A Igreja Passará Pela Grande Tribulação? Essa é uma pergunta que certamente já tirou o sono de muita gente. Muitos afirmam que a Igreja não passará pela Grande Tribulação e defendem um Arrebatamento Pré-Tribulacionista, enquanto outros afirmam exatamente o contrário e defendem um Arrebatamento Pós-Tribulacionista.
Há ainda quem fica em cima do muro e acredita que o Arrebatamento ocorrerá no meio da Grande Tribulação. Entenda as diferenças entre pré-tribulacionismo, meso-tribulacionismo e pós-tribulacionismo.
A Igreja passará pela Grande Tribulação ou não? Quem está certo?
Não gosto de tratar essa questão como certo ou errado, pelo simples fato de que trata-se de um evento futuro e que ainda não ocorreu. Prefiro então analisar pela coerência, ou seja, qual posição é mais coerente com as Escrituras (apenas com ela; não vale consultar livros de ficção científica). Saiba o que é escatologia bíblica.
Particularmente, creio que a posição que mais condiz com o ensino bíblico é o Pós-Tribulacionismo, ou seja, o Arrebatamento da Igreja ocorrerá após o período de Grande Tribulação. Conheça também as diferentes correntes escatológicas.
Como acredito na inerrância da Bíblia, não posso considerar que ela se contradiz em determinados textos e, considerar o Arrebatamento como um evento que antecede a Grande Tribulação, ocasionaria uma série de contradições que precisariam de um verdadeiro “malabarismo teológico” para serem contornadas.
Para mim, o texto bíblico que descreve de forma mais simples e objetiva o período do fim é o Sermão Escatológico de Jesus em Marcos 13. O mesmo sermão também é encontrado nos Evangelhos de Mateus e de Lucas. Nele, Jesus anuncia detalhadamente os últimos dias, e deixa claro que a Sua vinda será após aquela tribulação (Mc 13:24).
Em nenhum momento Jesus considera a ideia de que os salvos não estarão mais na terra, antes, adverte-nos que serão dias de muito sofrimento, um sofrimento como nunca foi visto na terra (Mc 13:19), mas que, por amor aos santos, aqueles dias serão abreviados (Mc 13:20).
Quando Jesus descreve o momento da Segunda Vinda, ele não se refere a nenhum evento secreto, nem mesmo que a Igreja já estaria com Ele e também retornando à terra. Ao invés disso, Jesus descreve esse momento como um momento de grande glória, de muita alegria para os salvos, e de terror para os ímpios, onde todos verão o Filho do Homem (Mt 24:30).
Como em partes do texto Jesus também se refere a destruição de Jerusalém em 70 d.C., compreendo que algumas pessoas possuem algumas dificuldades com esse sermão.
Na Epístola de 2 Pedro capítulo 3, o Apóstolo também descreve esse momento como sendo visível, estrondoso e impossível de não ser percebido. Em 2 Tessalonicenses 2, Paulo também exorta sobre as mesmas coisas e, tal como Jesus em Seu sermão, e Pedro em sua Epístola, ele faz advertências à Igreja que estará na terra nesse momento. Basicamente, se Paulo esperasse o Arrebatamento antes da Grande Tribulação, ele não teria alertado sobre o surgimento do Anticristo e sobre uma grande apostasia como eventos que precedem a volta de Cristo, afinal, para que alertar sobre tais coisas já que a Igreja não estaria mais aqui? Ele poderia ter escrito: será difícil, mas fiquem calmos, a Igreja não estará mais na terra. Há também quem defenda que Paulo nesse texto esteja se referindo aos eventos do primeiro século, ou seja, a destruição de 70 d.C.
Mesmo se analisarmos os textos mais utilizados para defender o Arrebatamento antes da Grande Tribulação, veremos que o encontro da Igreja com Cristo em glória e o juízo sobre os incrédulos, acontecerão no mesmo dia e no mesmo evento, e não após uma temporada de sete anos da Igreja no céu.
Em 1 Tessalonicenses 1:10 e 5:9 as expressões “Jesus, que nos livra da ira vindoura” e “Deus não nos destinou para a ira” se referem ao juízo divino sobre os ímpios que resultará na condenação eterna. Em outras palavras, pela justificação que há em Cristo Jesus, os salvos não entrarão em condenação (Rm 8:1). Já em 1 Tessalonicenses 4:17 Paulo está consolando as pessoas que estavam tristes com a morte dos irmãos que já haviam falecido. O objetivo nesse versículo não é traçar uma ordem cronológica, mas afirmar que tantos os salvos que já morreram, quanto os que estiverem vivos, todos estarão presentes no dia da volta de Cristo e, para sempre, viverão com Ele.
No capítulo 5 de 1 Tessalonicenses podemos perceber que no dia descrito como “O Dia do Senhor” (que é um evento público 2Pe 3:10) tanto os santos quanto os ímpios estarão na terra. Daí vem o alerta: vigiai! Paulo chama atenção (como também Jesus fez no Sermão Escatológico) para que a Igreja esteja vigilante e pronta, pois esse dia será de repentina destruição, e os ímpios serão surpreendidos como por um ladrão que vem de noite. Expressões como “abrir e fechar de olhos”, “relâmpago que sai do oriente e se mostra no ocidente” e “vir como ladrão” originalmente não trazem o sentido de “velocidade”, mas de “surpresa”, “algo repentino e inesperado” para os incrédulos e os que não são verdadeiramente salvos.
Já em Mateus 24:40, se lermos atentamente (o capítulo todo é claro), perceberemos que não se trata de nenhum Arrebatamento secreto, e, sim, do Dia do Senhor, onde a Igreja será arrebatada e os ímpios serão levados ao juízo eterno. Note que no versículo 39 em uma comparação com os dias de Noé, não foram os justos que foram levados (Noé e sua família), mas os ímpios pelas águas do Dilúvio.
Apocalipse 3:10 talvez seja o texto mais utilizado para defender o Arrebatamento antes da Grande Tribulação. A afirmação “te guardarei da hora da provação” não está se referindo ao fato da Igreja ser tirada do mundo nesse momento e, sim, de ser preservada em meio ao sofrimento que virá sobre a terra e, sobretudo, da perseguição do mundo iníquo. Uma passagem correlata a essa é Gálatas 1:4 onde o Senhor Jesus “se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau”. Na oração de Jesus em João 17, o pedido para o Pai “guardar” os que são seus não significa “tira-los do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17:15). Essa mesma promessa também é encontrada em 2 Pedro 2:9.
Por último, os termos gregos parousia (vinda, presença), harpazo (capturar, raptar com força – geralmente utilizado pelos Pré-Tribulacionistas para se referir ao Arrebatamento Secreto), apiphaneia (aparecimento, manifestação) e apokalypsis (revelação), são usados de forma intercambiáveis. Por exemplo: que em 1 Tessalonicenses 4:15 a termo utilizado por Paulo (parousia) para descrever o Arrebatamento Secretos segundo os Pré-Tribulacionistas, é o mesmo utilizado por Paulo em em 1 Tessalonicenses 3:13 para descrever o que eles definem como a “Segunda Fase de Vinda de Cristo”. Caso semelhante também ocorre em 1 Coríntios 1:7 em comparação com 2 Tessalonicenses 1:7,8 onde as palavras gregas são utilizadas sem a intenção de criar algum tipo de divisão de fases. Logo, no original não é possível fazer qualquer distinção de eventos. Vale ressaltar também que, antes de meados de 1850, nunca na história da Igreja foi ensinado oficialmente tal distinção (embora no século IV d.C. Efraim da Síria parece ter ensinado algo parecido).
Sinceramente, eu gostaria muito que os irmãos Pré-Tribulacionistas estivessem certos, porém não consigo encontrar fundamentação bíblica sólida para defender essa posição. Posso prometer também que, se caso Cristo voltar antes da Grande Tribulação, garanto que não será eu quem irá reclamar. Também prefiro ensinar uma igreja a estar preparada para passar por um período de Grande Tribulação do que ensinar que seremos arrebatados antes dela e, de repente, nos vermos em pleno período de Grande Tribulação. Se eu ensinar que a Igreja não passará pela grande tribulação e acabar passando, sei que as pessoas me cobrarão. Se eu ensinar que ela passará e o Arrebatamento ocorrer antes, então acredito que no céu ninguém se lembrará de me cobrar sobre isso. De qualquer forma, o Pós-Tribulacionismo é a melhor interpretação em todos os cenários.
Posso concluir dizendo que considero o Pré-Tribulacionismo bastante incoerente, mas não uma heresia. Para mim, uma heresia seria uma visão que negue a volta de Cristo, e isso o Pré-Tribulacionismo não faz. Também acredito que isso não deva ser motivo de divisão entre os cristãos, pois maior é o que nos une: a esperança de que Cristo voltará! Que Deus nos guarde, e que possamos estar sempre vigilantes.