A Bíblia diz que um pouco de fermento leveda toda a massa numa referência ao poder de permeação do fermento que impregna toda a mistura da massa. Por menor que seja a quantidade de fermento, uma vez que ele é misturado na massa, a massa inteira ficará levedada.
A ideia de que um pouco de fermento leveda toda a massa parece ter sido um dito proverbial bem conhecido no primeiro século. Mas essa ideia também se ajusta muito bem ao uso metafórico do fermento na Bíblia como representação de uma influência corruptora. Por isso em várias passagens bíblica há uma conexão entre a figura do fermento e o pecado. Inclusive, durante a celebração da Páscoa, os israelitas tinham de remover todo o fermento de suas casas (Êxodo 12:15).
Nos tempos bíblicos, o processo de fermentação de uma massa era feito utilizando-se de uma porção de uma massa mais antiga que já estava azeda. Essa pequena porção de massa azeda era misturada num líquido, e depois era acrescentada na mistura da massa com farinha para que o processo de fermentação fosse iniciado. Então um pouco de fermento já era suficiente para levedar toda a massa.
Além disso, por conta das condições precárias de armazenagem de alimentos naquele tempo, não raramente o fermento acaba contaminado por bactérias que podiam ser nocivas à saúde física das pessoas que comessem da massa. Então embora a massa em si estivesse inicialmente boa, quando misturada ao fermento contaminado, toda a massa ficava contaminada. Em todos os casos, o que fica claro é a capacidade penetrante do fermento na massa.
Um pouco de fermento leveda a massa toda: a falsa doutrina
Na Bíblia, o dito “um pouco de fermento leveda a massa toda” é aplicado duas vezes pelo apóstolo Paulo no Novo Testamento. Primeiro, escrevendo aos crentes da Galácia, o apóstolo destacou: “Vós corríeis bem; quem vos impediu de continuardes a obedecer à verdade? Esta persuasão não vem daquele que vos chama. Um pouco de fermento leveda toda a massa” (Gálatas 5:7-9).
Paulo escreveu essas palavras ao condenar falsas doutrinas que tinham por objetivo se opor à liberdade que há em Cristo mediante a suficiência de sua obra redentora. Para ser mais exato, no contexto geral o apóstolo estava reprovando o ensino dos judaizantes que queriam incorporar ao Evangelho certas exigências da Lei Mosaica, como a circuncisão, por exemplo. Mas o apóstolo chamou a atenção dos gálatas para o caráter transitório dos ritos judaicos diante da nova realidade permanente inaugurada por Cristo.
Nesse sentido, ele explicou que qualquer um que deseja acrescentar qualquer coisa, por menor que seja, à mensagem do Evangelho, esse acréscimo se torna uma falsa doutrina que resulta num Evangelho corrompido, afinal, um pouco de fermento leveda toda a massa.
Não pode haver qualquer mistura ao verdadeiro Evangelho da salvação pela graça mediante a fé. Se houver, então não estamos mais falando do Evangelho genuíno, mas de um falso ensino que busca esvaziar a obra de Cristo e enaltecer o mérito humano num sistema de salvação por obras.
Um pouco de fermento leveda toda a massa: o pecado tolerado
Mais tarde, quando escreveu aos crentes de Corinto, o apóstolo dos gentios questionou: “Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda toda a massa?” (1 Coríntios 5:6). Nesse versículo o contexto é diferente daquele da Carta aos Gálatas.
Aos crentes coríntios, Paulo fez uma exortação sobre a necessidade urgente de remover o pecado do meio da comunidade cristã. Ele repreendeu os coríntios por tolerar o pecado no meio deles, e colocar toda a comunidade em risco. Afinal, tal como um pouco de fermento leveda a massa toda, o pecado tolerado também pode contaminar uma congregação inteira.
Então Paulo convocou os crentes coríntios a jogar fora o velho fermento para que fossem nova massa; como de fato eram sem fermento (1 Coríntios 5:7). Em outras palavras, o apóstolo estava convocando os crentes de Corinto a expurgar o mal do meio deles para que pudessem viver uma vida santa condizente com a realidade de que eles tinham sido santificados por Cristo.