Muitas pessoas pensam que Saulo virou Paulo, mas isso é um erro. Deus não trocou o nome de Saulo para Paulo. É verdade que na Bíblia há registros de ocasiões em que Deus mudou o nome de uma pessoa, mas esse não foi o caso de Saulo.
O que acontece é que surgiu uma ideia popular de que na ocasião de sua conversão a Cristo no caminho de Damasco, Saulo virou Paulo, ou seja, o perseguidor Saulo teve seu nome mudado para Paulo, tornando-se um grande pregador do Evangelho. No entanto, em nenhuma parte do texto bíblico que narra a conversão de Saulo há a informação de que seu nome foi mudado de Saulo para Paulo. Inclusive, mesmo após ter sido convertido, Saulo continuou sendo designado no texto bíblico pelo seu nome, Saulo (Atos 9—13).
No livro de Atos dos Apóstolos, por exemplo, há uma referência direta a Saulo já como um homem repleto do Espírito Santo. E essa referência é interessante porque ela explica que Saulo também se chamava Paulo (Atos 13:9). Isso quer dizer que Paulo era um cognome de Saulo.
Por que Saulo tinha dois nomes, Saulo e Paulo?
Nos tempos antigos, era relativamente comum que as pessoas tivessem mais de um nome. No mundo greco-romano do primeiro século, essa prática era muito utilizada por causa do contexto em que as pessoas viviam.
O Império Romano dominava uma extensa área e exercia governo sob muitas províncias. As pessoas que viviam nessas províncias tinham origem em diferentes povos, cada qual com suas particularidades, mas que estavam submetidos ao domínio de Roma. E embora o idioma romano fosse o latino, a língua predominante no império era o grego — isso por causa da grande influência cultural grega no período helenístico.
Então muitas pessoas que viviam no Império Romano tinham um nome de batismo natural de sua terra e cultura, mas também possuíam uma versão grega desse nome ou assumiam um nome latino. Essa era a realidade do apóstolo Paulo.
Nós sabemos que Saulo era um judeu legitimo nascido na cidade de Tarso da Cilícia. Ele pertencia à tribo de Benjamim, foi circuncidado no oitavo dia de vida e educado na Lei como um fariseu (Filipenses 3:5; Atos 22:3).
Então por ocasião de seu nascimento, ele recebeu o nome judaico Saul — igual ao nome do primeiro rei de Israel que, inclusive, também pertencia à tribo de Benjamim. O nome Saul significa “pedido” ou “desejado”. Assim, o nome Saulo nada mais é do que a tradução grega do nome hebraico Saul.
No entanto, Saulo também tinha cidadania romana herdada de seu pai (Atos 22:8). Então como cidadão romano, Saulo tinha outros dois ou três nomes. É assim que podemos explicar o nome Paulo, que no grego aparece como Paulos, mas vem do latim Paulus, que significa “pequeno”. Portanto, Paulo provavelmente era o cognome romano de Saulo.
Por que na Bíblia Saulo passou a ser chamado Paulo?
Já vimos que Saulo não virou Paulo. Mas é inegável que na Bíblia Saulo é designado muito mais como Paulo do que como Saulo. Na verdade, a partir do capítulo 13 do livro de Atos dos Apóstolos, o nome Paulo é predominantemente empregado.
Mas curiosamente, esse mesmo capítulo fala do procônsul romano Sérgio Paulo que Saulo e Barnabé encontraram em Pafos, Chipre (Atos 13:7). Então alguns comentaristas conjecturam que Saulo deu preferência a usar o seu nome romano ao invés de seu nome hebraico, como cortesia a Sérgio Paulo. Porém, não há evidência alguma disso.
Outros comentaristas sugerem que talvez isso tenha sido uma escolha de Lucas, o autor do livro de Atos dos Apóstolos. A ideia é que ao registrar a conversão do oficial romano Sérgio Paulo, Lucas acabou aproveitando para apresentar o nome gentio de Saulo.
Há também quem defenda que Saulo deu preferência em usar o nome Paulo por ser um nome gentio. Como a maior parte de seu ministério foi desenvolvida entre não-judeus, se apresentar com um nome romano podia ser mais apropriado para aquele que ficou conhecido como “o apóstolo dos gentios”.
Por fim, existem ainda outras interpretações, como a interpretação de Agostinho, que acreditava que o motivo de Saulo ter usado o nome Paulo tinha a ver com o seu significado. Para Agostinho, Saulo virou Paulo como um indicativo de que ele se considerava “o menor dos apóstolos” (1 Coríntios 15:9; cf. Efésios 3:8). Mas novamente, esse tipo de interpretação não possui qualquer apoio e não passa de mera especulação. O mais provável é que Paulo era mesmo um cognome romano de Saulo que remontava à sua vida em Tarso.