Jesus Homem: Como Entender a Natureza Humana de Cristo?

A doutrina da humanidade de Jesus é um dos fundamentos da fé cristã, pois a Bíblia testifica claramente acerca do Jesus Cristo homem, assim como também testifica acerca de sua divindade. As Escrituras nos revelam Jesus sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Essa questão geralmente é chamada de Doutrina da União Hipostática. Essa doutrina trata da união perfeita e inconfundível entre a natureza humana e a natureza divina na única pessoa de Cristo, ou seja, o Unigênito Filho de Deus se tornou plenamente humano sem abrir mão de nenhum de seus atributos ou de sua natureza divina, num processo de auto-esvaziamento (Filipenses 2:7).

A duas naturezas de Jesus: A humanidade e a divindade de Cristo

Jesus é uma só pessoa que possui duas naturezas: a natureza humana e a natureza divina. Realmente nós não temos a capacidade de entender completamente tudo o que envolve as duas naturezas de Jesus Cristo. Por isso, costumamos a se referir a essa questão como “o grande mistério da Encarnação”.

Existem verdades que a Bíblia afirma e explica, enquanto outras ela apenas afirma e não explica, até porque mesmo se ela explicasse não compreenderíamos. A doutrina acerca das duas naturezas de Jesus, e como essas naturezas se relacionam, certamente é uma dessas verdades. Em casos assim, cabe a nós apenas aceitar tal verdade pela fé.

Para falarmos sobre a humanidade de Jesus, primeiramente precisamos aceitar sua plena divindade. Na Bíblia existem inúmeras referências que provam que Jesus é Deus, o Filho Unigênito do Pai, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade (Salmo 110:1; Isaías 7:14; 9:6; Malaquias 3:1; Mateus 1:23; 16:16; Marcos 1:1,2; Lucas 1:76; João 1:1-14; 10:30; 20:28; Atos 7:59; 1 João 5:20; etc.).

Jesus é verdadeiro homem

Se a Bíblia afirma explicitamente a divindade de Jesus, da mesma forma ela também afirma sua humanidade. Esse ensinamento bíblico acerca do Jesus homem, pode ser facilmente percebido nos textos que falam acerca de seu nascimento (Lucas 2:1-5), crescimento e aprendizado (Lucas 2:49-52), e todas as outras atividades comuns aos homens, como: sentir fome (Mateus 4:2), sede (João 19:28), cansaço (João 4:6), chorar (João 11:35,38), e, inclusive, sofrer (Marcos 14:32-42; Lucas 12:50) e morrer (Mateus 27:46; Marcos 15:34).

Por ser verdadeiramente humano, Jesus também podia ser tentado, assim como nós, porém, diferentemente de nós, Ele sempre venceu as tentações e nunca pecou (Mateus 4:1-11; Hebreus 4:15).

Como as duas naturezas de Jesus se relacionam?

O maior desafio em entender o ensino bíblico acerca das duas naturezas de Jesus, se concentra no mistério de como essas duas naturezas se relacionam. Por exemplo: sendo plenamente humano, Jesus demonstrou desconhecimentos de certos fatos durante seu ministério terreno (Marcos 13:32; Lucas 8:45-47), enquanto que sendo plenamente Deus, Ele também demonstrou possuir os atributos divinos, como a onisciência (João 1:48; 16:30; 21:17).

De acordo com exemplo a cima, podemos corretamente afirmar que algumas características e atitudes de Jesus podem ser atribuídas à sua natureza humana; enquanto outras à sua natureza divina. No entanto, isso não significa, de forma alguma, que Jesus alternava essas duas naturezas, ou seja, agindo em alguns momentos como homem, e em outros como Deus.

A verdadeira doutrina bíblica aponta para o fato de que Ele sempre agiu na unidade de sua pessoa divina-humana, visto que não se tratam de duas pessoas, mas de uma única pessoa com duas naturezas distintas e inseparáveis. Logo, em todo seu sofrimento e dificuldade, mesmo na terrível agonia no Calvário e sua consequente morte, ali estava o Jesus plenamente Deus e plenamente homem, redimindo o seu povo.

É claro que esse conceito é extremamente difícil de se entender, pois implica na condição de que, ao mesmo tempo em que Jesus, em sua humanidade, experimentava fraquezas comuns aos homens, em sua divindade Ele permanecia onipotente.

Para nós é impossível compreender esse conceito, e isso não significa que seja uma contradição, mas um paradoxo que nos leva a reconhecer que a encarnação do Verbo é, de fato, um mistério.

As heresias acerca das duas naturezas de Jesus

Ao longo dos anos, durante a história da Igreja Cristã, surgiram várias heresias acerca das duas naturezas de Jesus Cristo. Todas elas têm em comum atacar, de alguma forma, ou sua natureza humana ou sua natureza divina, ou ambas.

O Monarquismo Dinâmico e o Arianismo são exemplos de heresias que atacam a divindade de Cristo. O primeiro afirma que Jesus não era divino, mas simplesmente um homem que recebeu um poder especial de Deus quando foi batizado por João Batista. Já o segundo defende que o Filho de Deus nada mais era do que uma criatura do próprio Deus. A Igreja combateu essas heresias especialmente nos Concílios de Niceia (325 d.C.) e Constantinopla (381 d.C.).

Por outro lado, desde o primeiro século também surgiram doutrinas que atacavam, além da natureza divina, também a natureza humana de Jesus. O exemplo mais significativo é o do Docetismo, que ensinava que Jesus apenas parecia ser humano, mas era, na verdade, um tipo de espírito. Daí vem o nome desse falso ensino, “Docetismo”, do grego dokeo, que significa “parecer”.

O apóstolo João foi um dos que mais combateu heresias desse tipo, tanto em seu Evangelho como em suas epístolas. Em João 1:1, lemos uma clara declaração da divindade de Cristo, “[…] e o Verbo era Deus […]”, enquanto que no mesmo capítulo, no versículo 14, lemos também uma afirmação explicita da humanidade perfeita de Jesus: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós […]”.

Em sua primeira epístola, o mesmo apóstolo alertou sobre os falsos profetas que, no espírito do anticristo, negavam que Jesus Cristo veio em carne (1 João 4:1-3). Mais tarde, o apóstolo João também repetiu esse mesmo alerta, com a mesma severidade na condenação, afirmando que quem não confessa que “Jesus Cristo veio em carne”, este tal “é o enganador e o anticristo” (2 João 7).

Por fim, há também outras doutrinas heréticas que acabaram distorcendo o ensino bíblico acerca das duas naturezas de Jesus, como por exemplo:

  • Doutrina Nestoriana: afirmava que Jesus possuía, além de duas naturezas, também duas pessoas, divina e humana, que se encontravam em um só corpo.
  • Doutrina Eutiquiana: afirmava que Jesus possuía apenas uma única natureza, entendendo que a sua divindade havia absorvido sua humanidade.

A Igreja Cristã rejeitou esses dois erros especialmente no Concílio de Calcedônia em 451 d.C., onde foi afirmado que Jesus Cristo é uma só pessoa, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, que possui duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e indivisíveis, nas quais permanecem intactos, em cada uma delas, seus próprios atributos.

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Jesus homem: a importância da humanidade de Jesus

Apesar de ser um mistério, a Bíblia definitivamente afirma que Jesus é plenamente Deus e plenamente homem. Enquanto enfatizamos, corretamente, a divindade de Cristo, às vezes é comum cairmos no erro de minimizar sua humanidade.

Todavia, reconhecer a perfeita humanidade de Jesus é essencial para a fé cristã, de modo que se negarmos a humanidade de Jesus também estaremos negando a salvação provida por sua obra redentora na cruz.

O escritor da Epístola aos Hebreus tratou desse assunto de forma bastante detalhada, enfatizando, inclusive, que a realidade da humanidade de Cristo é fundamental na realidade da nossa salvação (Hebreus 2:14,15).

A verdade acerca da humanidade de Jesus também nos faz entender o cumprimento de algumas promessas fundamentais, como por exemplo, a promessa feita pelo próprio Deus após a Queda do homem. Em Gênesis 3:15 lemos que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente, e essa promessa encontra seu cumprimento na pessoa de Jesus Cristo, plenamente Deus e plenamente homem.

Assim, a doutrina acerca da humanidade de Cristo é fundamental para nossa fé e significa um grande conforto para nós, pois em Cristo, sendo plenamente homem, temos a garantia de que Ele pode nos auxiliar em nossas aflições e sofrimentos, e interceder por nós diante do Pai (Hebreus 2:17,18; 4:15,16; 5:2-9; 7:25).

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