Gênesis 26 é o capítulo que fala sobre a peregrinação de Isaque na terra dos filisteus. O estudo bíblico de Gênesis 26 mostra o que aconteceu durante o tempo em que a família da aliança esteve em Gerar.
É muito interessante o paralelo que há entre a experiência de Isaque registrada em Gênesis 26 e a experiência de Abraão registrada nos capítulo 12 e 13 do mesmo livro. Além disso, Gênesis 26 também é um capítulo importante para relacionar Isaque às promessas pactuais de Deus feitas a Abraão. Isso fica claro no fato de que nesse capítulo por duas vezes Deus fala com Isaque acerca das promessas da aliança.
Um esboço bíblico de Gênesis 26 pode ser dividido nas seguintes partes:
- Isaque parte para Gerar (Gênesis 26:1-6).
- A mentira de Isaque sobre Rebeca (Gênesis 26:7-11).
- Isaque é abençoado por Deus em Gerar (Gênesis 26:12-16).
- Isaque acampa no vale de Gerar (Gênesis 26:17-25).
- A aliança entre Isaque e Abimeleque (Gênesis 26:26-35).
Isaque parte para Gerar (Gênesis 26:1-6)
Gênesis 26 começa dizendo que Isaque partiu para Gerar por causa da fome que sobreveio à terra (Gênesis 26:1). Naquele tempo Gerar era um território filisteu que ficava próximo à fronteira egípcia. Os filisteus eram um povo que originalmente navegava no Mar Mediterrâneo. O grupo que se estabeleceu em Gerar tinha por rei Abimeleque.
Na ocasião em que Abraão esteve em Gerar, o nome do governante filisteu daquelas terras também era Abimeleque (Gênesis 20:2). Mas é importante saber que, apesar do nome, da posição e da região, o Abimeleque de Gênesis 26 não é o mesmo que fez aliança com Abraão.
Alguns estudiosos sugerem que provavelmente esse Abimeleque fosse um descendente do primeiro, talvez um filho ou um neto. Outros estudiosos apontam a possibilidade de Abimeleque ser apenas um título dinástico filisteu.
Parece que a intenção original de Isaque era seguir para o Egito. Isso fazia muito sentido, pois aquele era um tempo de fome e o Egito era a terra mais próspera. Porém, o Senhor apareceu a Isaque e o proibiu de descer ao Egito. Além disso, Deus ainda lhe disse: “Fica na terra que eu te disser; habita nela, e serei contigo e te abençoarei; porque a ti e a tua descendência darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a Abraão, teu pai” (Gênesis 26:2,3).
A ordem divina para Isaque habitar naquela terra possui o sentido de ser forasteiro ali. Por enquanto Isaque deveria ser um estrangeiro residente que não possuía de fato a terra. Porém, conforme a aliança feita com Abraão, Deus prometeu abençoar Isaque naquele lugar e dar a ele e a sua descendência a posse permanente daquele território.
Na sequência, o texto bíblico revela que Isaque realmente era aquele que deveria receber as promessas pactuais de Abraão. Tal como havia prometido a Abraão, Deus também disse a Isaque que multiplicaria sua descendência como as estrelas do céu, e nela todas as nações da terra seriam abençoadas; uma promessa que foi cumprida plenamente em Cristo. Como herdeiro da promessa, Isaque respondeu à aliança com obediência (Gênesis 26:4-6).
A mentira de Isaque sobre Rebeca (Gênesis 26:7-11)
Quando Isaque estava em Gerar, ele foi questionado pelos homens daquele lugar acerca de Rebeca. Tal como havia feito Abraão em duas ocasiões anteriores, Isaque também escondeu que Rebeca era sua esposa (cf. Gênesis 12; 20). Ele disse aos homens de Gerar que Rebeca era sua irmã.
O texto bíblico explica que Isaque mentiu por temer que os homens daquele lugar fossem capazes de matá-lo por causa de Rebeca. Rebeca era uma mulher muito bonita (Gênesis 26:7). Mas houve um dia em que a mentira de Isaque chegou ao fim. A Bíblia diz que Abimeleque viu por uma janela quando Isaque estava acariciando Rebeca (Gênesis 26:8).
Então o rei filisteu percebeu que Rebeca era, na verdade, esposa de Isaque, não sua irmã. Abimeleque questionou Isaque sobre o porquê de ele ter mentido. Isaque lhe explicou que teve medo de morrer (Gênesis 26:9).
É interessante notar que no caso de Abraão Deus revelou de forma especial ao outro Abimeleque que Sara era a esposa do patriarca. Já no caso de Isaque, Deus providencialmente fez com que Abimeleque descobrisse o verdadeiro relacionamento que havia entre ele e Rebeca.
Sem dúvida as atitudes de Abraão e Isaque foram erradas. Ao esconderem o caráter do relacionamento que tinham com suas esposas, em certo sentido eles colocaram em risco o futuro da aliança. As matriarcas Sara e Rebeca quase foram tomadas por homens estranhos, ameaçando o cumprimento da promessa.
Contudo, o Deus Imutável é fiel à sua Palavra, apesar das debilidades do instrumento humano. O fato de o rei pagão ter ordenado que qualquer um que tocasse em Isaque e Rebeca fosse sentenciado à morte, retrata claramente o cuidado providencial do Senhor (Gênesis 26:11).
Outro ponto a ser considerado é que o relato desse acontecimento indica que provavelmente o registro de Gênesis 26 é anacrônico em relação à parte final de Gênesis 25. Os últimos versículos de Gênesis 25 falam sobre o nascimento Jacó e Esaú. Obviamente isso parece ter ocorrido depois dos eventos narrados em Gênesis 26. Dificilmente Isaque conseguiria esconder que Rebeca era sua esposa se ela já fosse mãe de dois filhos.
Isaque é abençoado por Deus em Gerar (Gênesis 26:12-16)
Gênesis 26 também revela que Isaque foi muito próspero em Gerar. Ele chegou a colher cem por um. A prosperidade de Isaque, porém, não se dava essencialmente porque ele estava numa terra fértil ou algo do tipo, mas porque o Senhor o abençoava (Gênesis 26:12).
A prosperidade de Isaque acabou causando inveja nos filisteus. Eles entulharam os poços que Isaque estava usando. Aqueles poços, inclusive, tinham sido cavados pelos servos de Abraão e havia um pacto de não agressão (Gênesis 21:22-34). Mas depois da morte de Abraão os filisteus renegaram o acordo. A situação ficou tão insustentável que Abimeleque disse a Isaque para partir dali, porque ele já estava muito mais poderoso do que os filisteus (Gênesis 26:16).
Isaque acampa no vale de Gerar (Gênesis 26:17-25)
Após o problema com os filisteus, Isaque saiu da terra fértil e acampou no vale de Gerar. Ali ele tornou a abrir os poços que tinham sido escavados nos dias de Abraão e entulhados pelos filisteus após a morte do patriarca (Gênesis 26:17,18).
Os servos de Isaque conseguiram achar água nascente no vale, mas os pastores de Gerar contenderam com os pastores de Isaque reivindicando a água. Por causa dessa contenda, o poço foi chamado de Eseque, que significa literalmente “contenda” (Gênesis 26:20).
Então os servos de Isaque cavaram outro poço, e os pastores de Gerar novamente contenderam por causa dele. Por esse motivo o poço foi chamado de Sitna, que significa literalmente “inimizade”. Curiosamente essa palavra vem da mesma raiz do nome Satanás.
Depois, mais uma vez os servos de Isaque cavaram outro poço, e por esse não houve contenda. Isaque chamou aquele poço de Reobote e disse: “Porque agora nos deu lugar o SENHOR, e prosperaremos na terra” (Gênesis 26:22).
O texto bíblico diz que em seguida Isaque subiu a Berseba. Berseba era o lugar onde Abraão havia firmado o pacto de não agressão com os filisteus (Gênesis 21:32). Naquela mesma noite, Deus apareceu a Isaque e lhe reafirmou a bênção da aliança abraâmica. Isso deixava claro a continuidade das promessas de Deus a Abraão através de Isaque. Em resposta à revelação de Deus, Isaque edificou ali um altar, tal como seu pai havia feito (Gênesis 26:23-25; cf. Gênesis 12:7,8).
A aliança entre Isaque e Abimeleque (Gênesis 26:26-35)
A última seção de Gênesis 26 registra o episódio em que o rei Abimeleque foi procurar Isaque para firmar uma aliança com ele. Isaque questionou a atitude de Abimeleque, já que ele havia lhe expulsado das terras férteis de Gerar (Gênesis 26:26,27).
Mas a resposta de Abimeleque foi um testemunho da promessa de Deus a Isaque: “Vimos claramente que o SENHOR é contigo; então dissemos: Haja agora juramento entre nós e ti, e façamos aliança contigo. Jura que não nos farás mal, como também não te havemos tocado; e como te fizemos somente o bem, e te deixamos ir em paz. Tu és agora o abençoado do SENHOR” (Gênesis 26:28,29).
Isaque recebeu cordialmente Abimeleque e Austate, o homem que acompanhava o rei filisteu. Na madrugada do outro dia, Isaque fez um juramento com eles e os despediu (Gênesis 26:30,31). Naquele mesmo dia os servos de Isaque lhe deram a notícia de que tinham achado água no poço que tinham cavado. O poço foi chamado de Seba, que significa “juramento”. Esse nome explica porque o local ficou conhecido como Berseba, “Poço do Juramento” (Gênesis 26:33).
Gênesis 26 termina registrando o casamento de Esaú com duas mulheres filhas dos heteus. O casamento de Esaú com mulheres cananéias foi fonte de aborrecimento para seus pais; além de ser uma desconsideração pelas bênçãos da aliança. Essa parte final é mais um quadro que retrata o caráter profano de Esaú (Gênesis 26:34,35).