O Salmo 37 traz uma reflexão sobre a sabedoria com ênfase no contrates entre o justo e o ímpio. O estudo bíblico do Salmo 37 expressa como é temporária a felicidade dos ímpios. O título do Salmo 37 afirma que quem o escreveu foi o rei Davi.
O texto poético do Salmo 37 deixa claro que o salmista escreveu esse poema quando já era um homem maduro (Salmo 37:25). Isso explica a forma com que o autor se coloca ao longo do salmo como um observador, cuja experiência de vida confirma sua reflexão. O tema principal do Salmo 37 pode ser resumido numa única pergunta: Por que os homens maus prosperam, enquanto os justos sofrem?
O salmista trata desse problema no Salmo 37 sob a ótica da providência divina. Então no Salmo 37 ele responde a certos questionamentos que muitas vezes o povo de Deus faz. Por exemplo:
- Por que Deus permite que os perversos prosperem?
- Será que Deus não está vendo os justos sendo oprimidos pelos injustos?
- Por que muitas vezes quanto mais longe de Deus o ímpio estiver, mais feliz parece ser sua vida?
- Será que Deus não faz diferença entre o justo e o perverso?
- Será que realmente Deus está no controle de tudo, já que a maldade parece prevalecer?
- Deus não se importa com que os homens fazem nesta terra?
O Salmo 37 responde de forma extraordinária cada uma dessas questões apontando para a soberania de Deus.
Esboço do Salmo 37
Há diferentes formas possíveis de organizar num esboço o conteúdo do Salmo 37. Neste estudo bíblico iremos usar a seguinte divisão:
- Não olhe para os perversos; olhe para Deus (Salmo 37:1-6).
- Seja confortado pela promessa de Deus (Salmo 37:7-11).
- O Senhor contempla a perversidade dos ímpios (Salmo 37:12-15).
- Deus compreende o sofrimento dos justos (Salmo 37:16-20).
- O Senhor fortalece e abençoa o seu povo (Salmo 37:21-26).
- Deus jamais desampara os justos (Salmo 37:27-31).
- O Senhor é quem julga os homens maus (Salmo 37:32-34).
- A transitoriedade da prosperidade dos perversos e seu fim inevitável (Salmo 37:35-40).
Confie no Senhor e não se impressione com os perversos (Salmo 37:1-6)
Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. Porque cedo serão ceifados como a erva, e murcharão como a verdura. Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará. E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia.
Como já ficou claro, o tema principal do Salmo 37 é a temporária prosperidade dos ímpios. O salmista Davi faz uma análise sobre a prosperidade dos perversos nesta terra e admite que muitas vezes essa questão pode deixar o crente indignado e irritado. Por isso ele começa o Salmo 37 trazendo duas exortações logo no primeiro verso: “não te indignes” e “não tenha inveja” dos perversos.
Asafe, no Salmo 73, demonstrou que durante um tempo também teve dificuldade com essa questão. Ele admitiu que às vezes parece ser difícil entender o possível paradoxo da prosperidade do injusto e da opressão do justo. No Salmo 37, repetidas vezes o salmista adverte que não devemos nos importar com essa aparente contradição. Ao invés disso, nós devemos confiar unicamente e inteiramente no Senhor.
Por isso o salmista conclama: “Deleita-te no Senhor“ e “Entrega teu caminho ao Senhor; confia nele”. Os resultados dessas ações por parte dos servos de Deus aparecem nas promessas subsequentes: “e te concederá os desejos do teu coração” e “e Ele o fará” (Salmo 37:4,5).
Alguém pode perguntar: Então Deus concederá todos os desejos de seus servos? O Senhor fará tudo o que seu povo pedir?
Aqui é preciso entender que essas promessas apontam para um clímax escatológico. Elas nada têm a ver com desejos e conquistas terrenas. Na verdade essas promessas falam de uma prosperidade eterna que definitivamente significa a justificação diante de Deus (Salmo 37:6). O apóstolo Paulo escreve o seguinte sobre isso: “Ele o fez a fim de que, justificados por sua graça, nos tornemos seus herdeiros, tendo a esperança da vida eterna” (Tito 3:7).
Encontre conforto em Deus (Salmo 37:7-11)
Descansa no Senhor, e espera nele; não te indignes por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos. Deixa a ira, e abandona o furor; não te indignes de forma alguma para fazer o mal. Porque os malfeitores serão desarraigados; mas aqueles que esperam no Senhor herdarão a terra. Pois ainda um pouco, e o ímpio não existirá; olharás para o seu lugar, e não aparecerá. Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz.
Por vezes o justo pode ser tentado a agir por suas próprias forças contra os perversos. Mas o salmista apropriadamente diz: “Descansa no Senhor, e espera nele” (Salmo 37:7). No original, o significado principal desse conselho é “aquietar, calar, acalmar”.
Deus não precisa da nossa ajuda para executar seus propósitos e para minifestar a sua justiça. Enquanto Ele age, cabe a nós descansarmos nele. Podemos entregar todo nosso ser ao Senhor confiantes de que tão logo desfrutaremos das bênçãos eternas que Ele nos reservou. Enquanto os ímpios encontrarão destruição, os servos de Deus de deleitarão na abundância da paz.
Mas quando tudo isso acontecerá? O salmista responde: “Um pouco de tempo, e os ímpios não mais existirão; por mais que os procure, não serão encontrados” (Salmo 37:10).
Os ímpios não podem se esconder de Deus (Salmo 37:12-15)
O ímpio maquina contra o justo, e contra ele range os dentes. O Senhor se rirá dele, pois vê que vem chegando o seu dia. Os ímpios puxaram da espada e armaram o arco, para derrubarem o pobre e necessitado, e para matarem os de reta conduta. Porém a sua espada lhes entrará no coração, e os seus arcos se quebrarão.
Esses versos mostram a que ponto chega a injustiça praticada pelo ímpio em relação ao justo. Os perversos planejam contra os justos, pois eles os odeiam com todas as forças. Eles matam os que andam pelo reto caminho, e abatem os necessitados (Salmo 37:12,14). Nesse ponto o salmista se refere aos ímpios como animais selvagens prontos a devorarem os justos.
Mas o salmista também explica que Deus não ignora as obras dos perversos. Quando o ímpio oprime o justo, não significa que há um descaso da parte de Deus. Muito pelo contrário; Ele contempla tudo! Em sua loucura, o ímpio pensa que nunca se dará mal. Porém suas armas se voltarão contra ele mesmo e ele experimentará as consequências de seus próprios pecados (Salmo 37:15).
O salmista diz que o Senhor ri dos ímpios, pois sabe que o dia deles está chegando (Salmo 37:13). O livro do Apocalipse fala sobre como será o dia em que os ímpios terão de comparecer diante de Deus. Nesse dia eles ficarão completamente aterrorizados. Veja: “E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; Porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá subsistir?” (Apocalipse 6:16,17).
Deus está atento ao justo (Salmo 37:16-20)
Vale mais o pouco que tem o justo, do que as riquezas de muitos ímpios. Pois os braços dos ímpios se quebrarão, mas o Senhor sustém os justos. O Senhor conhece os dias dos retos, e a sua herança permanecerá para sempre. Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão. Mas os ímpios perecerão, e os inimigos do Senhor serão como a gordura dos cordeiros; desaparecerão, e em fumaça se desfarão.
Nesses versículos o salmista afirma que Deus sustenta os justos. Apesar das dificuldades que eles enfrentam nesta terra, Deus é quem supri todas as suas necessidades. Por isso Davi diz que “melhor é o pouco do justo que a riqueza de muitos ímpios” (Salmo 37:16). Isso porque as riquezas dos ímpios estão fundamentadas em suas próprias forças, mas seus braços se quebrarão. No entanto, é o Senhor quem sustém os justos (Salmo 37:17).
A forma com que Deus sustém o justo é explica na sequência do poema. O salmista diz que “o Senhor conhece os dias dos retos” (Salmo 37:18). Esse conhecimento não significa apenas cognição, uma simples compreensão intelectual. Deus é onisciente e conhece exaustivamente todas as coisas. Então quando a Bíblia diz que Deus conhece o seu povo, não há qualquer redundância, pois isso significa um relacionamento especial.
Ao dizer que Deus conhece os dias dos justos, o salmista está dizendo que Deus está envolvido ativamente no cuidado de suas vidas. O Senhor não apenas conhece as necessidades dos justos, mas é também quem cuida deles. Por isso Jesus Cristo ensinou seus seguidores a orarem dizendo: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje” (Mateus 6:11). Nessa pequena frase o crente reconhece sua necessidade e entende que o único que pode satisfazê-la é seu Pai celestial.
O justo é sustentado pelo Senhor (Salmo 37:21-26)
O ímpio toma emprestado, e não paga; mas o justo se compadece e dá. Porque aqueles que ele abençoa herdarão a terra, e aqueles que forem por ele amaldiçoados serão desarraigados. Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e deleita-se no seu caminho. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão. Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão. Compadece-se sempre, e empresta, e a sua semente é abençoada.
O justo sabe que tudo quanto possui vem de Deus. Ele compreende que a graça e a misericórdia divina são a fonte de seu sustento. Por isso ele também demonstra generosidade e compartilha o que tem. Ele não se comporta como o ímpio que procura furtar até mesmo aquele que lhe empresta (Salmo 37:21).
Novamente o salmista estabelece o contraste entre o justo e o ímpio. O primeiro tem sobre si a benção do Senhor em caráter permanente. Já o segundo recebe a maldição divina e termina eliminado. O contraste é claro: os justos herdarão a terra e os ímpios serão arrancados pela raiz.
Mais uma vez deve ficar claro que o justo não é superior ao ímpio por causa de suas próprias qualidades e capacidade. O salmista não deixa dúvida de que é o Senhor quem firma os passos do justo. Isso significa que ele ampara e estabelece aqueles que vivem de acordo com a sua vontade (Salmo 37:23). Mas o justo não é perfeito. Ele também pode tropeçar ao longo do caminho. Todavia, quando o justo tropeça, Deus não o deixa caído. Ele ergue o crente com sua poderosa mão.
Judas escreve que Deus é poderoso para guardar o cristão de tropeçar (Judas 1:24); e no Salmo 37 o salmista escreve que ainda que o cristão venha tropeçar, o mesmo Deus é poderoso para restaurá-lo (Salmo 37:24). A vida do justo serve de testemunho da fidelidade de Deus (Salmo 37:25,26).
Deus jamais desampara seu povo (Salmo 37:27-31)
Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada para sempre. Porque o Senhor ama o juízo e não desampara os seus santos; eles são preservados para sempre; mas a semente dos ímpios será desarraigada. Os justos herdarão a terra e habitarão nela para sempre. A boca do justo fala a sabedoria; a sua língua fala do juízo. A lei do seu Deus está em seu coração; os seus passos não resvalarão.
Esses versos afirmam que o Senhor também capacita seu povo a viver em obediência. Ele não desampara os santos, mas os preserva continuamente. O Senhor coloca sua lei nos corações daqueles que Ele sustenta.
Os santos são governados pelos preceitos divinos tanto interiormente quanto exteriormente. Por isso suas ações e suas palavras são sábias e justas (Salmo 37:30,31).
O Senhor julgará os perversos (Salmo 37:32-34)
O ímpio espreita ao justo, e procura matá-lo. O Senhor não o deixará em suas mãos, nem o condenará quando for julgado. Espera no Senhor, e guarda o seu caminho, e te exaltará para herdares a terra; tu o verás quando os ímpios forem desarraigados.
O ímpio vive na ilusão de que suas tramas ficaram impunes. Ele não vê nenhum problema em espreitar o justo para tentar matá-lo. Mas o Senhor julgará os perversos.
Além disso, Deus não permitirá que as acusações dos ímpios prevaleçam contra aqueles que foram justificados. Pelos méritos de Cristo, os crentes são declarados inocentes diante do tribunal de Deus. Para a glória de Deus, eles contemplarão a manifestação da justiça divina sobre os ímpios (Salmo 37:34; cf. Salmo 149:5-9; 1 Coríntios 6:2,3; Apocalipse 15:3,4). Saiba o que é a justificação.
O fim do ímpio é inevitável (Salmo 37:35-42)
Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal. Mas passou e já não aparece; procurei-o, mas não se pôde encontrar. Nota o homem sincero, e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz. Quanto aos transgressores, serão à uma destruídos, e as relíquias dos ímpios serão destruídas. Mas a salvação dos justos vem do Senhor; ele é a sua fortaleza no tempo da angústia. E o Senhor os ajudará e os livrará; ele os livrará dos ímpios e os salvará, porquanto confiam nele.
É verdade que o ímpio prospera nos negócios deste mundo. O salmista se refere ao perverso como uma árvore exuberante que floresce em terra nativa. Mas sua prosperidade é passageira e apenas serve como um tipo de prelúdio de sua ruína. Os perversos estão destinados ao julgamento divino (Provérbios 16:4).
Quando o juízo de Deus for derramado sobre o ímpio, nada mais lhe sobrará (Salmo 37:36). Os ímpios e toda sua prosperidade e glória terrena são como um sonho que se vai quando a gente acorda. Deus os coloca em terreno escorregadio, e assim eles são lançados em destruição (Salmo 73:18-20).
Além disso, Deus não somente julga os perversos, mas livra os justos de suas armadilhas. Enquanto os ímpios encontram no Senhor ira e juízo, os santos encontram nele salvação. Para os justos, Deus é fortaleza no tempo de angústia (Salmo 37:38-40).
Por isso o salmista escreve que o fim do justo é a paz. O crente desfrutará de uma paz eterna na presença de Deus. O apóstolo João registra a seguinte promessa: “Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes vivas das águas; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima” (Apocalipse 7:16,17).
Aplicações do Salmo 37
O estudo do Salmo 37 nos permite fazer várias aplicações práticas. Por exemplo:
- O Salmo 37 revela que Deus está no controle da história.
- O Salmo 37 revela que Deus está vendo tudo o que os homens fazem durante suas vidas terrenas.
- O Salmo 37 revela que por maior que seja a prosperidade do ímpio neste mundo, sua felicidade é temporária e amaldiçoada.
- O Salmo 37 revela que Deus pedirá conta de tudo o que os ímpios fizeram durante suas vidas.
- O Salmo 37 revela que no momento oportuno Deus estende sua mão e socorre aquele que nele confia. O justo jamais permanecera injustiçado.
- O Salmo 37 revela que os servos de Deus, ainda que perseguidos, assolados e maltratados neste mundo, possuem uma felicidade sem fim e são herdeiros de bênçãos eternas.