Apresentar o corpo a Deus como um sacrifício vivo significa consagrá-lo gratamente ao serviço do Senhor em resposta a tudo o que Ele fez por nós. Ser um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, é colocar tudo o que somos no altar do Senhor como uma adoração espiritual.
O apóstolo Paulo explica a importância dessa prática cristã. Ele escreve: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1).
Perceba que esse versículo se trata literalmente de uma exortação para que os crentes ofereçam a Deus o corpo como um sacrifício vivo. Mas aqui é importante entender que nesse contexto, a palavra “corpo” refere-se à pessoa por inteiro, ou seja, o indivíduo que vive em seu corpo físico.
Em seu comentário da Carta aos Romanos, o teólogo do Novo Testamento Willian Hendriksen explica essa questão citando um conhecido comentário do reformador João Calvino: “Por corpos ele tem em mente não só nossa pele e ossos, mas a totalidade do que somos formados. Paulo adotou essa palavra para que pudesse designar mais plenamente tudo o que somos; pois os membros do corpo são os instrumentos pelos quais executamos nossos propósitos”.
Então apresentar o nosso corpo por sacrifício vivo é usar tudo o que somos para a glória de Deus; é se entregar ao Senhor para que, através da ação do Espírito Santo, possamos cumprir os seus propósitos nesta terra.
Por que ser um sacrifício vivo?
Longe de Deus, nós dedicávamos o nosso corpo à satisfazer os desejos e propósitos do pecado. Mas agora que estamos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus, o pecado não deve mais reinar em nosso corpo mortal. Por isso que jamais podemos apresentar os membros do nosso corpo ao pecado para servirem de instrumentos de iniquidade; mas devemos apresentar os nossos membros a Deus para servirem como instrumento de justiça (Romanos 6:12,13).
Esse princípio está de acordo com a nossa nova realidade. A Bíblia diz que o corpo do crente agora é o Templo de Deus, visto que o Espírito Santo habita em nele (1 Coríntios 6:19,20; cf. Romanos 8:9).
Todo esse conceito de apresentar o corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, era algo que contrastava diretamente com o pensamento predominante na época em que Paulo escreveu essas palavras. Na cultura grega, o corpo era considerado algo ruim, enquanto o espírito era algo bom. Então o corpo humano era visto como um tipo de túmulo que aprisionava o espírito do homem.
Mas a doutrina bíblica reprova esse pensamento platônico e apresenta o corpo como parte fundamental da unidade do homem criado por Deus. Inclusive, a obra da redenção só estará cumprida plenamente quando os nossos corpos forem glorificados no dia da volta do Senhor Jesus.
Então é correto que o crente apresente o seu corpo a Deus como um sacrifício vivo, santo e agradável. John Stott diz que nenhum culto é agradável a Deus quando é puramente interior, abstrato, e místico; mas nossa adoração deve expressar-se em atos concretos de serviço manifestados em nosso corpo.
Um sacrifício vivo em resposta às misericórdias de Deus
Paulo explica que devemos nos oferecer por sacrifício vivo em resposta às misericórdias de Deus. Essas “misericórdias de Deus” são seus atos redentores dos quais resultam as bênçãos espirituais que os crentes desfrutam.
Então esse sacrifício vivo que apresentamos a Deus é uma reação agradecida. Não se trata de um sacrifício meritório; não se trata de um sacrifício para impressionar a Deus; não se trata de um sacrifício para tentar obter a salvação. Devemos nos apresentar a Deus como um sacrifício vivo não para sermos salvos, mas porque somos salvos.
Cristo foi quem conquistou a nossa salvação ao satisfazer a justiça de Deus se oferecendo em sacrifício de forma perfeita, definitiva e suficiente no Calvário. Enquanto o sacrifício vivo de Cristo foi um sacrifício expiatório, o nosso sacrifício vivo é um sacrifício de gratidão.
Um sacrifício vivo, santo e agradável
Perceba que Paulo chama atenção para as características do sacrifício que devemos apresentar a Deus. Não é qualquer tipo de sacrifício, mas é um sacrifício vivo, santo e agradável.
Em primeiro lugar, esse sacrifício é o oposto daquele apresentado na antiga aliança, quando os crentes apresentavam sacrifícios de animais mortos. Aqueles sacrifícios apontavam para o sacrifico perfeito e definitivo do Cordeiro de Deus (Hebreus 9:11-12). Agora, mediante a obra expiatória de Cristo, os redimidos que foram ressuscitados de seu estado de morte espiritual podem se oferecer a si mesmos como sacrifícios vivos, resultante de sua nova vida.
Em segundo lugar, o sacrifício vivo é também um sacrifício santo. Isso nos ensina que a única maneira de o crente se apresentar como um sacrifício vivo ao Senhor, é mediante a prática da santificação operada nele, e através dele, pelo Espírito Santo.
Em terceiro lugar, o sacrifício vivo e santo consequentemente é um sacrifício agradável a Deus. O crente não é um sacrifício agradável a Deus por causa de suas próprias qualidades. Deus não nos aceita com base em nossa capacidade; mas Ele nos aceita com base na pessoa de seu Filho. Aquele que foi redimido do pecado, ressuscitado para uma nova vida, justificado pelos méritos de Cristo e santificado pelo Espírito, é agora graciosamente aceito por Deus. Apresentar-se a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável é o nosso culto racional.