A Bíblia adverte que devemos provar os espíritos para saber se são de Deus. O apóstolo João escreve: “Amados não deis crédito a qualquer espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo” (1 João 4:1). Isso significa que o cristão tem o dever de analisar e julgar todas as coisas à luz da Palavra de Deus a fim de poder discernir o que de fato procede de Deus.
Mas por que a exortação: “provai se os espíritos são de Deus” é tão importante? O próprio apóstolo João explica dizendo que isso é necessário porque há muitos falsos profetas por aí.
A verdade é que desde o início da história da humanidade há quem tente falar falsamente em nome de Deus. No Éden, por exemplo, Satanás enganou Eva com uma interpretação falsa a respeito da ordem que Deus havia dado ao homem (Gênesis 3). E esse padrão de distorcer, adulterar, falsificar e falar contra à Palavra de Deus se repete desde então.
A própria história bíblica mostra de forma muito clara por meio de vários exemplos, tais como: Balaão, os profetas favoráveis a Acabe, os contemporâneos do profeta Jeremias, a profetiza Jezabel da igreja de Tiatira etc. Então independentemente da época e lugar, sempre há falsos profetas dispostos a semear o engano. Na verdade cada geração tem sua porção de falsos profetas. Portanto, “provai se os espíritos são de Deus” é um conselho essencial a todo cristão.
Provai se os espíritos são de Deus
Quando João escreveu: “não deis crédito a qualquer espírito, mas provai se os espíritos são de Deus”, ele estava combatendo falsos mestres que se dedicavam a corromper a Igreja distorcendo os verdadeiros ensinos da Escritura.
Influenciados pela filosofia grega, esses falsos mestres alegavam ter um conhecimento superior que lhes revelava uma verdade que não estava disponível a todos. Segundo eles, apenas os “iniciados” nas coisas profundas é que tinham o verdadeiro conhecimento que superava a Escritura. O movimento promovido por esses falsos mestres ficou conhecido como “gnosticismo”. Entre outras coisas, o gnosticismo negava a humanidade de Cristo.
Então o apóstolo João se dedicou a combater esses falsos mestres e seus ensinos, classificando-os, inclusive, como anticristos. E nesse contexto João adverte seus leitores a não dar crédito a qualquer espírito. Se por um lado o Espírito Santo testifica na vida dos genuinamente salvos (1 João 3:24), por outro lado há outros espíritos atuantes por aí. Esses espíritos malignos têm sua fonte de engano no próprio Satanás, que é mentiroso desde o princípio.
À luz dessa realidade, João ensina: “provai se os espíritos são de Deus”. A palavra “provai” traduz um termo grego que era empregado na metalurgia para indicar o teste que determinava a pureza dos metais. Então de forma prática, João ensina que os crentes devem submeter à prova qualquer ensino. Paradoxalmente, de certo modo todo crente deve ser um cético para não cair no engano de qualquer um que advogue ter algo a dizer da parte de Deus.
Também é interessante a forma como João primeiro diz: “provai se os espíritos são de Deus”, e na sequência completa: “porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo”. Isso significa que são os espíritos demoníacos que impulsionam os falsos profetas que estão espalhados por aí. Ao contrário do Espírito de Deus que é o Espírito da Verdade, esses espíritos são do erro e da mentira.
A importância de provar os espíritos
A importância de provar se os espíritos são de Deus é muito bem definida em várias passagens bíblicas. O livro de Neemias, por exemplo, registra o episódio em que Sambalate e Tobias subornaram falsos profetas para induzir Neemias ao erro (Neemias 6:10-14).
Outro exemplo, agora no Novo Testamento, é aquele em que o apóstolo Paulo visitou a cidade de Filipos e encontrou uma jovem que tinha um espírito de adivinhação. Inclusive, esse exemplo é interessante porque indica que os espíritos enganadores são tão astutos que às vezes usam da verdade para tentarem dar valor à mentira.
A Bíblia diz que a jovem adivinha seguia Paulo dizendo: “Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo” (Atos 16:17). Isso de fato era verdade, mas ainda assim Paulo repreendeu o espírito daquela jovem em nome do Senhor Jesus Cristo.
Aquela jovem era famosa na cidade e tinha dado muito lucro aos seus senhores com suas adivinhações. Se Paulo não não tivesse repreendido o espírito que operava nela, ele fatalmente teria validado a atividade daquele espírito enganador; o que certamente traria problemas para a pureza do Evangelho ali. Então provar se os espíritos são de Deus é algo essencial.
Como provar os espíritos?
Obviamente nós não podemos ver os espíritos. Contudo, nós podemos ouvir e compreender os ensinamentos e os conselhos desses espíritos. Nesse sentido, quando João diz: “provai se os espíritos são de Deus”, ele está dizendo que os crentes devem testar os ensinamentos para que possam determinar se, de fato, são uma expressão do verdadeiro Espírito de Deus, ou se são falsos ensinamentos que expressam os princípios do diabo que age nos falsos profetas.
Voltando ao exemplo de Neemias podemos entender de forma clara e objetiva como isso pode ser possível. Neemias analisou o conselho que lhe foi dado para fugir para o meio do templo à luz da Palavra de Deus. Primeiro, havia sido o próprio Deus que designou Neemias para a obra de reconstrução dos muros de Jerusalém. Segundo, a Palavra de Deus não deixava qualquer dúvida de que apenas os sacerdotes tinham o direito de entrar no templo.
Então analisando tudo isso, Neemias concluiu: “E eis que conheci que não era Deus quem o enviara; mas essa profecia falou contra mim, porquanto Tobias e Sambalate o subornaram” (Neemias 6:11).
Portanto, qualquer ensinamento ou palavra deve ser submetido à prova sob o prumo da Escritura. Tudo deve ser medido à luz da Palavra de Deus. Aqui devemos aprender com os crentes de Bereia. Eles estudavam a Palavra de Deus e examinavam tudo com base nela, para poderem distinguir a verdade do erro. Portanto, compromissados com a Escritura os crentes podem cumprir a exortação bíblica: “provai se os espíritos são de Deus”.