A obra do Espírito Santo é indicada na Escritura como sendo essencial tanto na história da criação quanto no plano da redenção. Para o cristão, a obra do Espírito Santo sempre deve ter um significado especial, pois é através de sua atuação que a obra redentora é aplicada na vida do crente e o permite desfrutar de um relacionamento pessoal com Deus.
Mas muita gente tem dúvida com relação a atuação do Espírito Santo ao longo do tempo nos diferentes estágios da história da redenção. Por exemplo: algumas pessoas têm dificuldade de perceber a obra do Espírito Santo no Antigo Testamento; enquanto outras não entendem corretamente sua atuação a partir do Novo Testamento.
A obra do Espírito Santo na criação
A Bíblia começa mostrando a obra do Espírito Santo. Os primeiros versículos da Bíblia descrevem a história da criação do mundo e destacam a atuação do Espírito Santo: “No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gênesis 1:1,2).
A expressão “Espírito de Deus” é a mais usual no Antigo Testamento para se referir ao Espírito Santo. Já a palavra “pairava” traduz um termo que também significa “envolver”. Então o texto bíblico basicamente diz que o Espírito Santo envolveu o cosmo que estava desordenado, em trevas, vazio e sem forma, e lhe trouxe ordem, vida e luz. Em certo sentido é a mesma ideia de uma ave que envolve seus ovos com a finalidade de produzir vida.
Em resumo, a obra do Espírito Santo na criação trouxe ordem onde havia desordem; trouxe luz onde havia trevas; trouxe vida onde havia apenas o vazio. Dessa forma, o primeiro capítulo do livro de Gênesis atribui a obra contínua de Deus na criação à atuação do Espírito.
Isso, inclusive, aponta para o fato de que toda a Trindade Divina esteve envolvida na obra da criação. Isso porque o Novo Testamento também informa que todas coisas foram feitas por meio do Verbo de Deus, e sem Ele nada do que foi feito se fez (João 1:1-3; Colossenses 1:16). Então podemos dizer que a criação do mundo foi obra de Deus, o Pai, por meio do Filho, pela agência do Espírito. O salmista coloca essa verdade de forma simples quando diz: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo sopro [ou espírito] da sua boca” (Salmo 33:6; cf. Jó 26:13).
A obra do Espírito Santo na capacitação para o serviço no Antigo Testamento
O Antigo Testamento também revela a obra do Espírito Santo na capacitação especial de certas pessoas. Nesse sentido, o Espírito Santo concedeu a elas habilidades extraordinárias para que elas pudessem desempenhar determinadas tarefas que tiveram alguma importância na história da redenção.
No livro de Gênesis, por exemplo, lemos que as habilidades especiais de José na interpretação de sonhos e na sabedoria para administrar na crise, vinham do Espírito de Deus (Gênesis 41:38,39).
Outro exemplo claro desse tipo de atuação do Espírito Santo na capacitação de algumas pessoas pode ser visto no contexto da construção do Tabernáculo. A Bíblia diz que os artesãos do Tabernáculo foram capacitados de forma especial pelo Espírito de Deus para o serviço para o qual foram designados (Êxodo 28:3).
A respeito do chefe dos artesãos, Bezalel, o texto bíblico diz que Deus o encheu do seu Espírito “no tocante à sabedoria, ao entendimento, à ciência e a todo ofício” para que ele pudesse desempenhar toda sorte de trabalhos na construção do Tabernáculo (Êxodo 31:3). O próprio Moisés, o grande legislador de Israel, também desempenhou seu ministério sob o poder do Espírito de Deus (Números 11:14-17).
Sem dúvida o tempo dos juízes também foi um período onde a atuação do Espírito Santo na capacitação de certas pessoas esteve mais evidente. Naquele tempo Deus levantou homens para exercerem o que podemos chamar de “liderança carismática”. Isso significa que os juízes de Israel foram homens habilitados pelo Espírito Santo. Então Gideão, Jefté, Sansão e os outros juízes, todos agiram pelo Espírito do Senhor (Juízes 6:34; 11:29; 13:25).
O mesmo também pode ser dito a respeito de alguns reis de Israel. A Bíblia diz, por exemplo, que a partir da ocasião da unção de Davi o “Espírito do Senhor se apoderou” dele (1 Samuel 16:13).
A obra do Espírito Santo na vida religiosa de Israel
A obra do Espírito Santo em seu aspecto capacitador também marcou a vida espiritual de Israel. Os sacerdotes, por exemplo, eram ungidos para o seu serviço — o que significava que eles serviam sob o chamado de Deus e a capacitação do Espírito (Êxodo 28:41).
Os profetas que transmitiram ao povo as profecias divinas e registraram a revelação de Deus na Escritura, assim o fizeram pela ação do Espírito Santo (Ezequiel 2:2). Tudo o que eles falaram não foi fruto da vontade humana, mas foi proveniente da inspiração do Espírito Santo (2 Pedro 1:21). Isso também está de acordo com a informação bíblica de que o povo de Deus no Antigo Testamento foi ensinado sob o dom do Espírito de Deus (Neemias 9:20).
A atuação do Espírito Santo na vida de pessoas não crentes
A obra do Espírito Santo na capacitação especial de uma pessoa para o serviço, não deve ser confundida com a obra do Espírito Santo na regeneração do pecador. No Antigo Testamento o Espírito Santo capacitava de forma extraordinária principalmente os crentes. Mas também é verdade que em alguns casos essa capacitação também podia ser estendida sobre certos indivíduos que não eram verdadeiramente crentes.
Por exemplo: na Bíblia lemos sobre como o reprovável Balaão chegou a profetizar sob o poder do Espírito Santo (Números 22-23). Os filhos do sumo sacerdote Eli, embora pertencessem a uma linhagem ungida de sacerdotes, eram ímpios (1 Samuel 2:12). Quando Saul foi ungido como rei de Israel, o Espírito Santo veio sobre ele, mas depois o mesmo Espírito se retirou dele (1 Samuel 16:14).
Esses episódios deixam claro que a unção do Espírito Santo para o exercício de um serviço específico não era o mesmo que o dom da regeneração produzido pelo Espírito de Deus na vida do pecador.
Inclusive, isso explica a oração do rei Davi ao Senhor após reconhecer os seus pecados: “Não retires de mim o teu Espírito Santo” (Salmos 51:11). Davi havia visto o fim desastroso de Saul quando o Espírito Santo se retirou dele. Então tendo em vista os seus pecados, Davi temeu perder a unção especial dada pelo Espírito do Senhor que lhe habilitava para reinar e pastorear sobre Israel.
Mas essa oração do rei Davi é interessante porque foi a oração de uma pessoa que não apenas tinha sobre sua vida a unção do Espírito Santo para desempenhar o seu ministério, mas também era uma pessoa que tinha recebido o dom da regeneração operada pelo Espírito Santo.
Por isso, do começo ao fim a oração de Davi foi uma oração de arrependimento sincero; foi uma oração de quem queria ser restaurado, purificado e invadido novamente pela alegria da salvação que é comum somente àqueles que desfrutam de plena comunhão com Deus (Salmos 51:12).
A atuação especial do Espírito Santo no Novo Testamento
Conforme o caráter progressivo da revelação de Deus à humanidade, a obra do Espírito Santo se mostrou mais intensa a partir do tempo do Novo Testamento. Enquanto no Antigo Testamento a obra do Espírito Santo de forma especial na vida das pessoas era mais isolada, a partir do Novo Testamento ela se tornou mais abrangente e completa.
Por exemplo: quando Moisés sentiu o peso da pressão israelita no deserto, Deus lhe proveu ajuda compartilhando com setenta anciãos o mesmo Espírito que havia sido dado apenas a Moisés. Então naquele contexto Moisés declarou que almejaria que o Senhor desse a todo o povo o seu Espírito (Número 11:29).
Mais tarde, através do profeta Joel o Senhor anunciou que aquela realidade desejada por Moisés haveria de acontecer, pois Ele haveria de derramar do seu Espírito sobre toda a carne, sobre jovens e velhos, servos e senhores (Joel 2:28,29).
Essa profecia começou a ser cumprida, primeiramente, com o advento do Messias. Na pessoa do Senhor Jesus Cristo o Espírito Santo repousou de uma forma incomparável. O próprio milagre da encarnação sob a concepção de uma virgem foi obra do Espírito Santo (Lucas 1:35).
Inclusive, em sua pregação João Batista anunciou que Jesus é Aquele que batiza com o Espírito Santo (João 1:33). E na ocasião do batismo de Jesus a Bíblia registra que o Espírito Santo desceu sobre Ele de forma perceptível (Mateus 3:16).
Por isso durante seu ministério Jesus indicou que a profecia do profeta Isaías estava sendo cumprida em sua pessoa: “O Espírito do Senhor é sobre mim, porque me ungiu…” (Lucas 4:18-21; cf. Isaías 61). Dessa forma, a atuação do Espírito Santo esteve sempre presente durante todo o ministério terreno de Jesus. As obras que Ele realizou foi pelo poder do Espírito de Deus (cf. Mateus 12:25-32).
Depois, o mesmo Senhor Jesus falou sobre o derramamento do Espírito Santo que haveria de acontecer após a sua partida (Lucas 24:49; João 14; Atos 1:4,5). E isso aconteceu no dia de Pentecostes, quando foram cumpridas as promessas veterotestamentárias sobre a vinda do Espírito Santo sobre todo o povo de Deus (Atos 2:16-21).
A obra do Espírito Santo na Igreja
A atuação do Espírito Santo em seu aspecto capacitador continuou no Novo Testamento. Os apóstolos foram capacitados pelo Espírito Santo de forma especial para lançarem os fundamentos da Igreja do Novo Testamento.
Além disso, nesse sentido, os apóstolos e os demais escritores do Novo Testamento foram habilitados pelo Espírito Santo para uma obra singular, tal como também foram anteriormente os profetas do Antigo Testamento que proclamaram e registraram a Palavra de Deus. Esse tipo de capacitação jamais se repetirá, pois a Escritura está completa e os fundamentos da Igreja já foram lançados.
Mas os demais crentes do Novo Testamento não ficaram desprovidos de poder e virtude do Espírito. A promessa de que o Espírito Santo seria derramado sobre todo o povo de Deus no Novo Testamento de fato se cumpriu!
Assim, na Igreja do Novo Testamento não são apenas indivíduos isolados que recebem o dom o Espírito Santo de forma especial como ocorria nos tempos do Antigo Testamento. Na verdade, a obra do Espírito Santo abrange toda a Igreja; o Espírito de Deus atua em todo crente genuíno. Isso porque “todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (1 Coríntios 12:13).
Isso, no entanto, não quer dizer que todos os crentes possuem os mesmos dons. A Bíblia explica que a atuação do Espírito Santo na distribuição dos dons na Igreja é soberana. A obra do Espírito Santo, no que diz respeito a capacitação do crente com habilidades especiais para o serviço na obra de Deus, ocorre conforme Ele quer. Dessa forma, o Espírito Santo distribui diferentes dons a diferentes crentes, de modo que a Igreja possa funcionar como um corpo bem ajustado (1 Coríntios 12:1-27).
A obra do Espírito Santo no plano da redenção
Já falamos sobre como a obra do Espírito Santo pode ser vista na Igreja. Mas a Igreja são pessoas; a Igreja é a união daqueles que foram redimidos em Cristo Jesus. Então embora no contexto coletivo nem todos os crentes possuam o mesmo dom, ou foram chamados para o mesmo serviço, todos possuem o mesmo Espírito habitando suas vidas e dando-lhes poder para o cumprimento do ministério cristão. Então nesse ponto é importante entender que o Espírito Santo é o responsável por aplicar a obra da redenção na vida do pecador.
A vida cristã não tem início sem a obra do Espírito Santo. Conforme também já falamos, o Espírito Santo atuou na obra da criação produzindo vida; trazendo ordem e luz onde havia caos e trevas. Mas a Bíblia também fala do Espírito Santo não apenas como fonte da vida biológica, mas também da vida espiritual.
Jesus Cristo anunciou que Ele veio para que as pessoas “tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10). A palavra “vida” na declaração de Jesus não traduz o grego bios, que denota um organismo vivo, mas traduz o grego zoe, que se refere a uma qualidade especifica de vida. Em outras palavras, Jesus estava falando de um tipo de vida que mesmo as pessoas que já estão biologicamente vivas precisam experimentar.
É claro que Jesus estava falando da vida espiritual com a qual a pessoa torna-se participante do Reino de Deus. Mas como alguém pode ter acesso a essa vida espiritual? O mesmo Senhor Jesus ensinou que para isso é necessário ao homem nascer de novo; não da carne, mas do Espírito (João 3:1-8).
A obra do Espírito Santo na regeneração e conversão do pecador
O novo nascimento que o pecador precisa experimentar é a regeneração. A regeneração é a transformação radical e miraculosa do pecador ressuscitando-o de seu estado de morte espiritual e mudando a inclinação de seu coração. Como diz R. C. Sproul, a regeneração é a transmissão de vida nova a almas mortas (Somos Todos Teólogos, 2014). Esse acontecimento sobrenatural é realizado pelo Espírito Santo, pois Ele é quem aplica em nós a obra d’Aquele que veio para que pudéssemos ter vida abundante.
Ainda sobre a obra do Espírito Santo no início da vida cristã, sua atuação se estende também na conversão do pecador. Algumas pessoas não entendem exatamente a diferença entre a regeneração e a conversão. Mas como explica M. Erickson, podemos falar da regeneração como o início da vida cristã da perspectiva divina, enquanto que a conversão é o início da vida cristã a partir da nossa perspectiva. A conversão é a volta do indivíduo para Deus (Teologia Sistemática, 1992).
Então é no processo de conversão que o pecador passa a ter convicção de seu pecado a ponto de responder com arrependimento, enquanto recebe com fé a pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo. Portanto, tudo isso também só é possível pela obra do Espírito Santo. É o Espírito de Deus que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo, para que ele possa tornar a Deus (João 16:8-11). Além disso, a Bíblia também diz que ninguém é capaz de reconhecer que Jesus é o Senhor se não pelo Espírito Santo (1 Coríntios 12:3).
A obra do Espírito Santo na continuidade da vida cristã
No decorrer da vida cristã a obra do Espírito Santo também é notória. Já falamos que é obra do Espírito Santo revestir o crente de poder e distribuir dons especiais para o crente desempenhar o seu papel dentro do Corpo de Cristo.
Mas tudo isso é possível, primeiramente, porque o Espírito Santo habita na vida do crente (João 14:16,17). E pela habitação do Espírito Santo os crentes são feitos o próprio “templo de Deus” (1 Coríntios 3:16).
Habitando no crente, o Espírito Santo é também o outro Consolador enviado pelo Pai em nome do Filho (João 14:26). A palavra “consolador” traduz o grego paracleto que indica um “auxiliador”, um “defensor”.
Como o outro Paracleto, o Espírito Santo assiste o crente em suas dificuldades, fortalecendo-o em sua caminhada na fé. Nesse sentido, faz parte da atuação do Espírito Santo servir como um intercessor quando o crente não sabe como orar (Romanos 8:26,27).
O Espírito Santo ainda atua de forma pedagógica na vida do cristão. Ele ensina e esclarece a Palavra de Deus ao crente, iluminando sua mente (João 14:26). E por fim, faz parte da obra do Espírito Santo como o outro Paracleto produzir santificação na vida do crente. Nesse sentido, Ele vai moldando continuamente o cristão para que ele se pareça cada vez mais com Cristo e viva de forma adequada à sua nova realidade espiritual, demonstrando os frutos distintivos de alguém que, de fato, vive no Espírito (Romanos 8:1-17; cf. Gálatas 5:22,23).
Aqui é importante enfatizar que a atuação do Espírito Santo na regeneração, conversão e santificação do pecador não é uma obra que Ele passou a realizar apenas a partir do Novo Testamento. Já nos tempos do Antigo Testamento era o Espírito Santo quem operava na vida do pecador, regenerando-o, convertendo-o e santificando-o.