação.
Isso também explica a importância da revelação especial, pois somente através dela o homem pode obter o conhecimento que leva a um relacionamento salvífico com o Senhor.
Qual a necessidade da revelação especial?
O Cristianismo, em última análise, se baseia no conhecimento que Deus mesmo nos dá de si mesmo. R. C. Sproul diz que o conhecimento que vem de Deus é muito superior a qualquer coisa que podemos deduzir de uma análise de nossa situação ou da observação do mundo ao nosso redor. Esse ponto nos leva a entender por que a revelação especial é necessária.
Após a Queda, o homem perdeu o relacionamento de favor com Deus que originalmente possuía. Por causa do pecado a raça humana ficou afastada de Deus e em estado de rebelião contra Ele. Millard Erickson explica que o entendimento das questões espirituais ficou obscurecido depois da Queda. Então embora a revelação geral de Deus ainda estivesse disponível aos homens, o conhecimento de Deus precisava ir além dessa revelação inicial. Os homens precisavam conhecê-lo de forma mais plena; a instrução tinha de ser mais completa, pois além da limitação natural da finitude humana em conhecer um Deus transcendente, também há a limitação moral do pecado.
Mas também é importante considerar que a revelação especial não é um tipo de revelação que Deus deu exclusivamente após a Queda por causa do pecado. As poucas informações que temos sobre como era o relacionamento de Adão e Eva com Deus antes da Queda, indicam que Deus se comunicava de forma especial com eles. Deus deu instruções claras e diretas ao homem, e aparentemente costumava se encontrar com o primeiro casal de forma especial (Gênesis 1:28; 3:8).
O processo e os meios da revelação especial
O escritor de Hebreus explica que no decorrer do tempo, Deus se manifestou para certas pessoas muitas vezes e de muitas maneiras. Ele diz: “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo” (Hebreus 1:1).
Este versículo é muito esclarecedor quanto ao processo da revelação especial. Através dele aprendemos que a revelação especial de Deus não foi dada de uma única vez, nem de uma única forma. Mas é importante entender que quando falamos que a revelação especial de Deus se deu de forma progressiva, não estamos dizendo que ela evoluiu de modo que os primeiros estágios da revelação especial se tornaram obsoletos pelos últimos estágios. Na verdade as porções posteriores da revelação especial foram suplementares às porções anteriores.
Então o processo da revelação especial de Deus foi longo e progressivo conforme a história da redenção era desenvolvida. Durante esse processo Deus se revelou de forma pessoal a certas pessoas, e se comunicou com elas de um modo inteligível em linguagem humana.
Os meios da revelação especial
Mas o que o escritor bíblico quis dizer quando afirmou que Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras? Então durante os tempos bíblicos, Deus falou ao seu povo por meio de:
- Discursos: muitas vezes as pessoas ouviram a voz de Deus lhes comunicando algo. No Antigo Testamento freqüentemente encontramos declarações como: “Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo…”.
- Sonhos e visões: do Antigo ao Novo Testamento, Deus se comunicou de forma especial com certas pessoas através de sonhos e visões.
- Sinais específicos e eventos históricos: algumas vezes Deus deu sinais específicos de sua presença e vontade – como caso de Gideão, por exemplo. Através de eventos históricos Deus também se manifestou – como no livramento de Israel do Egito, na conquista da Terra Prometida etc.
- Lançamento de sortes: nos tempos veterotestamentários os sacerdotes usavam o Urim e Tumim para terem conhecimento da vontade de Deus no juízo de alguma causa.
- Teofanias: foram manifestações visíveis de Deus nos tempos do Antigo Testamento. Todos os casos de teofania aconteceram em momentos decisivos da história da redenção. Também é importante ressaltar que as teofanias veterotestamentárias apontavam para a encarnação de Cristo, a teofania permanente de Deus para nós.
- Revelação e inspiração: isso aconteceu no processo de registro das Escrituras. Erickson explica que à medida que os autores das Escrituras escreviam, Deus lhes colocava na mente os pensamentos que desejava comunicar. Essa forma de comunicação teve uma importância fundamental para que hoje pudéssemos ter acesso à revelação especial de Deus, pois conforme a inspiração e a orientação do Espírito Santo, os episódios em que Deus se revelou de forma especial foram registrados e preservados nas Escrituras.
Os agentes da revelação especial
No processo da revelação especial de Deus, houve o que podemos chamar de “agentes da revelação”. Perceba que o escritor de Hebreus diz que antigamente Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos profetas. Os profetas eram pessoas como nós, mas diferentemente de nós, foram designadas por Deus pra serem seus porta-vozes na terra. Sproul observa que os profetas recebiam informações da parte de Deus, e embora usassem linguagem humana, suas palavras funcionavam como instrumentos e canais da revelação divina. As palavras dos profetas foram gravadas em forma escrita e se tornaram a Palavra de Deus inscrita.
O escritor do livros de 2 Reis fala exatamente sobre isso: “E o Senhor advertiu a Israel e a Judá, pelo ministério de todos os profetas e de todos os videntes, dizendo: Convertei-vos de vossos maus caminhos e guardai os meus mandamentos e os meus estatutos, conforme toda a Lei que ordenei a vossos pais e que eu vos enviei pelo ministério de meus servos, os profetas” (2 Reis 17:13). O salmista também escreve que Deus “manifestou os seus caminhos a Moisés, e os seus feitos, aos filho de Israel” (Salmo 103:7).
Já no Novo Testamento, encontramos uma informação muito interessante que diz que a Igreja está edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra angular” (Efésios 2:20). Isso significa que nesse sentido os apóstolos eram os equivalentes neotestamentários dos profetas veterotestamentários, pois juntos lançaram o fundamento da Igreja. Então por intermédio tanto dos profetas do Antigo Testamento quanto dos apóstolos do Novo Testamento, recebemos um relato escrito da revelação especial.
Revelação especial na pessoa de Cristo
Mas não é apenas isso que o escritor de Hebreus ensina sobre a revelação especial. Depois de explicar que outrora Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras, ele também enfatiza que nos últimos dias Deus “falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual fez também o universo” (Hebreus 1:1-2).
Isso quer dizer que a revelação especial alcançou sua maior expressão e completude na encarnação de Cristo. As provas bíblicas de que Jesus é a revelação especial de Deus encarnada, são incontestáveis. O apóstolo João escreve: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus […] E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, pleno de graça e de verdade […] Deus nunca foi visto por alguém, mas o Filho unigênito, que está junto do Pai, este o fez conhecer” (João 1:1,14,18; cf. 1 João 1:1).
Quando Filipe pediu que Jesus mostrasse o Pai aos seus discípulos, a resposta de Jesus foi: “Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras” (João 14:8-10).
Portanto, a revelação especial de Deus foi dada um vez por todas em Jesus Cristo. Louis Berkhof está correto ao dizer que agora, Deus continua a falar a pecadores individuais, no momento existencial de suas vidas, através da revelação em Cristo, mediada pela Bíblia e pela pregação.