Gênesis 27 fala sobre a bênção de Isaque a Jacó e Esaú. O estudo bíblico de Gênesis 27 revela como Jacó conseguiu receber a benção da aliança em lugar de seu irmão mais velho. Rebeca, esposa de Isaque e mãe de Jacó e Esaú, teve participação decisiva nesse episódio.
Um esboço de Gênesis 27 pode ser dividido da seguinte forma:
- Isaque pede que Esaú lhe prepare uma refeição (Gênesis 27:1-4).
- Rebeca põe em prática um plano para favorecer Jacó (Gênesis 27:5-17).
- Jacó engana Isaque e recebe a bênção (Gênesis 27:18-29).
- Esaú descobre a trapaça de Jacó (Gênesis 27:30-37).
- Esaú insiste em ser abençoado (Gênesis 27:38-40).
- Esaú planeja matar Jacó (Gênesis 27:41-46).
Isaque pede que Esaú lhe prepare uma refeição (Gênesis 27:1-4)
Gênesis 27 começa mostrando um Isaque já velho e debilitado. Ele já não enxergava mais e pensava que o fim de sua vida havia chegado. Então ele chamou seu filho mais velho, Esaú, e lhe pediu que ele lhe preparasse uma refeição saborosa com carne de caça.
O próprio Isaque deixa claro que seu objetivo era comer a refeição que ele tanto apreciava feita por seu filho mais velho, e então abençoá-lo antes de sua morte (Gênesis 27:4). Era costume naquele tempo, por ocasião de uma despedida ou da morte iminente, que o líder da família desse sua bênção.
Mas na família de Abraão o significado espiritual dessa bênção era singular. Isso porque aquele que fosse abençoado se tornaria o herdeiro das promessas de Deus. Então aquele era um momento decisivo na família da aliança.
Rebeca põe em prática um plano para favorecer Jacó (Gênesis 27:5-17)
Gênesis 27 informa que Rebeca escutou o pedido de Isaque e arquitetou um plano para que Jacó fosse abençoado em lugar de Esaú. Ela pediu que Jacó fosse ao rebanho da família e lhe trouxesse dois bons cabritos para que ela pudesse preparar uma comida saborosa do agrado de Isaque.
Então bastava apenas que Jacó lhe servisse a refeição e fosse abençoado. Jacó argumentou com Rebeca que seu plano não daria certo. Isso porque ele e Esaú, apesar de gêmeos, eram muito diferentes. Embora Isaque já fosse cego, ele facilmente poderia perceber que Jacó não era Esaú ao apalpá-lo. Esaú era um homem muito cabeludo, e Jacó não.
Além disso, Jacó se mostrou preocupado em seu pai perceber sua trapaça. Caso isso acontecesse, ele sabia que poderia ser amaldiçoado ao invés de abençoado (Gênesis 27:12). Mas Rebeca assumiu a responsabilidade e disse que a maldição poderia cair sobre ela (Gênesis 27:13).
Notavelmente Jacó não se mostrou nenhum um pouco incomodado se o plano de sua mãe era moralmente aceitável ou não. Ele estava apenas preocupado com a possibilidade de o plano dar errado.
Jacó fez tudo conforme Rebeca lhe pediu. Após preparar a refeição de carne que Isaque apreciava, Rebeca também vestiu Jacó com a melhor roupa de Esaú que ela tinha em sua casa. Para disfarçar as diferenças entre Jacó e Esaú, Rebeca cobriu as mãos e o pescoço de Jacó com a pele dos cabritos que ela tinha preparado.
Jacó engana Isaque e recebe a bênção (Gênesis 27:18-29)
Com tudo pronto, Jacó foi apresentar ao seu velho pai a comida que ele tanto gostava. Diante de Isque Jacó assumiu que era Esaú. Isaque achou estranho o fato de a refeição ter saído tão depressa; afinal, a refeição devia ser feita de carne de caça. Mas Jacó foi muito dissimulado e disse a Isaque que Deus havia lhe mandado a caça ao seu encontro (Gênesis 27:18-21).
A forma como Jacó tomou o nome de Deus em vão apenas como um recurso para enganar seu velho pai, mostra o quão distante ele estava do Senhor. Inclusive, ele considera o Senhor simplesmente como o Deus de seu pai. O livro de Gênesis mostra que somente mais tarde Jacó teve, de fato, um encontro com o Senhor (cf. Gênesis 28:13-22; 33:20).
Ainda desconfiado, Isaque pediu que Jacó se aproximasse para que ele pudesse tocá-lo. Ao tocá-lo, Isaque disse: “A voz é de Jacó, porém as mãos são de Esaú” (Gênesis 27:22). Confuso, Isaque não conseguiu reconhecê-lo, e mais uma vez lhe perguntou se ele realmente era Esaú. Jacó sustentou o plano até o fim, e novamente afirmou ser Esaú.
Esse diálogo revela como Isaque estava agindo de forma patética ao querer se apoiar aos seus falhos sentidos naturais, ao invés de se atentar ao discernimento espiritual.
Depois, finalmente Isaque foi convencido e comeu a comida que Jacó lhe trouxe. Terminando a refeição, Isaque pediu que Jacó chegasse mais perto dele e o beijasse. O beijo fazia parte do ritual da bênção. Após o beijo, Isaque o abençoou (Gênesis 27:27).
O conteúdo da bênção dada a Jacó e sua descendência dizia respeito à fertilidade e domínio da terra; além de sua supremacia sobre povos e nações – incluindo os descendentes de seu irmão (Gênesis 27:27-29). Jacó terminou a benção dizendo: “Maldito seja o que te amaldiçoar, e abençoado o que te abençoar” (Gênesis 27:29).
Esaú descobre a trapaça de Jacó (Gênesis 27:30-37)
Gênesis 27 diz que logo após Isaque ter abençoado a Jacó, Esaú chegou trazendo sua caça. Sem saber de nada, Esaú preparou a comida para seu pai e lhe entregou, esperando que fosse abençoado.
Quando Esaú se apresentou diante de Isaque, o patriarca percebeu que tinha dado a benção ao filho mais novo. Esaú ficou revoltado e pediu que Isaque lhe abençoasse também. Mas Isaque lhe explicou que Jacó havia astuciosamente tomado para si a bênção, e que nada mais podia ser feito a respeito.
Indignado, Esaú declarou que com razão o nome de seu irmão mais novo era Jacó; fazendo uma referência à ideia de “enganador” ou “suplantador”. Esaú também alegou que Jacó já havia lhe enganado duas vezes. Ele disse: “Tirou-me o direito de primogenitura e agora usurpa a bênção que era minha” (Gênesis 27:36).
O direito de primogenitura e a bênção não eram exatamente a mesma coisa. Porém, nesse contexto, eles estavam intimamente interligados. Tanto o direito de primogenitura quanto a bênção, estavam diretamente relacionados à herança; e na família de Abraão a herança dizia respeito às promessas da aliança de Deus. Por isso o escritor de Hebreus chamou Esaú de profano por ter negociado o seu direito de primogenitura numa atitude de pura incredulidade e desprezo pelas promessas de Deus (Hebreus 12:16,17).
Esaú insiste em ser abençoado (Gênesis 27:38-40)
Esaú implorou que seu pai também lhe desse uma bênção. Mas Isaque mais uma vez lhe explicou que a benção que tinha sido dada a Jacó não podia ser revertida.
Todavia, diante da insistência de Esaú, Isaque lhe disse: “Longe dos lugares férteis da terra será a tua habitação, e sem orvalho que cai do alto. Viverás da tua espada e servirás a teu irmão; quando, porém, te libertares, sacudirás o seu jugo da cerviz” (Gênesis 27:40).
O contraste é muito claro entre as palavras pronunciadas sobre Jacó e sobre Esaú. Jacó recebeu uma bênção que prenunciava o privilégio de sua descendência que haveria de ocupar uma terra fértil e exuberante; e que dominaria sobre as nações e seria senhor de seu irmão. Já Esaú escutou que sua descendência viveria longe dos lugares férteis da terra e haveria de servir a seu irmão.
Historicamente tudo isso foi cumprido. Os israelitas tomaram a Terra Prometida, enquanto os edomitas, descendentes de Esaú, habitaram a região árida e de terras infrutíferas ao sul do Mar Morto. Isso também explica a freqüente tensão entre Israel e Edom no Antigo Testamento.
Também é interessante notar as palavras finais de Isaque a Esaú: “quando, porém, te libertares, sacudirás o seu jugo da tua cerviz” (Gênesis 27:40). Algumas vezes os edomitas conseguiram se livrar da dominação israelita (cf. 2 Reis 8:20-22). Mais tarde, com a ruína de Edom, grande parte dos edomitas remanescentes acabou sendo assimilada pelos judeus. A dinastia de Herodes, o Grande, descendia de Esaú.
Aqui é inevitável a comparação entre as bênçãos pronunciadas por Isaque a Jacó e a Esaú e a profecia que precedeu o nascimento dos gêmeos. O oráculo falava sobre como os dois irmãos dariam origem a duas nações; e sobre como o irmão mais velho haveria de servir o irmão mais novo (Gênesis 25:23).
Isso significa que Isaque sabia que Deus tinha escolhido Jacó; mas ainda assim ele pretendia dar a bênção da aliança a Esaú. Contudo, o Deus soberano que governa a história garantiu que seu propósito fosse cumprido, a despeito da falta de visão espiritual de Isaque.
Esaú planeja matar Jacó (Gênesis 27:41-46)
Irado e se sentindo injustiçado, Esaú passou a odiar Jacó. O texto bíblico diz que ele aguardava apenas a morte de seu pai para poder matar a Jacó. Quando Rebeca soube que Esaú planejava matar Jacó, ela tratou de conseguir que ele fosse para a cidade de Harã, para ficar na casa de seu irmão Labão (Gênesis 27:43). Rebeca também garantiu a Jacó que quando o rancor de Esaú cessasse, ela lhe avisaria e lhe faria retornar.
Gênesis 27 termina com Rebeca falando de seu aborrecimento com as mulheres heteias das quais Esaú tinha tomado duas por esposa. Esse aborrecimento também serviu como um tipo de justificativa para Jacó ir à terra de seus familiares e não se casar com as filhas de Hete.