A revelação de Deus é a forma pela qual Ele se deixa conhecer. Em outras palavras, Deus resolveu permitir que os homens tivessem conhecimento de Sua existência, do Seu caráter e de Sua vontade através de sua auto-revelação.
Revelar significa “desvelar o que está encoberto”. Então uma revelação é um ato de “deixar-se ver”, de “manifestar-se”, de “descobrir-se”, de “tornar claro ou exposto o que está oculto”. Portanto, a revelação de Deus é a Sua auto-manifestação aos homens num nível em que o conhecimento sobre Ele se torna possível. R. C. Sproul explica que nós não podemos contemplar Deus com os nossos olhos, mas podemos conhecê-lo por meio da revelação, pois Ele removeu o véu que O ocultava de nós.
É importante entender corretamente o conceito da revelação de Deus para que se tenha em mente que essa revelação parte d’Ele para nós, e não o contrário. Em outras palavras, Ele é quem se revela, e não nós que O descobrimos.
Louis Berkhof diz que ao longo do tempo tornou-se comum falar do descobrimento de Deus feito pelo homem, como se o homem alguma vez O tivesse descoberto. Em qualquer estudo científico o homem se coloca acima do objeto de sua investigação, e ativamente extrai dele o seu conhecimento pelo método que lhe pareça mais apropriado.
Mas quando se trata do conhecimento de Deus, esse tipo de abordagem não se sustenta. O conhecimento de Deus não é fruto de um ensaio em laboratório cujo objeto de pesquisa é o próprio Deus. Na verdade se temos conhecimento de Deus é porque Ele próprio nos deu esse conhecimento, ou seja, Deus transmite conhecimento de si próprio ao homem.
Por isso falamos em “revelação de Deus”, pois sem a revelação jamais seriamos capazes de obter qualquer conhecimento de Deus. Berkhof ainda completa dizendo que mesmo depois de Deus ter-se revelado objetivamente ao homem, não é a razão humana que descobre Deus, mas é Deus que se descerra aos olhos da fé.
Qual é a importância da revelação de Deus?
A importância da revelação de Deus é praticamente imensurável. R. C. Sproul lembra que a Bíblia afirma que Deus é a fonte de toda a verdade. Então não somente a verdade religiosa, mas toda verdade é dependente da obra da revelação de Deus. Portanto, podemos concluir que a importância da revelação de Deus é absoluta. Em outras palavras, é inconcebível imaginar nossa vida neste mundo sem a revelação de Deus.
Agostinho de Hipona foi um dos grandes estudiosos da história da Igreja que refletiu sobre essa questão. Ele argumentou que na condição de criaturas, não poderíamos saber coisa alguma se Deus não tivesse tornado o conhecimento possível para nós.
Agostinho exemplificou essa questão usando a figura da luz física. Se uma coleção de objetos bonitos estivesse numa sala escura, nem mesmo uma pessoa com a visão perfeita poderia observar a beleza dos objetos. Embora a pessoa tivesse a capacidade necessária para enxergar os objetos, a menos que houvesse luz na sala, sua observação seria impossível. Portanto, conclui Agostinho, a luz da revelação divina é indispensável para que saibamos qualquer verdade.
Os tipos de revelação de Deus
A Bíblia fala da revelação de Deus em dois tipos que a teologia chama de “revelação geral” e “revelação especial”.
A revelação geral é o conhecimento que Deus dá de si mesmo a todas as pessoas, de todos os lugares e de todas as épocas. Isso ocorre através da natureza, da consciência humana e do governo providencial do mundo criado. Esse tipo de revelação não é específico, ou seja, seu conteúdo é geral e não traz detalhes sobre a vontade de Deus e Sua obra na história da redenção.
Já a revelação especial é o tipo de revelação de Deus que hoje está disponível nas Escrituras. A revelação especial fornece de forma clara e objetiva todos os detalhes que Deus quis que soubéssemos sobre o Seu propósito, Sua obra e Sua vontade.
O processo da revelação especial de Deus foi longo e progressivo. O escritor de Hebreus explica que no decorrer do tempo, Deus se manifestou para certas pessoas muitas vezes e de muitas maneiras (Hebreus 1:1).
Conforme a inspiração e a orientação do Espírito Santo, esses episódios em que Deus se revelou de forma especial foram registrados e preservados nas Escrituras – para que hoje pudéssemos ter acesso a essa revelação especial.
Além disso, a revelação especial alcançou sua maior expressão e completude na encarnação de Cristo. Isso quer dizer que Deus não se revela mais como se revelou em outros estágios da história da redenção, porque uma vez que Cristo veio – sendo Ele o resplendor da glória e a expressão exata do ser de Deus – a revelação de Deus para nós está completa (Hebreus 1:1-3).