O voto ou propósito com Deus é um tipo de promessa que expressa uma oferta de gratidão por algo que Ele concede. Atualmente as pessoas usam a designação “propósito com Deus” como equivalente ao voto que é mencionado na Bíblia.
Nos tempos bíblicos o voto não era uma exigência da Lei; portanto era opcional. Mas uma vez que o voto fosse feito, seu cumprimento era obrigatório (cf. Eclesiastes 5:4).
Na vida religiosa de Israel havia uma estreita conexão entre os votos e as ofertas pacíficas. Parece que comumente os votos eram acompanhados por uma oferta pacífica, tanto no momento em que fossem feitos como depois quando fossem atendidos.
Então não era raro que um sacrifício pacífico fosse utilizado como cumprimento de um voto feito ao Senhor. Por isso existem referências no Pentateuco sobre a regulamentação do voto para os israelitas (cf. Levítico 7:16-18; 22; 27; Números 15:1-10; Deuteronômio 12). Saiba mais sobre o que são ofertas pacíficas na Bíblia.
Tipos de votos (propósitos) na Bíblia
Considerando todas as referências bíblicas acerca dos votos ou propósitos com Deus, é possível perceber pelo menos alguns tipos básicos de votos. Havia votos em que a pessoa se comprometia em realizar alguma coisa normalmente como uma ação de retribuição ao favor de Deus. Na maioria das vezes nesse tipo de voto a pessoa pedia a Deus sua presença, sua proteção, sua provisão etc.
Mas em alguns casos, esse mesmo tipo de voto também podia assumir um aspecto de barganha. Isso porque as promessas feitas pela pessoa quase sempre eram condicionais (cf. Gênesis 28:20-22).
Havia também os votos ou propósitos de abstinência. Ao invés da pessoa prometer fazer determinada coisa, ela prometia abster-se de algo (cf. Números 21:1-3; 1 Samuel 14:24). Outro tipo de voto era aquele que simplesmente expressava o zelo e a abnegada devoção a Deus (cf. Salmo 22:25; Salmo 132:2-5). O voto nazireu, por exemplo, combinava abstinência, abnegação e dedicação a Deus.
Pessoas que fizeram votos ou propósitos com Deus na Bíblia
A Bíblia Sagrada registra a história de várias pessoas que fizeram votos a Deus. Na maioria das vezes essas pessoas estavam em situações difíceis e fizeram votos prometendo algo a Deus caso as suas orações fossem atendidas. Alguns desses propósitos eram lícitos e foram feitos de forma correta, mas outros nem tanto. Citaremos aqui alguns exemplos principais.
O voto a Deus feito por Jacó
Jacó foi alguém que fez um voto a Deus. Ele pediu por proteção e provisão e prometeu adorar a Deus e pagar o dízimo de tudo o que lhe fosse concedido (Gênesis 28:20-22). Mas o voto de Jacó pode ser o exemplo de um voto do tipo barganha. Isso porque Deus já havia se revelado a ele num sonho e lhe prometido proteção, provisão e bênção sobre sua posteridade (Gênesis 28:13-15).
Mas Jacó usou as promessas incondicionais que Deus lhe fez como um tipo de chantagem. Basicamente ele quis deixar claro que se Deus cumprisse o que lhe havia prometido, então ele iria reconhecê-lo como Deus. Vale lembrar que Jacó fez esse voto no início de sua caminhada de fé. Mais tarde, no vau de Jaboque, Jacó realmente teve um profundo encontro com Deus que o transformou completamente.
O voto a Deus feito por Jefté
Um voto bastante complicado de se entender foi o voto de Jefté. Se o Senhor lhe concedesse a vitória sobre os amonitas, ele prometeu oferecer em holocausto ao Senhor a primeira coisa que saísse ao seu encontro vindo de sua casa. Então quem lhe saiu ao encontro foi sua filha, e ao vê-la ele se lamentou profundamente pelo que havia prometido.
Os estudiosos discutem se o voto de Jefté significou o sacrifício de sua filha ou simplesmente sua dedicação ao Senhor (Juízes 11:30,31). Se a primeira sugestão for a correta, então esse foi o voto mais descabido e inconsequente registrado na Bíblia e certamente foi reprovado por Deus. Através do profeta Jeremias Deus deixou claro que jamais ordenou ou aceitou sacrifícios humanos (cf. Jeremias 19:5).
O voto a Deus feito por Ana
O voto de Ana é um dos mais conhecidos da Bíblia. Ela era uma mulher estéril e suplicou a Deus para que Ele lhe concedesse o milagre de poder gerar um filho. Então ela prometeu dedicar esse filho ao Senhor (1 Samuel 1).
Deus ouviu sua oração e Ana foi a mãe do profeta Samuel. Samuel foi uma das pessoas mais importantes da história de Israel. Além de ser um dos grandes profetas do Senhor no Antigo Testamento, Samuel foi sacerdote e o último juiz em Israel. Depois do nascimento de Samuel, Deus permitiu que Ana também concebesse outros filhos.
Os votos a Deus feitos por Davi e Absalão
O rei Davi foi outro que fez votos ao Senhor. Em um desses votos ele demonstrou toda sua devoção a Deus. Ele prometeu não descansar até que a Arca da Aliança retornasse a Jerusalém (Salmo 132:2-5).
Muito diferente do voto feito por seu pai, Absalão também tentou fazer um propósito com Deus. Ele quis fazer um acordo com Deus visando o trono de Israel. Ele se comprometeu em adorar ao Senhor caso lhe fosse concedido ocupar o lugar de Davi (2 Samuel 15:7-12). Esse é um claro exemplo de um voto ilícito feito sob as bases do egoísmo.
Votos ou propósitos que Deus rejeita
Mas é verdade que hoje em dia a maioria das pessoas realmente não entende o que é um voto correto diante de Deus. Essas pessoas veem nos votos ou propósitos com Deus um meio de pura chantagem e barganha. Elas ficam prometendo dar “isso” se Deus lhes conceder “aquilo”. Por isso o tipo de voto feito por Absalão é o mais comum dentro das igrejas ultimamente.
Além disso, muitos líderes corruptos se aproveitam da ignorância bíblica de muitos crentes e ainda acabam incentivando-os a fazer esse tipo de voto. Daí eles pedem que os membros de suas comunidades façam votos ou propósitos com o salário do mês, com o valor do aluguel, com a prestação da casa, a prestação do carro entre outros. Claro que isto está errado! Obviamente Deus não se agrada desse tipo de coisa.
Além disso, não há qualquer referência no Novo Testamento que institua o voto como uma evidência da piedade cristã ou que incentiva os crentes a fazerem mais e mais votos. Também precisamos entender que servimos ao Deus criador e sustentador de todas as coisas. Ele sabe muito bem do que precisamos. Por isso Ele prometeu nos conceder o necessário para nossa sobrevivência (Mateus 5:25-34).
Podemos fazer votos ou propósitos com Deus?
Sim, não há problemas em fazermos votos ou propósitos com Deus. Apesar de Ele conhecer as nossas necessidades sem que precisemos lhe pedir algo, Ele também nos incentiva a colocar diante dele toda nossa petição pela oração e suplica, com ação de graças (cf. Filipenses 4:6; 1 Pedro 5:7).
Então como expressão de nossa total dependência dele e completa gratidão por suas obras, podemos fazer-lhe votos ou propósitos. Mas jamais o voto ou propósito com Deus deve ser visto como uma moeda capaz de comprar o seu favor. Aliás, tem gente que faz determinados votos ou propósitos de abstinência, por exemplo, pensando que estará impressionando a Deus com seu sofrimento.
Tudo o que Deus nos concede não é por nossos méritos ou porque merecemos, mas por sua graça e misericórdia. Um voto ou propósito aceitável diante de Deus não pode ser feito com base em nossos desejos egoístas e pecaminosos. O verdadeiro voto ou propósito com Deus não tem como finalidade máxima a satisfação da soberba ou vaidade humana. Então não existe base bíblica para defender o voto do carro novo, da casa própria, do emprego bem remunerado etc.
Se Deus nos concede tais bênçãos é porque Ele cuida de nós, e não porque provamos nosso valor a Ele. O voto ou propósito correto biblicamente é aquele que tem como principal objetivo trazer glória a Deus e contribuir com seu reino. Além do mais, nesse tipo de voto ou propósito com Deus o pensamento de gratidão sempre é mantido. Nele não há espaço para barganha e chantagem!
Geralmente esses votos ou propósitos nascem de momentos de angústia onde o adorador suplica humildemente ao Senhor e leva até Ele suas ansiedades. Então como forma de gratidão pelo cuidado divino, o cristão se compromete em dedicar-se cada vez mais a Deus e envolver-se com sua obra. Esse tipo de voto ou propósito com Deus jamais afrontará os princípios bíblicos.